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A falar tanto de três pontos para “desculpabilizar” já perderam oito por culpa própria (a crónica do Gil Vicente-Sporting) – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 22, 2024

Depois de quatro derrotas consecutivas, o contexto de João Pereira no comando do Sporting mudou. Sim, as vitórias poderiam sempre atenuar qualquer impulso que existisse de avançar para outra solução no período pós-Ruben Amorim, mas a forma como as mesmas chegavam traçariam uma linha entre um mero paliativo conjuntural ou um crescimento estrutural. Os leões ganharam ao Boavista no Campeonato e ao Santa Clara após prolongamento na Taça de Portugal mas, perante tudo o que aconteceu em campo, a dúvida mantinha-se. Fora dele, sobrou tudo menos perguntas, questões ou hesitações pela forma como Frederico Varandas, presidente do clube, defendeu a aposta técnica. Se durante alguns dias se ia falando sobre contactos apenas exploratórios com alternativas portuguesas, agora tudo se limitava a João Pereira e apenas João Pereira.

Gil Vicente-Sporting. Leões procuram regressar à liderança do Campeonato após passagem aos quartos da Taça

Aproveitando a intervenção na gala dos Prémios Stromp, muito aguardada na sua antecâmara pelo tipo de mensagem que o líder verde e branco passaria para dentro e para fora, Varandas admitiu que fez um convite que nunca esquecerá por ter contornos de “presente envenenado”. Depois, abordou várias dificuldades nas primeiras cinco semanas de João Pereira: o choque emocional da saída de Ruben Amorim, as muitas lesões que tiravam cinco/seis potenciais titulares das opções, as arbitragens infelizes em alguns jogos (sem que com isso exista qualquer tipo de cabala contra o clube), o desgaste físico de unidades fulcrais. “Muitas das críticas que existem sobre o momento dramático têm um nome: João Pereira. Abriu-se uma brechazinha onde os rivais achavam que voltaríamos a ser o clube que em dezembro pensaria para o ano, que está falido… Mas não. Lamento. O Sporting não volta para trás”, assegurou na parte final do discurso na quinta-feira.

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Maior voto de confiança era complicado e houve quase uma relação causa-efeito na forma como João Pereira partia para o encontro em Barcelos frente ao Gil Vicente. “Presente envenenado? Não. Se o Sporting entrasse a jogar bem, o mérito era dos jogadores e do antigo treinador. O Sporting entrou a perder, a culpa é do João Pereira. Mas era impossível dizer não ao Sporting”, sublinhou. “Mais à vontade nas conferências? Estou mais liberto porque isto é uma evolução, uma pessoa vai aprendendo, o departamento de comunicação ajuda-me a melhorar dia após dia. É mais fácil estar aqui a falar depois de ganhar do que perder. Sempre tentei passar as minhas ideias, há coisas que temos de treinar…”, acrescentou sobre o tema.

“O presidente constatou factos. Os jogadores lesionados, a questão da arbitragem, depois os jogadores que vinham de quatro anos e meio com o mesmo treinador… Havia jogadores que tinham uma relação com esse treinador, que foram contratações do mister Ruben, é normal. Não é normal um treinador sair a meio da época por sucesso desportivo mas ainda bem, é sinal que o Sporting está bem. Eu não uso desculpas, estou aqui para encontrar soluções. Não são desculpas, acho que a confiança em mim mantém-se. A maior prova de confiança foi ele escolher-me para este lugar”, salientou ainda a propósito das palavras de Varandas.

Das palavras aos atos, o Sporting chegava a Barcelos com um total de sete ausências (Pedro Gonçalves, Nuno Santos, Daniel Bragança, Morita, Gonçalo Inácio, Ricardo Esgaio, St. Juste, os dois últimos por castigo por expulsão com o Santa Clara) para tentar a terceira vitória consecutiva depois de quatro derrotas seguidas. “O Gil Vicente tem uma ideia bem clara de jogo, com um treinador que já teve tempo para trabalhar a sua equipa. Não gosto de sofrer e prefiro ganhar a jogar bom futebol, a dar espetáculo. Temos um longo trabalho pela frente, queremos melhorar em vários aspetos, é um processo. Há duas semanas tínhamos quatro derrotas e era o fim do mundo, agora conseguimos duas vitórias sofridas mas que são duas vitorias. Os jogadores querem muito, isso às vezes traz ansiedade…”, recordara o técnico verde e branco na antevisão.

Parecia que tudo tinha “estagnado” em Alvalade até que a bola voltou a rolar para o Campeonato. 90 minutos depois, o prolongamento das palavras aos atos foi zero. Literalmente zero. Mais uma vez, os leões ficaram em branco como nunca tinha acontecido com a máquina goleadora que começou a temporada, cederam mais um empate, perderam a liderança isolada e correm o risco de chegarem atrás do Benfica no dérbi da próxima jornada. Mais uma vez, os três pontos para “desculpabilizar” e justificar o momento estão corretos. Sim, houve um choque emocional com a saída de Ruben Amorim. Sim, a onda de lesões deixa metade da potencial equipa titular de fora. Sim, houve erros de arbitragem. No entanto, resumir os oito pontos perdidos nos 12 que João Pereira disputou desde que assumiu o comando é o primeiro dos erros que o Sporting comete numa fase em que mantém uma crise de ideias que bloqueia o resto e que nem o coração consegue disfarçar.

Os primeiros minutos da partida foram definindo aquilo que as equipas tinham preparado com e sem bola, com o Gil Vicente a colocar Gbane como um terceiro central ao meio com a missão de “encaixar” em Viktor Gyökeres visando os ataques do sueco à profundidade e o Sporting a colocar Debast como o central mais na esquerda com Maxi Araújo a fazer toda a ala e Conrad Harder a procurar muitas vezes o espaço ao meio em dupla com Gyökeres. Oportunidades? Poucas. Era maior a tentativa de controlar em posse do que a vontade de desequilibrar na frente numa fase em que as duas equipas tentavam ainda perceber o que o jogo poderia trazer, sendo que a primeira vez em que os leões conseguiram uma viragem rápida do centro de ação da direita para a esquerda com um grande passe de Quenda criaram perigo, com Maxi Araújo a fazer um cruzamento tenso e o desvio de cabeça de Gyökeres a ficar prensado em Gbane a caminho da baliza (10′).

Apesar de haver uma ideia que agora privilegia muito (ou em demasia) o jogo pelo meio, o Sporting tentava ganhar novos traços com exploração mais frequente da largura com Quenda, Trincão e Maxi Araújo ou da profundidade com Gyökeres e Harder. Foi num desses movimentos, explorando as características do sueco, que o goleador da equipa recebeu descaído sobre a esquerda, fez o movimento para dentro e tentou o remate em arco que saiu ao lado da baliza de Andrew (18′). Havia ascendente, os leões não capitalizaram. Aliás, as indicações que vinham do banco pediam muitas vezes para haver uma posse segura em detrimento de rasgo que pudesse desequilibrar o encaixe, com os minhotos a aproveitarem para mostrar outro equilíbrio e terem o primeiro remate enquadrado por Santi García que saiu fraco e à figura de Franco Israel (25′).

As indicações iniciais não se confirmaram e voltou a versão mais básica de uma equipa que andou em anos avançados de universidade e regrediu até ao secundário com a saída de Ruben Amorim. Por um lado, e até quando os movimentos feitos eram os certos para explorar a largura e desconstruir a organização defensiva dos visitados, era ligado um complicador que travava a velocidade e fazia entrar em campo a previsibilidade. Por outro, e jogando com os dois avançados centro de início, Harder andava sempre demasiado refém das saídas a partir da esquerda e a própria equipa não aproveitava aquilo que era uma potencial mais valia como ter dois jogadores com as características dos escandinavos na frente. Só mesmo um cruzamento de Quenda na direita em arco para desvio de cabeça de Gyökeres e defesa de Andrew agitou um jogo sem tantas balizas como se esperava (42′). Pela sétima vez seguida na Liga, os leões não iam em vantagem para intervalo.

João Pereira lançou logo Matheus Reis, promovendo não só a saída de Eduardo Quaresma mas também uma série de alterações da defesa ao ataque entre a colocação de Debast na direita e a possibilidade para Harder ir mais vezes ao centro quando Gyökeres descaía sobre a direita. Esses movimentos conseguiram por mais do que uma ocasião deixar o sueco com mais espaço mas havia sempre algo que falhava entre o último passe, a última desmarcação ou o último toque. Os minutos iam passando sem que Andrew tivesse propriamente muito trabalho a não ser um desvio após livre lateral na direita ainda tocado por Hjulmand ao primeiro poste e Bruno Pinheiro, aproveitando as paragens no encontro, chamava os jogadores para revisão da matéria.

Foi preciso esperar quase até meio da segunda parte para haver uma oportunidade de golo, neste caso na área do Gil Vicente com Harder a ganhar de cabeça e Andrew a responder com uma defesa fantástica (66′). Estava dado o mote para um final de jogo mais aberto, com mais risco em ataque organizado e transições e com Geny Catamo a entrar com a corda toda, tentando resolver de forma individual com um remate que ficou nas mãos do guarda-redes brasileiro dos minhotos (70′). Andrew era o herói de serviço e, depois de um lance de penálti revertido pelo VAR mas muito polémico porque quando Trincão ficou com a bola e marcou com o jogo já interrompido (78′), fez mais duas grandes defesas a tentativas de Geny Catamo (81′) e Trincão (82′). Os minutos passavam e o nulo não seria mesmo revertido, com os leões a perderem mais dois pontos.





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