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Miranda Sarmento, o “relógio suíço” de Montenegro – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 20, 2024

Não que Miranda Sarmento, de quando em vez, não faça questão de lembrar que já leva uns aninhos disto — foi assessor económico de Cavaco Silva entre 2012 e 2016, trabalhou dez anos no Ministério das Finanças e foi consultor da Unidade Técnica de Apoio Orçamental. Ainda recentemente, em entrevista a José Gomes Ferreira, na SIC, recordou que analisa Orçamentos “há mais de 25 anos” para afastar dúvidas quanto à solidez das suas propostas e previsões — que têm sido particularmente contestadas pela oposição e pelo Banco de Portugal, onde se senta Mário Centeno.

Internamente, no entanto, ninguém deixa cair Miranda Sarmento. Se havia dúvidas no interior do Governo sobre quem mandava nesse departamento — e havia uma ligeira e assumida desconfiança sobre a sua capacidade de ter uma voz assertiva na determinação das políticas do Governo e na defesa das ‘contas certas’ –, ficaram rapidamente desfeitas. “A perceção que havia antes de que seria uma pessoa apagada, sem pulso, desapareceu rapidamente. Foi surpreendente a forma como agarrou aquilo”, assume um elemento do Governo.

A conjuntura muito particular em que se encontra a equipa de Luís Montenegro tem, naturalmente, um reverso da medalha. Ninguém ignora que este Orçamento do Estado não é feito à imagem e semelhança de Miranda Sarmento e que isso o obriga a engolir alguns sapos. O académico que fazia do choque fiscal (sobretudo para as empresas) a pedra de toque da sua estratégia para a economia e que questionava abertamente os aumentos do salário mínimo então decretados por António Costa, viu-se a agora a recuar no primeiro aspeto e a ultrapassar o PS pela esquerda no segundo.

É o preço a pagar por fazer parte de um Governo pensado para aguentar no máximo dois anos de combate político antes de ir de novo a votos, aumentando a popularidade entre todos (funcionários públicos, pensionistas, mais jovens, setores profissionais em luta) enquanto tenta manter contas públicas saudáveis e um crescimento económico que se veja — Miranda Sarmento sempre criticou a falta de ambição dos governos de António Costa e o seu último livro, Crónicas de um País Estagnado, apresentando com pompa e circunstância por Cavaco Silva, é uma cartilha pesada para quem tem agora de lidar com o país real.

Ainda assim, e olhando apenas para o que conseguiu em apenas sete meses, os pares não lhe poupam elogios. “Tem dado provas de solidez e de preparação acima de todas as expectativas”, sintetiza um colega do Conselho de Ministros. De resto, o reconhecimento da competência de Miranda Sarmento é partilhado por todos os membros do Governo com quem o Observador conversou, e deve-se, além da questão conjuntural, ao mérito pessoal.

Muito antes de fechar o Orçamento à mesa do Conselho de Ministros, Miranda Sarmento negociou com todos os ministros e respetivas equipas para perceber o que poderia ou não ser feito. As arestas foram quase todas limadas muito antes da última reunião. “Sempre com muita racionalidade, pedagogia e, claro, cobertura total do primeiro-ministro”, anota outro elemento do Governo. Para o processo na especialidade, já estão previstas mais reuniões entre as Finanças e as equipas dos vários Ministérios.

“É tudo extremamente organizado“, concede outro. Prova disso é que, ao invés das habituais maratonas negociais para fechar o Orçamento em Conselho de Ministros, com discussões intermináveis e prolongadas no tempo, o documento foi discutido e fechado pelos elementos do Governo numa reunião de um par de horas. Dois elementos que integraram outros governos de direita e que estão agora neste não têm grandes dúvidas: a capacidade de trabalho e de organização de Sarmento não têm paralelo com outros ministros.





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