Além de ter três Grammy no currículo e de ser compositor dos próprios temas, é autor de canções de canções ficaram conhecidas nas vozes de outros artistas. Seguiu-se uma espécie de medley com Take a Bow (que fez para Rihanna) e Irreplaceable (Beyoncé). Quem não estava ali por Ne-Yo, sempre acabava por marcar pontos. Give me Everything encerrou a atuação com confetis e colorirem o palco de vermelho e branco às 19h01. O público deu-lhe tudo, pelo menos o que ele pediu, num concerto pré-formatado — sem improvisos nem interações além das ensaiadas — testado e eficaz.
As atenções dividiram-se depois por dois palcos. No Galp, Anselmo Ralph começou a cantar às 19 horas. Porém, ou o público estava bastante próximo do palco, ou pouco ouvia, tendo em conta o DJ que fazia por rebentar as colunas na zona do Palco Mundo. O Palco Tejo recebeu à mesma hora MC Cabelinho e o espaço parecia pequeno para a quantidade de pessoas que queriam cantar Carta Aberta e Vamo Marolar com o artista brasileiro
O Palco Mundo transformou-se numa espécie de parque infantil para receber a estreia de Camila Cabello a solo em Portugal. I Luv It deu o mote para uma dança de lobos encapuzados (ou lobas), com a cantora escondida debaixo de uma das máscaras. Revelou-se no final da canção perante o júbilo do público. Ao terceiro tema, Sangria Wine, as bailarinas que continuavam a dançar em torno dela ajudaram-na a despir o resto do macacão para revelar botas pretas acima dos joelhos, boxers pretos, biquíni e top metalizados. Também teve direito ao famoso wardrobe malfunction com três tentativas para vestir uma casaco preto de penas.
“Como estão, Lisboa? Como é que se sentem por serem dos primeiros públicos a ouvir alguns dos temas de C, XOXO [álbum que deverá ser editado a 28 de junho]?” O alinhamento estava repleto de novidades, como B.O.A.T., Chanel No.5 ou Koshi XOXO, o que não deixou espaço para que a multidão se mostrasse efusiva como esperava — quando não se conhecem as canções, não fica tão fácil.
Camilla Cabelo deslizou pela pista de skate, andou à pendura numa bicicleta, foi empurrada num baloiço e partilhou o carrossel com as amigas, mestres do twerk. A cantora desdobrou-se em danças, muitas vezes em cima da plataforma de skate que ficava na lateral esquerda do palco, o que significa que quem ficou instalado desse lado do recinto (o direito, de frente para o palco) passou grande parte da atuação a vê-la apenas através de ecrãs.
Cabello esteve sempre empenhada no namoro com a câmara. Foi sobretudo para ela que cantou, já que perto do público só chegou realmente uma vez, quando desfilou pelo corredor central para ler cartazes e revelar que no dia anterior lhe ensinaram a dizer “Parabéns, Portugal” [pela vitória frente à Turquia no Euro 2024] e “Cristiano Ronaldo”. Também perguntou se alguém tinha pastéis de nata, estava com “vontade de comer um snack”. Alguém atento nos bastidores tratou do assunto e, minutos depois, Cabello e as bailarinas davam dentadas em bolos e exibiam latas de um refrigerante para a câmara (quem mais?). Foi nesta altura que começou Bam Bam, perante uma confusão em que a estrela pop ora cantou, ora pediu ao público para cantar, ora disse que ia ligar ao “amigo Ed [Sheeran, com quem partilha o tema]”, ora pediu água para empurrar o doce português.
Havana e Señorita surgiram para garantir momentos de felicidade coletiva de uma multidão que dançou e cantou — por vezes mais do que Camila Cabello). Depois veio a melancolia, com a nova June Gloom, e outros planos começaram a desenhar-se junto daqueles que estavam em frente ao Palco Mundo e as laterais começaram a esvaziar-se ainda antes da despedida com He Knows, (mais uma faixa do novo álbum).
A cantora disse que não vinha a Portugal há nove anos [foi em 2016, com as Fifth Harmony, pouco antes de abandonar a banda e a estreia que estava prevista em 2020 não se confirmou devido à pandemia] e, tendo em conta o impacto discreto que causou no Rock in Rio, ninguém vai perceber se demorar outros tantos.
As 21h58 ditaram o fim da atuação da cantora com origens cubanas e mexicanas e logo a seguir ficou explicado para onde tinha ido a debandada: Palco Galp, para ver Luísa Sonza. Um fenómeno que nasceu no YouTube, onde aos 16 anos já tinha o próprio canal, juntou um mar de gente para cantar Chico ou Sagrado Profano. O carinho que recebeu foi retribuído com uma bandeira portuguesa (clássico mas sempre de resultados garantidos), uma energia contagiante e uma dúvida que deixa para o futuro: será que não merece um palco maior? É que, a julgar pela quantidade de gente que abandonou depois de a ver, Sonza parece capaz de mover multidões.
Menos de uma hora depois, às 22h44, foi o momento de Doja Cat pisar o Palco Mundo. Aknowledge Me, pediu a rapper de Los Angeles, com uma peruca loira e comprida, óculos e um nariz a sangrar tão bem pintado que inicialmente parecia real. Excêntrica, sem pedir licença, foi aumentando o ritmo e os gritos à medida que o concerto ia avançando. Muitas vezes sozinha em palco, o aparato ficou apenas por conta dela.