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A defesa de ficção teve um choque com a realidade (a crónica do Benfica-Feyenoord) – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 23, 2024

Uma vitória, duas vitórias, seis vitórias e a contar. Dificilmente Bruno Lage poderia pedir melhor entrada no regresso ao Benfica na sequência do despedimento de Roger Schmidt: a equipa interpretou da melhor forma a nova identidade de jogo, os jogadores passaram a atuar em posições que lhe são mais familiares para terem a possibilidade de potenciar as características em prol do coletivo, o setor defensivo ganhou outra coesão não só a nível de golos sofridos mas também de oportunidades (escassas) concedidas ao adversário, o ataque foi elevado ao patamar de mais de três golos por jogo. Entre todo esse percurso de redenção, a goleada ao Atl. Madrid na Liga dos Campeões, até pela forma como os colchoneros foram vulgarizados, ficou como marco da campanha dos encarnados. Parte positiva? O reconhecimento. Parte “negativa”? Maior responsabilidade.

“Traz maior responsabilidade e mais confiança, mas a responsabilidade vem do trabalho diário e o que fizemos nas duas semanas depois desse jogo foi um bom exemplo de como queremos preparar os jogos. Depois, além da confiança que vem das boas exibições, é a forma como passamos a mensagem aos jogadores e eles conseguem interpretar. Estão confiantes, seguros, vão para o campo cientes do que têm de fazer e nós, enquanto staff e treinadores, vamos com confiança também”, salientara o técnico no lançamento da terceira jornada da Liga milionária que poderia deixar o Benfica na liderança do grupo com nove pontos. De novo, a lógica do copo meio cheio e meio vazio: seria isso bom por praticamente carimbar a entrada no playoff para os oitavos ou abriria aspirações de lutar por um lugar entre os oito primeiros classificados?

“Não vou entrar nessa lengalenga… Temos de ir para o jogo com total ambição, conquistarmos os três pontos, ainda para mais num formato diferente. Há uma teoria dos pontos que são necessários mas queremos assegurar a prática. Seis pontos não garantem nada e agora queremos juntar mais três. Duas vitórias na Champions como na primeira passagem pelo clube? Não me vejo melhor ou pior treinador em função dos resultados. Ajudam mas a minha passagem por Inglaterra, fundamentalmente, deu-me outras experiências que não tinha. Esse é o princípio da aprendizagem: quantas mais experiências tivermos, mais aprendizagem ganhamos. Pela minha forma de trabalhar, aprendemos muito nas análises que fomos fazendo, quer dos adversários, mas fundamentalmente da nossa equipa”, destacou também o treinador, que fez questão de passar ao lado da goleada na pré-temporada ainda com Schmidt frente ao Feyenoord.

“Vai ser um desafio interessante. O importante é identificar os pontos fortes da equipa, a forma como atacam e pressionam. Preparamos sempre os jogos da mesma maneira: saber o que fizemos bem no jogo anterior, conhecer ao detalhe o adversário seguinte, propor uma estratégia, praticá-la e depois sentir a confiança dos jogadores. É isso que temos feito. Jogamos de forma mais ofensiva? A nossa forma de trabalhar é que importa, não é fazer comparações com o passado. É olhar para os jogadores e perceber que contributo podem dar em determinadas posições. Há vários exemplos de jogadores que fazem mais de uma função e é importante haver um entendimento da nossa parte sobre isso”, reforçou Bruno Lage.

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Numa versão bem mais calma em comparação com a que deixou na estreia frente ao Santa Clara, o técnico mantinha o discurso focado no treino, no trabalho, nos jogadores e na ideia coletiva passando ao lado de tudo o resto, das questões extra futebol ligadas ao Benfica ao trajeto ziguezagueante da equipa com Schmidt ainda no comando. Nada interessava a não ser seguir o “plano”. Problema? O plano foi fintado pelo Feyenoord, que secou as virtudes encarnadas do meio-campo para a frente ao mesmo tempo que expôs todos os defeitos que também existem sobretudo do meio-campo para trás. A defesa de ficção empurrou a equipa para um choque com a realidade mas, mais do que isso, a forma como os encarnados entraram num encontro que podia ser decisivo nas contas para garantir de forma quase automática o playoff foi o início do fim.

Ao contrário do que aconteceu por exemplo com o Atl. Madrid, que nos minutos iniciais já estava a agradecer a Jan Oblak não estar a perder naquilo que seria uma mera questão de tempo, o Feyenoord conseguiu anular aquilo que seria a expectável entrada a todo o gás do Benfica para ir equilibrando os momentos de jogo. Os encarnados tinham mais bola, os neerlandeses nunca deixavam de ter os olhos nas transições rápidas para explorar a velocidade dos corredores laterais, ninguém desfazia o encaixe tático que quem não tinha bola ia fazendo. Este não era jogo nem para verticalidade, nem para precipitações em zonas proibidas. Mais do que tudo, era um jogo de paciência. De paciência, de riscos calculados, de inteligência na perceção dos momentos. Na primeira vez que o Benfica falhou, os neerlandeses não perdoaram: na sequência de uma reposição de Trubin, Timber lançou Igor Paixão no espaço entre Bah e Tomás Araújo, brasileiro ficou em posição regular pela má definição da linha por Otamendi e Ayase Ueda desviou de primeira para o 1-0 (12′).

Foi um momento inesperado, foi um momento que intranquilizou o Benfica. Aktürkoglu ainda tentou dar o mote para uma reação, arriscando a meia distância para a primeira intervenção sem grande dificuldade para Wellenreuther mas com um movimento que encontrou o espaço que o Feyenoord foi conseguindo tirar sem bola com a junção das linhas em 20 metros quando a pressão mais alta era ultrapassada (14′), e Bah teve uma oportunidade flagrante com um desvio de cabeça ao poste após canto na direita de Di María (20′), mas nem em vantagem os neerlandeses deixaram de se manter fiéis aos princípios de jogo que trouxeram à Luz tendo Igor Paixão a ficar perto do golo num remate de fora após mais uma transição rápida que superou a primeira linha dos encarnados (16′) e Ueda a voltar a marcar na sequência de muita atrapalhação na defesa contrária depois de um canto num lance que seria anulado por falta sobre Otamendi no início da jogada (25′).

O Benfica estava em problemas. No plano ofensivo, a falta de espaços e a incapacidade de rodar rápido o centro de jogo entre corredores (o que quando aconteceu, fez diferença) não só impedia a criação de mais e melhores aproximações como “secava” as peças mais influentes que apoiavam Pavlidis; na parte defensiva, eram demasiados erros de posicionamento, coordenação e compensações num setor que parecia estar cada vez mais estabilizado. Mais uma vez, o Feyenoord soube aproveitar essas debilidades e chegou ao 2-0, num lance que começou com alguns jogadores encarnados a protestarem uma falta sobre Kökçü de Hwang antes de uma circulação sem esboço de pressão que terminou com Milambo a fazer o túnel a Otamendi antes de fuzilar com um remate rasteiro que passou por baixo das pernas de Trubin (33′). O cenário complicava-se.

Ainda houve um golo anulado a Pavlidis por fora de jogo de Aktürkoglu após uma desmarcação de rutura com passe fantástico de Di María (41′) e um livre lateral cobrado de forma direta pelo mesmo Di María que foi desviado com os punhos para canto pelo gigante Wellenreuther (44′) mas o Benfica necessitava e muito do intervalo para perceber o que se estava a passar e a forma como o Feyenoord tinha conseguido abafar quase todos os pontos positivos identitários da era Lage: jogo ofensivo pelos corredores laterais, batuta a partir do meio de Kökçü, criatividade de Di María e Aktürkoglu nas diagonais para o meio. Apesar dessa análise, o técnico encarnado apostou em corrigir o que tinha em vez de lançar logo novas unidades.

Não houve propriamente uma reação, percebeu-se pelo menos um esboço. Pavlidis teve uma oportunidade de ouro para reduzir distâncias e recolocar o Benfica de novo no marcador, aproveitando um lançamento de Di María quando o Feyenoord tinha ficado parado na frente para rematar forte e cruzado com pouco ângulo para grande defesa com os pés de Wellenreuther (52′), mas até aí o Feyenoord estabeleceu uma diferença: o susto não mexeu com a equipa, que foi mantendo o controlo do jogo e voltou mesmo a marcar antes de nova decisão do VAR, com Trauner a aproveitar um remate ao poste na sequência de um livre lateral para encostar na recarga para a baliza mas em posição irregular (57′). Lage percebia que estava na hora de mexer e chamou Beste e Amdouni, com essa imagem do avançado suíço a fazer cara de surpresa/incompreensão com o que via desenhado no papel antes de um dos adjuntos explicar o que era pretendido pelo técnico.

Ao abdicar de Florentino Luís e mais tarde de Kökçü (neste caso para o regresso à competição de Renato Sanches após lesão), Lage arriscou tudo sabendo que podia correr bem para almejar ainda os pontos ou mal a ponto de ver a derrota ser mais pesada. Arriscou e, logo a seguir, teve frutos: Pavlidis assistiu Beste para o remate forte na passada, a defesa de Wellenreuther foi para zona de recarga e Aktürkoglu fez o terceiro golo em três jogos na Champions (66′). Havia jogo até ao final, com as duas balizas sempre em xeque: Timber atirou com perigo ao lado (71′), Amdouni obrigou Wellenreuther a uma defesa fantástica para canto (74′), Aktürkoglu voltou a ameaçar o golo num remate forte que só faltou desviar mais do guarda-redes (75′), Igor Paixão quase foi feliz em nova meia distância (78′), Trubin defendeu um tiro de Hwang (85′). Último capítulo? Mais uma desatenção primária da defesa encarnada, que deixou Milambo sozinho à entrada da área para rematar de primeira após livre lateral para o 3-1 onde Trubin não ficou isento de culpas (90+2′).





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