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a nova gama de skincare da BAMandBOOM – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 13, 2024


É uma das referências absolutas do arquipélago e por isso só podia fazer parte desta fórmula — mas se lhe parece que estamos a preparar uma mesa para o lanche a verdade é que falamos de nutrição para a pele. “Fui buscar uma caixa de Gorreana. Cheirava no carro todo!”, recorda sobre a experiência deste verão Violante Pacheco de Medeiros. Mestre de cerimónias no workshop matinal em que guia utilizadoras pelos novos produtos, é a diretora científica da BAMandBOO, a marca de cosmética nacional que aplica o melhor dos ingredientes dos Açores aos seus produtos de skincare — e que em abril abriu o seu primeiro espaço físico, na Lx Factory. “Acho que este sérum com ácido hialurónico em que o ingrediente hero é o chá verde é a melhor coisa que já fiz. O difícil é acertar na consistência do gel, é um pouco leitosa quando se espalha”, apresenta.

A história da marca começou em 2017, com um modelo de subscrição de escovas em bambu, que se mantêm até hoje um dos best sellers, apostada em mitigar formulações excessivas e uso do plástico. Em 2022, lançaram o desodorizante, ficava pelo caminho a imagem fundadora do panda, e reforçavam a estratégia diferenciadora. Chegados a 2024, uma nova linha e imagem renovada, que se estende às embalagens, fiel ao lema “grounded skincare“.

Já tinha a sua fábrica e laboratório, faltava nortear todo o know how. Foi assim que a bióloga molecular Violante Pacheco de Medeiros se juntou à equipa da marca. Em abril chegavam aos primeiros resultados, com um creme de dia.

Natural de São Miguel, onde vive e trabalha, Violante é professora Assistente Convidada na Universidade dos Açores e acumula um doutoramento na Albert-Ludwigs-Universität Freiburg, na Alemanha, e na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Foi em setembro do ano passado que trouxe o seu know how técnico de sete anos de desenvolvimento de produto a uma operação que já estava montada, juntando-se à marca liderada por Francisco Camacho e Fernando Ribeiro. “Fomos rápidos. Em seis meses desenvolvemos estes produtos. Chegámos ao creme de dia na nossa oitavo tentativa”, contabiliza, com noção do salto que deu na trajetória. “Nunca tinha tido um desafio tão grande. Estava a desenvolver a minha marca e os meus produtos, porque montei uma fábrica, mas não tinha nada esta experiência do lado do marketing, o foco.”

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Se os óleos recrutados para a BAMandBOO são colhidos no centro de São Miguel, os extratos derivam de “uma zona mais selvagem, nas Lombadas”, explica Violante, enquanto manuseia uma embalagem com pó de basalto ultra fininho, outro condimento estrela da região cujas propriedades são aproveitadas, com a rocha vulcânica a evocar o Pico e servir de referência no decor da loja. “Temos barro em Santa Maria só que não é fácil ter argila. Mas temos basalto, é nosso. Tem uma ótima consistência, puxa muita coisa na limpeza”, descreve a responsável. O resultado é o esfoliante (€34.90) que dá a experimentar.

Se é frequente introduzir o louro nos cozinhados, repense utilizações: a modalidade açoriana tem uma folha mais arredondada, uma ligeira penugem e um aroma mais cítrico. Ah, e é outro dos ingredientes estrela das duas novas gamas de rosto BAMandBOO lançadas este ano. “Trabalhar com o cheiro do óleo essencial de louro não é fácil. Como torná-lo apelativo para o cliente?”. Nem de propósito, uma aluna de doutoramento está a desenvolver um extrato de louro próprio para a marca. “O objetivo é fazer este caminho de patentear”, descreve Francisco.

As amostras com diferentes texturas, preparadas para um workshop na loja

A nova gama Rooted Vitality (a partir de €34,90) vale-se da tecnologia HydraShieldCLN™, para hidratação essencial. Já a Natural Ageing (a partir de €25,90) aposta na tecnologia AlgaeTrioComplex+ para reafirmar, neutralizando os radicais livres e estimulando a renovação celular, centrando-se nas peles maduras. As nomenclaturas podem assustar os menos experimentados mas é com um entusiasmo terra a terra que a bióloga molecular descomplica o contexto de laboratório. “Passo o dia a brincar. É estar de bata e andar de sapatilhas. A minha vida de laboratório é de casual shoes. Não posso arriscar levar com algo que me corte ou um reagente mais tóxico. É preciso trabalhar com rigor. A semana está toda definida. Já vamos em 90 e tal protótipos, para vermos para onde queremos e não queremos ir.”

Desde sempre ligada ao mundo das plantas e à academia, para a head scientist da equipa o mais desafiante foi descobrir a aplicação prática das suas áreas de eleição. Se a natureza está por todo o lado, a fitoterapia e as mezinhas ancestrais de mães, tias e avós inspiraram a busca. “Comecei a brincar com fórmulas, a fazer coisas para os amigos, e como instalei o laboratório comecei a fazer as coisas de forma científica. Temos uma riqueza em óleos essenciais nos Açores.” O resultado final inclui hoje referências como ácido hialurónico, enzima Q10, e bakuchiol, uma alternativa natural ao retinol.

Foi por mero acaso, durante uma viagem pessoal aos Açores, que Francisco, oriundo da indústria de grande consumo, conheceu Pacheco de Medeiros, cuja experiência veio dar robustez ao projeto — o desenvolvimento científico estava até então nas mãos de parceiros externos. “Na primeira gravidez comecei a fazer crochet, na segunda descobri a cosmética. (risos) Para dizer a verdade acho que vem da alteração hormonal da segunda gravidez. Era muito racional, talvez pela via científica. Sempre achei que não seria uma pessoa criativa mas estou sempre a fervilhar de ideias”, admite a bióloga.

É no edifício principal da LX Factory que Francisco Camacho abriu em abril a primeira flagship da BAMandBOO

O “casamento tem funcionado bem”, garante o CEO, mas há um choque nem sempre harmonioso entre o que o cliente quer e aquilo que é possível fazer em laboratório. Com perfecionismo de parte a parte, o líder da marca acredita que é possível ir melhorando a fórmula. Já a responsável científica é a primeira cobaia de cada ensaio. “Agora aos 45 anos faço questão de formular produtos que gosto de usar. Sou muito picuinhas com o que anda no mercado. Não gosto de tudo o que está na moda. Tenho que me sentir confortável com o que pudesse usar”.

Mas o que pretende o consumidor num setor onde a oferta abunda? Para Francisco, há tendências generalistas, como uma procura cada vez maior de produtos naturais, mas sem perder de vista a eficácia. “Também penso que há uma procura por marcas menos convencionais. As pessoas gostam de descobrir e de dizer aos amigos que descobriram uma marca diferente”. Já Violante acrescenta a busca por transparência na comunicação de uma marca. “Leem muito mais os rótulos e querem perceber o contributo de um produto”

Quanto a mitos, continuam a ser mais que muitos e a dominar boa parte do assunto. “As pessoas acham que os produtos naturais não têm químicos. Não, a natureza é química. É preciso é estabilizar e conseguir extrair o melhor que a natureza tem para aplicar á cosmética. E nem tudo o que é natural é bom. Tem tudo a ver com as dosagens.”, explica Camacho.

À direita, em baixo, as folhas de louro dos Açores, um dos ingredientes estrela na nova linha de skincare

Até vermos cada produto no respetivo packaging há um longo e discreto caminho a fazer. Para já, um trabalho de conceção, informação sobre o posicionamento da marca e target, para que Violante possa então avançar. “O briefing é fulcral, é preciso ter os ingredientes certos e definir desde logo as texturas, as escalas, se queremos algo mais fluído ou mais espesso. O mundo das emulsões vai desde a loção até à pomada.” Depois há um ir a vir, uma natural interação até chegar às combinações mágicas. “No laboratório vemos que concentrações conseguimos incorporar, porque nem tudo é adicionar, há limites de segurança em certos ingredientes, como as fragrâncias. E posso ter um produto maravilhoso mas alguém me diz que falta uma nova fragrância. Adicionamos o mínimo de ingrediente e o creme vai todo à vida. É preciso uma ginástica. São muitas tentativas.”, admite Violante.

Nas suas formas mais puras, os recursos naturais que provêm das nove ilhas, como o solo vulcânico e as águas termais, são ricos em minerais. À alga fucus, chá verde e basalto vulcânico juntam-se ainda ingredientes naturais como o azeite virgem e o caroço de azeitona moído. “Fico feliz quando me dizem que é aveludado”, confessa a bióloga, enquanto se testam as amostras de cinco texturas fundadores da marca, da mais fluída à mais espessa, do gradiente branco para o mais amarelado. “Aqui não estão os princípios ativos nem as fragrâncias mas permitiu definir a estrutura da gama seguinte”. Quando se acrescenta o toque da alga, o resultado só podia ser verde. Trata-se da primeira versão do produto acabado do creme facial Elemental, que em termos de valor lidera em popularidade, que pode ser usado de dia ou noite.

As novidades no desenvolvimento da marca estenderam-se às embalagens das novas gamas

Apesar de não fechar a oferta num género, na BAMandBOO cerca de 90 por cento dos clientes são mulheres. Historicamente vendem mais fora de Portugal e o meio online tem sido a principal plataforma até aqui. Além das novas linhas e das peças fundadoras, o portfólio inclui sabonetes, champô solido, hidratantes corporais ou pasta de dentes em pastilhas.

Depois da presença no retalho em pontos como Wells e Perfumes e Companhia, a primeira flagship chega ao continente para permitir a experiência física do produto. “Já estamos a ver se conseguimos um espaço para abrir nos Açores mas queremos ver como negócio se desenvolve.”, antecipa Francisco Camacho. É certo que as tendências mudam mais rápido que a obtenção de um protótipo de sucesso mas ainda assim Violante arrisca uma visão de futuro. “Acima de tudo as pessoas procuram saúde, e uma saúde minimalista. Uma rotina simples, eficaz, que me faça sentir bem. Mais concentrada e com boa seleção de ingredientes.”





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