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A vida depois de insultos e agressões. A casa que acolhe e trata a saúde mental de pessoas LGBTI, vítimas de violência doméstica e de género – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Ago 11, 2024

Pediu ajuda, bateu à porta da polícia à procura de proteção, de um botão de pânico se possível, falou com assistentes sociais. Diziam-lhe que esse assunto não era das suas competências. Até que uma associação de apoio à vítima lhe falou da casa de acolhimento da Plano i, do apoio psicológico que prestava, e tratou da viagem. Quase nem teve tempo para respirar, sabia que não podia olhar para trás. Deixou a cidade onde vivia, o seu trabalho, a centenas de quilómetros do novo destino. “Quando cheguei à casa, estava muito abalada, a energia muito baixa.” Fragilizada, vulnerável, deprimida. “Não conseguia explicar o que estava a sentir.”

Entretanto, teve consultas de psicologia no Centro Gis que a ajudam a estabilizar. Na casa, trocam-se palavras. “Aprendo muito com as histórias dos outros, a terapia ajuda, a gente vai colocando as coisas nos devidos lugares.” “O que mais me assusta é o facto de perder o controlo da minha vida”, admite. Apesar de tudo, recusa vestir a pele de vítima, quer recuperar a sua vida, há força nesse seu querer. “A comunidade LGBT tem de lidar com a aceitação, eu tenho de voltar para a minha vida, colocam-me no lugar de vítima sem querer estar nesse lugar.”

Mafalda Ferreira, criminóloga, é a coordenadora do Centro Gis que dá preferência ao atendimento presencial, quando não é possível, tenta referenciar para estruturas mais próximas da residência que quem procura apoio para facilitar o acompanhamento, se for impossível, assume o caso. “Temos um critério muito específico que é o nicho do nicho: pessoas LGBTI vítimas de violência doméstica e de género. A maior parte são vítimas de violência doméstica no contexto familiar, desde a expulsão de casa a partir do momento em que há um coming out, quer em situações de orientação sexual ou de identidade de género. A família rejeita esta pessoa e acaba por a expulsar.”

Mais uma história. É uma mulher trans que chegou à Casa Arco-Íris sem chão, sem colo, sem ninguém. Parece que atravessou várias vidas numa só e ainda nem um quarto de século viveu. O passado está cheio de problemas, perdeu a mãe, foi expulsa de casa do pai. “Não tinha sítio para onde ir.” Procurou ajuda cheia de ansiedade, stress elevado. “A experiência na universidade não correu bem, tinha fobia a lidar com pessoas, não conseguia sair de casa, não tinha objetivos e aspirações”, lembra. Passou-lhe tudo pela cabeça, com muitos medos e dúvidas.

O apoio psicológico traz-lhe alguma calma neste turbilhão emocional de tudo o que passou e do que viveu. “Nas consultas, falamos de pontos específicos, de certas situações para percebermos determinadas coisas.” Não gosta de perguntas abertas, prefere conversas com questões fechadas, diretas ao que interessa, sem rodeios. “Quando as coisas estão fora do meu controlo, as técnicas de relaxamento ajudam-me a racionalizar mais as situações”, confessa.

“Viver na casa é como ter um certo suporte que deixei de ter, voltar a ter as coisas básicas. Enquanto aqui estou, tento reestruturar a minha vida.” Ainda há coisas para arrumar dentro de si. Está à procura de trabalho e a lidar com o ansiedade que isso representa. “Gostava de arranjar um emprego, ganhar dinheiro, alugar um quarto para mim, pode ser um T0.” “Aqui disponibilizam os meios para seguirmos em frente e conseguirmos trabalhar para os objetivos que temos”, diz.





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