A intervenção policial do passado dia 19 de Dezembro, na Rua do Benformoso, na zona do Martim Moniz, levantou um coro de protesto de alguns dirigentes partidários da habitual esquerda festiva, que só a visitam quando trazem atrás de si câmaras de televisão ou jornalistas da imprensa. São os mesmos dirigentes da esquerda festiva que, do PS ao Bloco de Esquerda, tudo fizeram para tornar cada vez mais objectiva e real a tal “percepção subjectiva de insegurança” de que falava, em tempos que já lá vão, o ex-primeiro-ministro António Costa.
Como autarca em Arroios e deputada municipal por Lisboa, que conhece cada canto e recanto desta zona, porque os visito diariamente, sei bem que o recente estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) confirma muito do que temos dito e escrito, desde o início do mandato em 2021, sobre as consequências nefastas das políticas migratórias adoptadas pelo Partido Socialista na última década.
Ainda recentemente o escrevi aqui no Observador. Num momento em que a imigração ocupa um lugar central na agenda política e social da nossa cidade e do nosso país, há que não ter medo de falar deste tema e nunca o deixar nas mãos e nas palavras demagógicas dos extremos. É a nossa obrigação, como moderados que somos, sem procurar daí extrair benefícios eleitorais.
Foi exactamente o que o PS e a tal esquerda festiva nunca fizeram ao longo dos últimos 10 anos, ignorando a bomba-relógio que estavam a criar, alimentando a demagogia da extrema-esquerda e o populismo da extrema-direita.
Por alguma razão, o estudo da FFMS indica que cerca de dois terços dos portugueses inquiridos acreditam que os imigrantes contribuem para um aumento da criminalidade e para a manutenção de salários baixos no país, considerando a atual lei de estrangeiros excessivamente permissiva em matéria de entradas e defendendo que deveriam existir no país menos cidadãos especificamente provenientes do subcontinente indiano.
É precisamente por isso que só podemos dar razão ao primeiro-ministro Luís Montenegro e aos líderes do Governo da AD, como ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, quando propõem uma nova política de imigração que não deixe as portas escancaradas, como fez o PS e a extrema-esquerda, mas que também não as feche a sete chaves como pretende alguma extrema-direita. No fundo, o que se defende é o mesmo que sempre defendemos: uma política sensata e responsável que seja rigorosa na entrada e humanista no acolhimento.
Na Junta de Arroios fomos talvez dos primeiros a chamar a atenção para a balbúrdia que nos antecedeu, no tempo do poder socialista no Governo, em que se oferecia livre e indiscriminadamente o visto de entrada por mera manifestação de interesse, com a duração de seis meses, sem a prova de que se vinha para trabalhar, colocando milhares de imigrantes nas mãos das redes de tráfico de pessoas, ou no ciclo da pobreza e do abandono, tornando-se muitas vezes em Pessoas em Situação de Sem-Abrigo.
Ironia das ironias, chegámos a ser perseguidos e criticados por figuras pardas do PS, como a então ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, hoje eurodeputada, por nos recusarmos a passar ao “deus-dará” atestados de residência a imigrantes provenientes de países fora da União Europeia sem um título de residência válido em Portugal, como acontecia com a presidência da Junta que nos antecedeu.
Reparem, é tão simples como isto: não dávamos nem damos atestados de residência a quem não reside na nossa freguesia. Sabíamos e sabemos que existem redes de tráfico de pessoas que se fazem pagar aos imigrantes que são vítimas destes esquemas, para lhes arranjarem testemunhas falsas de que residem em Lisboa, explorando-os depois de forma criminosa e desumana. Apesar disso, houve quem se queixasse de nós à Provedoria de Justiça.
Não vejo o que se passou na Rua do Benformoso, vizinha de Arroios, como uma intervenção policial contra os imigrantes, mas sim contra a criminalidade e a favor dos que lá vivem e trabalham, sejam migrantes ou não – e que cumprem a lei e as regras básicas de convivência. Foi uma intervenção, como outras que aconteceram no passado e devem continuar a acontecer, a favor da segurança de todos.
É precisamente para evitar a xenofobia e o racismo que devemos ser mais rigorosos e mais exigentes em relação ao fenómeno migratório, para o bem dos portugueses e dos que nos procuram e merecem ser recebidos com humanidade.
Bom Ano para todos.