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A esquerda vai contra o Estado – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 26, 2024

Raras vezes se discutiu no país uma polémica tão desonesta como a da operação policial na Rua do Benformoso. Uma polémica, é preciso dizê-lo, promovida e alimentada pelos intérpretes da esquerda, com métodos de ignição estalinistas friamente aplicados a partir de uma fotografia. Mostrava uma rusga, igual a todas as rusgas. De um lado os polícias, do outro uma série de homens com as mãos encostadas à parede para serem revistados.

A dra. Ana Gomes notou que os polícias estavam “armados como astronautas”. Aparentemente, os astronautas ameaçam a dra. Ana Gomes aparecendo-lhe armados até aos dentes no mundo em que ela vive. Miguel Coelho, que governa aquela freguesia, pediu a demissão da ministra da Administração Interna, acusou a polícia de racismo por ter agido “focada numa comunidade étnica”, e duvidou que a polícia fosse capaz de “fazer isto em Campo de Ourique, nas Avenidas Novas, ou no Lumiar”.

Miguel Coelho tinha há cinco meses promovido uma espécie de comício no Hotel Mundial a exigir mais polícia, para defender o bairro do “confronto diário” com “assaltos, pessoas a drogarem-se na rua”, “seringas no chão mesmo ao lado de uma creche”, “gangues, barulho à noite, indivíduos que quando alguém lhes faz algum reparo invadem os prédios e começam aos pontapés a casa das pessoas”, “um homicídio”, e “uma tentativa de violação”. Só um exercício de exibicionismo demagógico pode insinuar que a polícia devia fazer rusgas “em Campo de Ourique, nas Avenidas Novas, ou no Lumiar”, onde não se conhece uma descrição que se aproxime da que Miguel Coelho fez da Mouraria. A acusação de racismo assenta no preconceito que vai na cabeça dele.

A polícia leva as rusgas aos lugares onde tem indícios. E precisa de indícios mais fortes e concretos do que a descrição, ainda que inteiramente correcta, de um presidente de junta desesperado com o declínio do poder. A rusga foi feita em articulação entre a PSP e o Ministério Público, com mandados de busca e acompanhada por uma Procuradora da República. Os polícias fecharam a Rua do Benformoso e mandaram toda a gente encostar as mãos à parede. Se são todos homens, e se são todos da mesma etnia, é porque aquela rua é quase exclusivamente ocupada por aquela etnia. Mesmo assim, da operação resultaram dois detidos, ambos portugueses. Não se compreende a lógica do “racismo”.

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Mas compreende-se o passeio mental da esquerda, não porque faça sentido, mas porque o pensamento imprevisível e caótico é próprio das forças em decadência. Quando a retórica se perde na confusão de um novelo, dá saltos magníficos entre o clamor por “evidência estatística” e a rendição às motivações da política. A nossa querida esquerda parece uma carpa. De um momento para o outro, a “forma como foi feita” a rusga “cria uma percepção” contra aquela “comunidade étnica”. E essa “percepção” vai obviamente “fomentar o ódio”.

Não, não é a rusga nem a presença da polícia que “fomenta o ódio”; é a violência, as agressões, as violações, os homicídios, os roubos, e o tráfico de droga.

E o modo como a esquerda faz o aproveitamento político e a instrumentalização dos imigrantes também “fomenta o ódio”. Não se conhece um método mais eficaz. Em vez de prestigiar e reconhecer a autoridade da polícia, a esquerda aproveita todas as sombras para associar a polícia à repressão, exigindo que a polícia não cumpra o papel de polícia e, desta maneira, impedindo que seja reconhecida como autoridade. A esquerda evita a menção de máfias e bandos traficantes, forçando-nos a integrá-los na sopa turva das “comunidades étnicas”. A esquerda faz equivaler as acções da polícia às acções dos criminosos, questionando as motivações e processos de uns e outros no mesmo plano de legitimidade. Por fim, aponta a polícia como “racista” e “xenófoba”, portanto, ilegítima.

É preciso ter presente que uma busca obedece a procedimentos, isto é, a processos, modos, e acções pré-estabelecidos. A polícia não fecha uma rua e monta uma operação arbitrária; a maneira como a polícia opera está toda prevista na Lei. Recomendo aos nossos comentadores a excessiva maçada de estudar o assunto antes de o explicar, consultando, por exemplo, o Regime Jurídico das Armas e Munições (Lei 5/2006, de 23 de Fevereiro). Concretamente, o artigo 109º, “Reforço da Eficácia de Prevenção Criminal”, que é bastante completo. Começa por estabelecer o seguinte: “As forças de segurança devem planear e levar a efeito, periodicamente, operações especiais de prevenção criminal”. Em seguida, descreve a maneira como estas rusgas devem ocorrer: prevê “identificação de pessoas”, “revista de pessoas, viaturas e equipamentos”, “operações na via pública” e tudo o que a polícia fez na Rua do Benformoso.

Entre 2023 e 2024, houve ali 52 casos de agressão com arma branca. E a rusga deu frutos. Foi detido um homem com mandado de detenção por oito crimes de roubo. Foram encontradas armas brancas, dinheiro, drogas, e documentos, que dão substância à suspeita de falsificação e auxílio às máfias da imigração ilegal. No fundo, a realidade é o avesso do que descreve e acusa a esquerda. A rusga cria uma percepção de segurança. Mostra aos moradores daqueles bairros que eles são protegidos pelo Estado através da Polícia, em vez de ficarem abandonados à autoridade das máfias. Onde não manda o Estado, mandam os criminosos.





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