Confiante, de mãos à frente enquanto ouvia do lado direito o discurso de Frederico Varandas no auditório Artur Agostinho, a dobrar com todo o cuidado a camisola que lhe foi oferecida pelo presidente do Sporting com 2026 e o nome nas costas. Em dois anos, Rui Borges apanhou um elevador nas competições nacionais que chegou agora ao andar que mais ambicionava: um “grande”. Assinou pelo Mafra depois de abandonar o Vilafranquense por divergências com a SAD em relação à segunda metade da temporada de 2022/23, fez um trabalho que lhe abriu as portas da Primeira Liga via Moreirense, liderou a equipa sensação de 2023/24 para chegar ao V. Guimarães, levou pela primeira vez um conjunto nacional à fase de grupos da Liga Conferência, garantiu a passagem à fase seguinte apenas atrás do Chelsea. Agora, segue-se o conjunto de Alvalade.
Muito sereno nas mensagens passadas e a conseguir fugir esboçando um sorriso a todas as perguntas que tivessem potencial de resposta mais complicada, o novo técnico dos leões fez imperar sempre o “copo meio cheio” deixando por mais do que uma vez a descrição daquilo que é enquanto líder de uma equipa: alguém que sabe ouvir, tenta perceber e quer falar para, conhecendo aquilo que cada um prefere, estabelecer linhas gerais de orientação que consigam potenciar o melhor em termos individuais em prol do coletivo, alheio a sistemas táticos ou ideias pré-concebidas de jogo. Antes, Rui Borges não deixou de agradecer aos antigos clubes, em especial ao V. Guimarães que lhe serviu de “trampolim” para o comando do campeão.
“Quero agradecer ao presidente pelas suas palavras, pela confiança e também pela coragem de olhar para nós como uma equipa técnica capaz de liderar o Sporting. Deixa-nos muito orgulhosos e felizes. Queria deixar uma palavra de enorme apreço e um obrigado do tamanho do mundo a toda a gente do V. Guimarães. Não me poderei esquecer de tudo o que fizeram, por terem acreditado em nós. Ao presidente, à estrutura, a toda a gente, da rouparia à cantina. Todos foram importantes no nosso trajeto, para o sonho de podermos chegar aqui. Obrigado também aos adeptos pelo carinho demonstrado”, começou por referir o novo técnico da formação verde e branca, que traz consigo Tiago Aguiar, Ricardo Chaves (adjuntos), Fernando Morato (preparador físico) e José Meireles (analista), que se juntam a Luís Neto (adjunto), Tiago Ferreira e Hugo Tecelão (treinadores de guarda-redes), Gonçalo Álvaro e Pedro Cardoso (preparadores físicos).
“Estou muito feliz, muito orgulhoso e muito honrado. Todos nós, eu e a minha equipa técnica que me acompanha desde sempre. Não tenho muitas palavras para descrever o que tenho sentido nos últimos dias. Foram dias intensos, felizes. Resta-me só dizer que estou muito feliz, muito ansioso para trabalhar, para conseguirmos ser o que temos sido até aqui. O trabalho tem-nos feito crescer enquanto equipa técnica. Com uma confiança enorme de podermos ser felizes aqui no Sporting, não tenho dúvidas disso. Que o futuro seja risonho. Não sou muito de falar, sou muito sincero, honesto e puro. Acima de tudo, estou muito honrado por poder representar este grande clube”, rematou na declaração inicial perante um auditório Artur Agostinho com jornalistas, os membros da equipa técnica e a restante administração da SAD leonina.
“Não olho para o momento como um momento delicado. O clube está em todas as frentes. Não sei qual é o momento delicado, para mim enquanto treinador não há. Estou muito feliz por representar o campeão nacional. É um sonho para todos nós. Trabalhámos para isso. Agora queremos é continuar a trabalhar, foi isso que nos trouxe até aqui. Nunca fugir do que nos guia. É o respeito, a honestidade. Aquilo que prometo é trabalho e acredito que, com a nossa capacidade e a dos jogadores, porque, sem eles, não somos treinadores, vamos fazê-los acreditar no meu discurso e ser felizes no Sporting”, começou por referir na fase de perguntas e respostas, falando pela primeira vez no ponto chave para o sucesso: comunicação com jogadores.
O momento para mim é o certo, é sempre o certo. Sou muito positivo, acredito que as coisas acontecem quando têm de acontecer. É uma oportunidade para a qual todos trabalhámos. Sou líder do campeão e não podia estar mais feliz. Falar de sistemas é muito subjetivo. Se olharem para as nossas equipas, o sistema tem muitas mutações, dinâmicas diferentes. É uma estrutura num momento inicial que depois dá aso a muitas coisas. Não deixarei de ser o Rui Borges.”
“O que esperar do próximo ciclo? Grandes jogos, é isso que queremos. Vou continuar com o meu discurso. Olho sempre para o próximo adversário da forma mais séria possível. Em relação ao presente envenenado, não faz sentido nenhum. É o momento certo, o momento era este. Estou feliz, o Sporting está em todas as frentes. A nossa ambição é a de conseguirmos acrescentar valores e troféus ao Sporting. É o que queremos enquanto clube, assim como os jogadores e os adeptos. É o melhor presente de Natal que poderia ter tido. Sistema tático? Se olharem para o Vitória, construímos muitas vezes a três também. Pode não ser com os centrais mas é com médios, laterais… É importante os jogadores acreditarem na nossa ideia. Gosto de ouvir, aprendo muito com os jogadores. Preciso muito deles. Costumo dizer que enquanto treinador dou 15% do que o jogo dá, os outros 85% é dentro do jogo, das tomadas de decisão dos jogadores e da qualidade coletiva. É fazê-los acreditar nos meus 15%. Se acreditarem, vamos ter muito sucesso e ganhar muitos jogos, fazendo crescer a história deste grande clube”, apontou o técnico que fará a estreia no domingo frente ao Benfica.
“Reforços? “Olho para o plantel e é o melhor… Nem é o momento para estar a falar em contratações. Estou feliz com os que estão disponíveis. Vamos ser competentes com quem temos, competitivos. É isso que queremos, que nos guia e é o que nos identifica enquanto equipa técnica. Estou feliz com o plantel, que para mim é o melhor. Em relação ao que o presidente pediu, pede-se vitórias. E é para isso que estamos aqui. Para lutar, dar o nosso melhor. É isso que nos exigem e que vou pedir aos jogadores. Quando faltar inspiração, que não falte atitude. Às vezes vamos ganhar com mais qualidade, outras nem tanto, mas se a atitude estiver lá, vamos ganhar. É esse o nosso foco principal”, salientou Rui Borges, que respondeu depois a uma pergunta mais específica sobre o facto de contar apenas com três médios incluindo já João Simões.
“Se forem atrás naquilo que é a minha forma de comunicar, a minha personalidade, vão perceber que digo que sou um treinador que arranja soluções. Não estou aqui para me lamentar. Se olharem para o meu caminho em todos os clubes, vamos perdendo muita gente, por lesões ou por vendas -, e nunca me ouviram queixar. Não há tempo para lamentar, há tempo para trabalhar e para nos agarrarmos a soluções porque há soluções, adaptações para tudo. Temos de ser capazes de lidar com alguns desvios no nosso trajeto para continuarmos a ser competentes, competitivos e ganhar muito. É isso que queremos todos”, reforçou.
Na senda do que fizera antes, também a apresentação mais modesta a nível de palavras por parte do líder do clube, Frederico Varandas (face ao que acontecera com João Pereira), passou ao lado. “Estou focado no momento, no presente e no futuro. Sou o líder mas todos temos responsabilidades enquanto equipa técnica e não sou ninguém sem os meus adjuntos. Concordo com o presidente: quem entrasse, fosse o João ou outro, iria ter aqui algum desconforto. Daquilo que observamos, poderia haver uma quebra emocional nítida. Não me posso alongar porque estava de fora. O Ruben passou, é um grande treinador que admiro imenso. Tem a sua liderança. A partir de hoje é a do Rui Borges. Não é comparável porque cada um tem a sua forma de ser, de estar, e lutará para ser feliz. Foco-me no que posso controlar e é isso que posso dar aos jogadores. Sem jogadores, não somos ninguém. O foco é o plantel e o dia a dia”, ressalvou o técnico.
“Mais parecido com Ruben Amorim ou João Pereira? É tudo diferente. O Ruben é o Ruben, o João é o João, o Rui Borges é o Rui Borges. Tenho um grande apreço e admiração pelo Ruben, identifico-me com ele, mas não sei como trabalha. Vou percebendo a forma de comunicar dele, que é excelente. Não tento imitar ninguém nem nunca irei fazê-lo. Sou mirandelense com muito orgulho e ali trabalha-se. Foi isso que me trouxe até aqui. Focar-me no meu trabalho e nunca duvidar dele, mesmo que as coisas não corram tão bem. Cada um é como é, acho que ninguém se deve comparar a ninguém. À minha maneira, penso que sou um bom líder, e assim continuarei a trabalhar”, salientou, antes de voltar a abordar a importância dos jogadores.
Não tenho dúvidas de que estamos todos num só caminho, para nos ajudarmos. As vitórias são de todos, não só minhas ou dos jogadores. Toda a gente que trabalha todos os dias na Academia é importante no seu papel, para que sejamos mais fortes e muito positivos, com energia. A confiança é absoluta. Gosto de perceber os jogadores, de entender os jogadores. Sou uma pessoa muito de sentimento, de ver, de sentir e de conversar. Conhecer as personalidades, onde os jogadores se sentem mais à vontade. Dentro de uma ideia, quero tirar o melhor rendimento de cada um. Aproveitamos sempre algo do passado. Ninguém sabe tudo aqui, aprendemos todos os dias e uns com os outros. O meu foco é nesse sentido: perceber algumas coisas em pouco tempo, nunca fugindo à nossa liderança e à equipa técnica de Rui Borges”, concluiu o treinador.