Os eleitores em Moçambique vão às urnas numa eleição em que é quase certo que o partido do governo, Frelimo, mantenha o seu controlo de meio século no poder, apesar do duro desafio de um recém-chegado carismático.
Perto de 17 milhões de eleitores no país da África Austral de 31 milhões de habitantes estão registados para votar na quarta-feira para o próximo presidente, juntamente com 250 membros do parlamento e das assembleias provinciais.
O Presidente Filipe Nyusi, do partido Frelimo, deixa o cargo após dois mandatos e espera-se que o candidato do partido, Daniel Chapo, o substitua. A Frelimo governa Moçambique desde a independência de Portugal em 1975.
Desta vez, o candidato independente Venâncio Mondlane conquistou o apoio da juventude desencantada e representa a maior ameaça à Frelimo em anos, dizem analistas políticos.
Ele também representa um desafio para o partido oficial da oposição, a Renamo, que era anteriormente um movimento rebelde que travava uma guerra de décadas contra o governo.
Quem quer que ganhe enfrentará a insegurança no Norte, que interrompeu projectos multibilionários de gás e deslocou centenas de milhares de pessoas.
Principais questões a serem abordadas pelos líderes
Moçambique tem lutado contra um grupo afiliado ao EIIL que lançou ataques a comunidades na província de Cabo Delgado, no norte, desde 2017.
Aproximadamente 600 mil dos 1,3 milhões de pessoas que fugiram já regressaram a casa, muitas delas para comunidades devastadas onde casas, mercados, igrejas, escolas e instalações de saúde foram destruídas, afirmou a ONU no início deste ano.
Os candidatos prometeram abordar questões de desenvolvimento exacerbadas pela insegurança, incluindo a suspensão de um projecto crucial de gás da empresa energética francesa TotalEnergies no norte de Moçambique, como resultado das actividades dos grupos armados naquele país.
“Estas áreas onde há terrorismo são um ataque a todos os moçambicanos”, disse Chapo num comício de apoiantes em Maputo no domingo, comprometendo-se a defender a “paz, soberania e integridade territorial” de Moçambique.
Moçambique também enfrenta elevados níveis de desemprego e fome, agravados pela grave seca induzida pelo El Niño. De acordo com o Programa Alimentar Mundial da ONU, 1,3 milhões de pessoas enfrentam grave escassez de alimentos.
Além disso, o país de 35 milhões de habitantes está a sair de uma crise económica causada em parte por um escândalo de dívidas ocultas, no qual o antigo ministro das Finanças Manuel Chang foi preso no início deste ano por aceitar pagamentos para obter garantias secretas de empréstimos para empresas pesqueiras controladas pelo governo.
Os empréstimos foram saqueados e Moçambique acabou com 2 mil milhões de dólares em “dívida oculta”, estimulando uma crise financeira quando o Fundo Monetário Internacional (FMI) suspendeu o apoio financeiro.
Os líderes comprometeram-se a abordar as questões financeiras nas suas mensagens de campanha.
O FMI afirmou em Julho que Moçambique precisava de gerir melhor o seu orçamento para criar espaço para despesas sociais, dados os elevados níveis de dívida.
As eleições locais realizadas em Moçambique há um ano foram marcadas por alegações de fraude e fraude eleitoral, provocando protestos violentos na capital, Maputo, e nas áreas circundantes.
Se os resultados da próxima votação forem contestados, activistas e analistas esperam protestos, que no passado foram violentamente reprimidos.
“Sabemos que, no final, o status quo permanecerá”, disse Adriano Nuvunga, diretor do Centro local para a Democracia e os Direitos Humanos, à agência de notícias Reuters.
Ele disse que a campanha de Mondlane estava a criar entusiasmo e a aumentar o risco de agitação pós-eleitoral.
Os resultados oficiais serão anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral após 15 dias e posteriormente validados pelo Conselho Constitucional. Qualquer parte pode apresentar objeções ao conselho, que decidirá se elas têm mérito.