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Afinal, Bugalho transformou água em vinho e deu o passo que faltava para “outros milagres” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 19, 2024

Desde que foi candidato que Sebastião Bugalho não deixou de namorar o PSD, como escreveu no final de agosto o Observador. Além da campanha eleitoral, o candidato foi, desde logo, à Festa do Pontal, onde foi uma autêntica pop star e ganhou o campeonato das selfies com militantes, mesmo sem ser ele próprio militante do partido.

Pop star? A nova coqueluche do PSD não é do PSD, mas continua a namorar o partido

Também este verão Sebastião Bugalho seguiu uma informal e distendida rota da carne assada, ora promovida pela máquina do partido (como é exemplo o convite para a Universidade de Verão), ora de relações que vai estabelecendo a título pessoal. Exemplo disso é que uma semana depois do Pontal, a 22 de agosto, recebeu das mãos de um escuteiro uma almofada com uma tesoura para cortar a fita vermelha que inaugurou a Festas em Honra de Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego. Ao seu lado estava o presidente da câmara municipal de Lamego, Francisco Lopes, que é autarca do PSD. Para as estruturas locais, Bugalho também é uma estrela. E tem solicitações de várias concelhias. Pouco tempo depois, aproveitou a ida a Castelo de Vide para almoçar com o presidente da câmara local, António Pita, que é, claro, autarca do PSD.

No Congresso deste sábado, Bugalho disponibilizou-se a ir fazer campanha com os autarcas do PSD pelo país fora, continuando a cimentar a sua posição junto do aparelho. “Contem comigo”, disse no púlpito. “Estou disponível”, disse na entrevista ao Observador. O eurodeputado vai andar por aí.

Já depois do anúncio, Sebastião Bugalho voltou a driblar uma pergunta dos jornalistas sobre se a militância era um passo para no futuro chegar à liderança. Sem negar a ambição (mesmo que tenha dito que se filiou por “gratidão”), garantiu não ter pressa: “Fui cabeça de lista às Europeias com 28 anos, acho que já cresci o suficiente por agora.” Sobre o que virá a seguir, limitou-se a responder: “O futuro é agora“.

Aliás, no dia em que se estreou em Estrasburgo, Sebastião Bugalho já tinha dado uma entrevista ao Observador, a 16 de julho, onde não conseguiu negar ter a ambição de um dia ser primeiro-ministro. Deu a seguinte resposta:

Observador — Consegue dizer: “Eu não quero ser primeiro-ministro um dia”?
Sebastião Bugalho — “Não, não posso assumir isso. Mas só para ficar claro: acho que neste momento estamos bem servidos.”

Sebastião Bugalho tinha, portanto, na ponta da língua uma resposta a dois tempos à pergunta se quer ser primeiro-ministro: o país está bem entregue a Luís Montenegro; e não quer verbalizar que não tem essa intenção. Aliás, no Debate das Rádios durante as europeias, a 3 de junho, também tinha sido incapaz de dizê-lo:

Observador/Antena1/TSF/RR — Vai deixar aqui, para memória futura, a frase: ‘Eu nunca serei candidato a primeiro-ministro’?
Sebastião Bugalho — As pessoas dizem que sou muito ambicioso. Eu tenho ambição de dar o meu melhor. Acho que, neste momento, o Governo está bem entregue.

O “neste momento” foi medido. E não foram casos únicos. Logo no discurso de arranque da candidatura, Bugalho tinha-se comparado com o jovem primeiro-ministro francês e utilizado a mesma expressão que António Costa utilizou com Pedro Nuno Santos, no congresso que revelou ambições de ser sucessor do então primeiro-ministro.

Tenho ouvido as críticas, até já respondi a algumas com humildade e boa disposição. Parece que dizem que sou muito novo. E é verdade e, como diz o senhor primeiro-ministro, é um problema que passa com o tempo. Mas o primeiro-ministro francês neste momento tem 34 anos, eu sou só candidato ao Parlamento Europeu. E, que eu tenha dado conta, o dr. Luís Montenegro não pensa meter os papéis para a reforma”, disse Bugalho.

Apesar da ousadia de Bugalho, Luís Montenegro não se importa de dar palco ao eurodeputado, embora não dispense uma espécie de paternalismo ou, no mínimo, apadrinhamento político. O episódio da filiação é disso exemplo. Como dizia há umas semanas uma destacada fonte social-democrata ao Observador: “O problema nunca será com Montenegro, para quem ele não é concorrência. No limite, o problema é para o Moedas ou para gerações intermédias, como Leitão Amaro ou Hugo Soares, que também podem querer ter uma palavra a dizer na sucessão”.

Questionado novamente sobre assumir outras responsabilidades no partido, Bugalho disse em entrevista ao Observador este sábado que “está sempre disponível para todos os desafios”. E acrescenta: “A idade não limita a ambição, mas o PSD também não limita as pessoas pela idade.”

Sobre se existe uma fila geracional para a sucessão de Montenegro com Moedas, Leitão Amaro e Hugo Soares à sua frente, Bugalho começa por dizer que “quem tirar essa senha, corre o risco de esperar muito tempo” porque “é cedo para formar essa fila.” Mas acrescenta que não se sente “nem atrás nem à frente de ninguém, mas ao lado dessa geração“. O eurodeputado é dos mais novos, mas diz que “a idade não o separa” dos outros, já que “Carlos Moedas tem mais de 50 anos, mas ainda é um jovem no PSD. Foi eleito tarde para a CML e foi meu mandatário nas europeias”.

Bugalho diz ainda que o PSD tem “a obrigação de ter percebido, pela forma como o Governo de António Costa se desfez” que o partido não deve ser uma “espécie de maratona para ver quem chega primeiro ao lugar do chefe”. E que um dos problemas do Governo de Costa foi, precisamente, ter transformado o Executivo “num jardim de sucessores.”

Bugalho foi saudado precisamente por Carlos Moedas e por outros, como o ministro Castro Almeida. Foi também dos poucos congressistas que, quando discursou, foi aplaudido de pé. O próprio confessou que tinha a “ambição” de discursar perante um Congresso do PSD. Bugalho costuma dizer que é “prematuro” em tudo. Filiou-se de forma prematura face ao que era o calendário que o próprio tinha definido. Mas tem o que muitas vezes na direita política se disse que faltava a Paulo Portas — a quem é frequentemente comparado: o cartão de militante de um grande partido para poder ambicionar vir um dia ser primeiro-ministro. Isso, que Portas não teve na altura certa, Bugalho já tem. Falta o resto.





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