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Ainda os Jogos (pouco) Olímpicos de Paris – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Ago 3, 2024

Decorrida uma semana sobre a inauguração dos Jogos Olímpicos em Paris, ainda perdura a indignação pela paródia à Última Ceia. Essa derradeira refeição de Jesus com os seus apóstolos foi o momento culminante da sua missão, porque antecipou, sacramentalmente, o mistério da sua paixão e morte na Cruz. É esta realidade que se renova cada vez que se celebra a Eucaristia, instituída por Jesus nessa ocasião, em que também consagrou os apóstolos como seus sacerdotes. Na Eucaristia, dizia São Tomás de Aquino, não se contém apenas alguma graça, mas o seu Autor, Jesus Cristo, perfeito Deus e homem perfeito.

É quanto basta para que se entenda a gravidade do ultraje feito à Eucaristia, ou seja a Jesus de Nazaré, na inauguração destes Jogos Olímpicos, quando dez travestis, ou drag queens, representaram ‘A Última Ceia’, de Leonardo da Vinci. No dia seguinte, os actores reconheceram ao Le Parisien que assim foi, embora depois alguns ‘chicos-espertos’ tivessem tentado negar esta evidência. Mas, quem pode negar o que os próprios afirmam?!

A CNN Brasil, a 29-7-24, às 12h 53, fez saber que “os organizadores das Olimpíadas de Paris 2024 pediram desculpas pelo que alguns críticos descreveram como uma paródia de ‘A Última Ceia’, durante a cerimónia de abertura, na sexta-feira, 26”. Acrescenta que Anne Deschamps, porta-voz de Paris 2024, em entrevista colectiva no domingo 28, dois dias depois, afirmou que nunca houve “a intenção de desrespeitar qualquer grupo religioso”. Ao não desmentir o que era evidente, confirmou que se tratava de uma farsa à Última Ceia. Caso contrário, não faziam sentido as desculpas, pois ninguém se sentiria ofendido por uma suposta representação do banquete dos deuses. Como se costuma dizer, “excusatio non petita, accusatio manifesta”: uma desculpa não pedida é uma acusação manifesta.

Note-se que, mesmo que se tratasse de uma mera representação pagã, não seria inocente, como explicou João Paulo Oliveira e Costa, mas não foi o caso. Dois dias depois da inauguração dos Jogos Olímpicos, a 28-7-24, às 15h 53, a RTP, indicando como fonte a agência Lusa, publicou a seguinte notícia: “Paris 2024. Organização lamenta que grupos religiosos se tenham sentido ofendidos por quadro ‘A Última Ceia’”, confirmando que se tratava da “pintura de Da Vinci”, que “retrata o momento em que Jesus Cristo declarou que um apóstolo o iria trair”, ou seja, a Última Ceia. Portanto, se por um lado houve quem atribuísse o escândalo à susceptibilidade dos católicos, nenhum responsável negou que se tratava, efectivamente, de ‘A Última Ceia’ de Da Vinci que, por sua vez, reproduz o momento sagrado em que Jesus Cristo instituiu a Eucaristia.

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Resumindo e concluindo, a organização dos Jogos Olímpicos de Paris sabia que se tratava da Última Ceia pois, em caso contrário, seria preciso concluir que a organização não sabia o que organizou, o que é manifestamente absurdo. Só assim se explica que, logo no dia seguinte, a Conferência Episcopal Francesa (CEF) emitisse um protesto. Negar a evidência de que se tratava de uma paródia à Eucaristia é afirmar que os responsáveis pelas Olimpíadas de Paris 2024 e os bispos da CEF são uns totós, que não se deram conta da suposta inocência daquela farsa. E, já agora, porque razão é que só tarde e a más horas apareceu, como que por milagre e vinda do nada, essa obra menor, praticamente desconhecida?! Porque não foi referida logo que surgiu a polémica, que foi imediata?! Porque foi necessário tanto tempo para forjar uma tão esfarrapada desculpa?!

Paradoxalmente, o comunicado da CEF, de 27-7-2024, não poupa elogios à inauguração dos Jogos Olímpicos, como se fosse possível dissociar o valor artístico de um espectáculo do seu significado moral. Seria razoável elogiar as Olimpíadas de 1936, em Berlim, ignorando o seu propósito de exaltar o regime nazi?! O episcopado gaulês chega a afirmar, num tom superlativamente elogioso, que “a cerimónia de abertura (…) ofereceu ao mundo inteiro momentos maravilhosos de beleza, de alegria, ricos de emoções e universalmente elogiados.” Como é possível que o diga, se também reconhece que não faltaram “cenas de escárnio e zombaria do cristianismo” (sic), que até diz lamentar “profundamente”?! Pode haver “beleza”, “alegria” e riqueza de “emoções” no escárnio e zombaria do Cristianismo?! Pelos vistos, para a CEF, pode.

Muitos fiéis de outras confissões, como a ortodoxa porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, e a Comunhão Anglicana do Egipto, repudiaram este insulto a Jesus Cristo, que afectou “todos os cristãos de todos os continentes, que foram feridos pelo excesso e pela provocação de certas cenas”. No seu comunicado, afirma também o episcopado gaulês: “Desejamos que eles compreendam que a celebração olímpica vai muito além dos preconceitos ideológicos de alguns artistas”. É salutar que, em memória do Barão Pierre de Coubertin, se reconheça o verdadeiro espírito olímpico, mas o que se espera da CEF é que defenda a Sagrada Eucaristia, que é Jesus Cristo, real, verdadeira e substancialmente presente.

Não obstante o tom condescendente desta nota da CEF, o seu Secretário-Geral, Padre Hugues de Woillemont, destacou a contradição entre “a inclusão demonstrada e a exclusão efectiva de certos fiéis”, a que acrescentou: “não é necessário ferir as consciências, para promover a fraternidade”. Por sua vez, o Bispo François Touvet, presidente do Conselho de Comunicação da CEF, fez questão de “protestar, como muitos outros, contra este insulto escandaloso e grave, feito aos cristãos de todo o mundo, sem esquecer os outros excessos do espectáculo”. Também o Bispo norte-americano Robert Barron – outro ingénuo?! – manifestou, em alto e bom som, a sua indignação.

Os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, serviram para a propaganda da ideologia nacional-socialista, como os actuais são uma afirmação da não menos anticristã ideologia woke. Entre as Olimpíadas de Berlim, em 1936, e as de Paris, este ano, é caso para dizer: que venha o diabo e escolha! Talvez por isso, providencialmente, o apagão de Paris só não apagou a Basílica do Sagrado Coração de Jesus, em Montmartre: o único ponto luminoso de uma cidade mergulhada nas trevas.

Aliás, a farsa em relação à Eucaristia está a par da infeliz evocação da decapitada Rainha Maria Antonieta. A França, ao fazê-lo, recordou que a revolução francesa nasceu afogada no sangue de milhares de inocentes, como Maria Antonieta, de quem Stefan Zweig escreveu uma magnífica biografia, bem como do seu filho, uma criança que, depois de ter sido brutalmente retirada a sua mãe, foi entregue ao carcereiro, para às suas mãos morrer, pouco depois, de fome e maus-tratos. Que horrível lembrança!

Alguns dizem que a paródia à Última Ceia pretende ser, apenas, uma expressão pseudoartística do laicismo, de que a França tanto se ufana. Mas, se é o laicismo o propósito, porque razão a sanha é só contra a Igreja católica, quando outras são as religiões que ameaçam a laicidade?! Não chegam os incêndios ‘casuais’ – não se sabe porquê, mas as catedrais góticas francesas são altamente inflamáveis … – como agora, em Rouen?! O laicismo francês não é apenas cristianofóbico, é também cobarde.

Há quem confunda respeitos humanos com caridade, e cumplicidade com perdão. O mandamento novo obriga a amar a todos, mas há uma defesa que, por ser de justiça, se chama legítima. Os cristãos, em virtude da oração que o Senhor ensinou, estão obrigados a perdoar sempre, mas seria vergonhoso condescender com as ofensas a Deus. O bom humor e a arte podem ser dons de Deus, mas também podem ser expressões diabólicas. O temor de Deus é um dom do Espírito Santo; o segundo mandamento divino proíbe usar, em vão, o santo nome de Deus; e também há a possibilidade real da condenação eterna que, desculpem-me a falta de graça, não tem graça nenhuma.





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