• Sáb. Out 19th, 2024

A importância de agarrar a oportunidade e as críticas aos ziguezagues e malabarismos de Pedro Nuno e Ventura – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 19, 2024

Dois anos e três meses depois chegamos aqui reforçados. Na unidade e coesão do partido, sem nunca perder a pluralidade. Reforçados na abertura da nossa organização a toda a sociedade. Muitos continuaram independentes e outros aderiram

Previsivelmente, o primeiro discurso do 42.º Congresso do PSD serviu para fazer um balanço dos últimos dois anos, período importante em que o partido passou da longa e penosa travessia no deserto da oposição para o poder, oito anos depois de António Costa ter derrubado Pedro Passos Coelho. Mas serviu também para falar para dentro do partido, para galvanizar as tropas, e preparar o partido para o combate autárquico que aí vem. Mas Montenegro tinha uma surpresa preparada logo para o arranque dos trabalhos: Ana Gabriela Cabilhas, atualmente deputada e ex-dirigente da Federação Académica do Porto, e Sebastião Bugalho, cabeça de lista da AD nas últimas eleições europeias, tornaram-se militantes do partido por proposta de Montenegro. “São dos melhores que há em Portugal”, celeberou o líder social-democrata.

Em dois anos, ganhámos as eleições regionais dos Açores, vencemos duas eleições regionais na Madeira, mantivemos a nossa representação no Parlamento Europeu e voltámos a vencer as eleições legislativas nove anos depois. Não são os eleitores que se enganam, somos nós que temos de mostrar o mérito das nossas propostas.”

O tal balanço muito próprio de Luís Montenegro. Em rigor, José Manuel Bolieiro já era poder quando foi a votos pela segunda vez — e venceu. Na Madeira, o embaraço do PSD com a estrutura regional é uma evidência e a relação entre primeiro-ministro e presidente do Governo Regional da Madeira estão muito longe de ser as melhores. Nas europeias, não há outra forma de ver a coisa: o PSD perdeu. Por pouco, mas perdeu. Factual é o regresso do PSD ao poder nove anos depois. Vitória por margem curta, mas uma vitória. O que Montenegro espera é manter bem viva a onda laranja, na expectativa de que contamine outros atos eleitorais.

[Vamos] pôr de lado os interesses ou as vaidades pessoais. Vamos abrir as candidaturas à sociedade civil. Se o fizermos, vamos mesmo reconquistar a liderança da Associação Nacional de Municípios e da Associação Nacional de Freguesias”

Ultrapassado — aparentemente — o impasse orçamental e garantida a sobrevivência política para os próximos dois anos, Luís Montenegro volta-se agora para as autárquicas. O caminho começou a ser traçado ainda por Rui Rio — com as conquistas de Funchal, Coimbra e, sobretudo, Lisboa, o antecessor de Montenegro devolveu o partido aos bons resultados nas eleições autárquicas, depois de dois ciclos particularmente negativos. Na altura falou-se muito do virar de página, mas foi sol de pouca dura para o PSD — meses depois Costa tiraria da cartola uma maioria absoluta. As próximas eleições realizam-se noutro contexto: serão imediatamente antes da discussão do próximo Orçamento do Estado, que será previsivelmente chumbado, abrindo uma crise política em 2026. Nessa altura, é de esperar que o sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa venha a dissolver a Assembleia da República e convoque eleições antecipadas. Montenegro (e Pedro Nuno Santos, evidentemente) sabe bem da importância do resultado das autárquicas para abrir boas expectativas para o período de seis meses de intenso combate político se vai abrir imediatamente a seguir às eleições. No caso do PSD, um mau resultado nas autárquicas pode deixar Montenegro em maus lençóis para as legislativas.

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As pessoas estão fartas de intrigas, de truques ou de malabarismo. A política é das pessoas e é para as pessoas. A nossa política não decidir primeiro e pensar a seguir. Não acertámos sempre. Mas também não andamos aos ziguezagues. Não ficamos nem eufóricos nem deslumbrados com sondagens [positivas], como também não ficamos deprimidos quando elas são menos boas. Não estamos zangados com os portugueses nem assustados com os desafios, nem tão pouco a olhar para dentro (…) O tempo não é para queixumes nem para lamentações. Também não é tempo para passa-culpas. O nosso tempo é para agir”

Quem assistiu atentamente aos últimos dois meses de drama orçamental, saberá bem que a quem Luís Montenegro se referia nesta parte do seu discurso. É bê-à-bá de qualquer primeiro-ministro em funções: enquanto os líderes da oposição se dedicam à tática e à ‘baixa política’, o chefe de Governo só pensa no país e nos portugueses. António Costa tinha esse mesmíssimo discurso, Pedro Passos Coelho também, José Sócrates e todos antes dele idem, idem, aspas, aspas. Mas, naturalmente, Montenegro sabe que está numa posição de vantagem: o anúncio da viabilização do Orçamento do Estado por parte de Pedro Nuno Santos deixou o PS, além de partido, numa posição desconfortável, entre ter de explicar como foi do “praticamente impossível” à abstenção em seis longos meses. Quanto a André Ventura rompeu dizendo que fala havia um acordo secreto com Montenegro e acabou a ser chamado de mentiroso e a falar sozinho. É Montenegro a gozar o momento.

Diz-se que só fizemos o mais fácil. Aquilo que ninguém percebe é que se era assim tão fácil porque é que não estava feito? Isso é diferente e faz toda a diferença. Não somos iguais [ao PS]. Não é uma política de benesses. (…) Não são powerpoints inconsequentes como eram aqueles a que o país estava habituado. Não são meros papeis com nomes pomposos, são medidas concretas que estão a ser executadas”

Nesta parte do discurso, já Luís Montenegro elencava tudo aquilo que o Governo diz ter conseguido ao longo dos últimos sete meses, na Saúde à Educação, passando pela imigração e pela Administração Pública. Tantas vezes acusado de estar a tentar garantir a simpatia de determinados segmentos (pensionistas, funcionários públicos, mais jovens, corporações mais vocais) com objetivos eleitorais, Montenegro veio agora defender que não são “benesses”; são reformas para transformar a Administração Pública e os serviços públicos. É mais uma variação de uma ideia em que Montenegro tem insistido muito: é um ‘fazedor’ e um ‘reformista’ para romper com oito anos de “estagnação socialista” e por oposição ao ‘conformista’ António Costa.

Sei que é um ritmo forte, muito intenso. Sei que alguns dos que se dedicam mais à conversa do que à ação têm uma tendência de desvalorizar este ritmo. Mas cá estaremos para prestar contas e responder pelo prestígio da política, valor da palavra dada

Mais uma vez, Montenegro insiste que este Governo, ao contrário dos executivos socialistas que lhe antecederam e do que o atual secretário-geral do PS contesta, está mesmo apostado em reformar o país — estranho seria que dissesse o contrário, mas adiante. A ironia é mesmo utilizar uma expressão que António Costa chegou a celebrizar — “palavra dada é palavra honrada” –, sendo que não é a primeira vez que o faz publicamente. Mesmo com o apoio de Pedro Nuno Santos ao Orçamento do Estado, Montenegro não desiste de tentar vincar as diferenças entre a Aliança Democrática e o PS.

Não somos descendentes de pântanos, de bancarrotas ou de empobrecimento. Somos descendentes do sentido de Estado de Francisco Pinto Balsemão, do transformismo de Cavaco Silva, do patriotismo de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, da coragem de Pedro Passos Coelho e valores social-democratas de Francisco Sá Carneiro”

Mesmo a terminar, Luís Montenegro fez a homenagem a todos os líderes do PSD que chegaram ao cargo de primeiro-ministro, sem esquecer o padroeiro que tenta emular — Aníbal Cavaco Silva — e o criador com quem teve de romper para se relançar e relançar o partido — Pedro Passos Coelho. O tempo dirá qual será o legado de Montenegro, mas a tarefa que tem pela frente é de gigantesca importância: é a primeira vez desde Cavaco Silva que a direita chega ao poder sem austeridade e com dinheiro para gastar e distribuir. Se falhar, pode comprometer por muitos, muitos anos o futuro do partido; conseguindo, arrisca-se mesmo a repetir Cavaco e a ficar no cargo por muitos e largos anos.





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