Bruno Cardoso Reis, doutorado em War Studies pela King’s College e subdiretor do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE, explica ao Observador por que razão este foi um duro golpe para Teerão: “É muito importante para o Irão manter a rede de grupos armados e milícias e a Al-Quds estava a ser seriamente atingida por Israel nos últimos meses”, afirma. “O Irão quis sinalizar que não vai continuar a tolerar ataques cada vez mais frequentes a alvos mais destacados da Guarda Revolucionária.”
A esse ponto, junta-se um segundo: “É também uma resposta à ideia de que o Irão está a fazer muito pouco em relação ao Hamas e a Gaza. A expectativa do Hamas era que tivesse havido mais rapidamente uma escalada por parte do Irão”, lembra o investigador. Afinal, após o ataque do 7 de Outubro, o grupo islâmico de Gaza apelou repetidamente a um levantamento do mundo muçulmano contra Israel, na esperança de que se abrisse uma guerra regional. Até agora, não tinha acontecido; com o ataque do Irão deste dia 13 de abril, isso poderá mudar.
Não que Teerão tenha interesse numa guerra aberta com Israel. Apesar da barragem de centenas de mísseis e drones, alguns sinais apontam para uma tentativa de o regime teocrático tentar controlar ao máximo o dano infligido para evitar uma escalada.
Um sinal claro foi o tweet feito pela missão diplomática do país na ONU, quando os primeiros mísseis ainda não tinham chegado a território israelita, dizendo que “o assunto pode dar-se como concluído”. “É crucial”, nota Bruno Cardoso Reis. “É uma tentativa de evitar a escalada e de evitar a retaliação de Israel — seja contra o Hezbollah, seja contra o próprio Irão.”
Conducted on the strength of Article 51 of the UN Charter pertaining to legitimate defense, Iran’s military action was in response to the Zionist regime’s aggression against our diplomatic premises in Damascus. The matter can be deemed concluded. However, should the Israeli…
— Permanent Mission of I.R.Iran to UN, NY (@Iran_UN) April 13, 2024
Apesar de o ataque ser inédito e representar uma resposta muito mais forte do que as alternativas (um ataque através de grupos como o Hezbollah, por exemplo, ou o envio de drones contra alvos militares em zonas como os Montes Golã), foi tão anunciado e denunciado pelos Estados Unidos ao longo das últimas duas semanas que permitiu a Israel preparar-se. “O ataque parece ter sido desenhado com a intenção de não provocar vítimas”, diz Cardoso Reis. “É semelhante ao ataque que o Irão fez aos Estados Unidos em resposta à morte de Qassem Soleimani, com um pré-aviso para evitar baixas”.