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A idade da reforma e a nossa tempestade perfeita – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Abr 15, 2024

As previsões meteorológicas baseiam-se atualmente em modelos matemáticos com elevada fiabilidade,  desenvolvidos ao longo dos anos com base em inúmeras observações e registo de dados científicos, embora fatores  intempestivos para os cientistas façam com que seja a Mãe Natureza a ditar a palavra final. Igualmente para a  economia e finanças, se desenvolveram modelos matemáticos consoante os mesmos critérios, sujeitos aos mesmos  fatores intempestivos ditados pela Mãe Natureza, aos quais se adicionam agora também as influências da Natureza  Humana. A soberba humana, quiçá a mesma que nos fez desenvolver a tecnologia que por si só pode originar o  extermínio da nossa espécie, não pára de debitar políticas económicas e financeiras, algumas em minha opinião,  baseadas em critérios de controlo obsoletos. Existem alguns problemas em Portugal, que em minha opinião não  necessitam do apoio de cientistas, nem peritos na especialidade para previsão de “tempestades perfeitas”. Um deles é a (in)sustentabilidade da Segurança Social, que para o cidadão comum era perfeitamente observável e  previsível.

O êxodo de jovens altamente qualificados e a política de salários baixos, algum dia iriam determinar o resultado que  se soube agora: o novo Governo prepara-se para que uma das medidas para resolução da sustentabilidade da  Segurança Social, seja a idade da reforma aumentar para os 70 anos com reduções significativas da remuneração  das reformas. A receita inferior à despesa tem como origem uma grande quantidade de população fracamente  remunerada e fracamente contributiva e que só poderia ter este desfecho.

Façamos um breve parêntesis filosófico: quando em 1988 foi entrevistado por Miguel Sousa  Tavares, Agostinho da Silva definiu a velhice como indexada ao tempo médio de vida útil de trabalho de um ser  humano, conceito enraizado na sociedade por se considerar que a vida é para trabalhar e não para viver. Realmente,  quem vive a vida para a viver não tem o conceito de velhice. Muitas depressões de pessoas idosas seriam evitáveis  se as pessoas fossem formatadas para viver a vida. Pretende-se com este parêntesis, tentar sublinhar que quem  vive a vida, pode ser indiferente à idade de referência para a reforma. Se o trabalho é penoso para as pessoas, então  é porque não gostam nem valorizam o que estão a fazer e isso deveria ser uma das preocupações dos nossos  Governos: gestão da saúde mental no trabalho para que as pessoas sejam felizes e a idade da reforma deixe de ser  uma data de “libertação” e também que não passe a ser uma data “de angústia” sobre o que se irá fazer a seguir.  Quem vive a vida não tem datas nem idade. Nem todos têm esta maneira de estar e precisam de ajuda para vencer  a formatação que lhes foi imposta. Há tanto por fazer depois dos 70 anos … A saúde mental no trabalho e depois da  reforma não tem sido uma prioridade (custa dinheiro e é difícil de “encaixar” no Orçamento do Estado?) pois que,  como quase tudo neste mundo em que vivemos, estamos submetidos a critérios financeiros e económicos que nos  são impostos. O dinheiro não é canalizado para o bem-estar da população, mas sim para outros fins de interesse  relativo e duvidoso.

Consequentemente, era expectável perante a realidade das contas atuais, que a idade da reforma fosse aumentada  e as pensões venham a ser reduzidas. Coisa que nos países (por exemplo, a Suíça) onde o serviço público é bem  gerido durante a sua vida contributiva, as suas contribuições para a Segurança Social são divididas em duas partes:  uma contribuição para o Estado para que este faça face aos seus encargos correntes e extraordinários e uma conta  com poupanças e que só pode ser utilizada chegada a data da reforma. E é o Estado que faz esta gestão.

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Objetivamente, esta medida de aumentar a idade da reforma para os 70 anos reveste-se de um aspeto fiscalista e  como mais um imposto a impor aos portugueses. Assim, em minha opinião o novo Governo deveria avaliar bem as  consequências do que anuncia sem as ponderar previamente.

A tempestade perfeita, já previsível pelo cidadão comum pode ter como consequências:

– Agitação e instabilidade social;

– Corrida à imediata ao pedido de reforma por cidadãos altamente qualificados;

– Incentiva os jovens a emigrar para países onde são bem remunerados, o dinheiro público é bem gerido e a idade  de reforma está bem abaixo dos 70 anos e o respetivo valor estará bem acima do que cá se irá pagar.

É então que a tempestade perfeita nos irá atingir: Estaremos reduzidos à indigência, à caridade de outras nações,  restando-nos o Sol, as praias, o servilismo de bandeja, pobreza crónica e emigração em massa. Portugal irá ser povoado por uma população envelhecida e indigente, onde as gerações de jovens que anteriormente emigraram  vêm anualmente visitar a família nas férias. E nem nos valerá o Turismo, pois o novo aeroporto de Madrid irá  absorver o fluxo turístico e as operações comerciais e captar o que nos poderia valer do ponto de vista económico  e financeiro.



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