Os agentes virtuais podem reforçar a confiança das pessoas com antecedentes migratórios na polícia? Uma equipe de pesquisa da Universidade de Würzburg investigou isso. Os resultados surpreenderam até os responsáveis.
Agentes virtuais inteligentes podem ajudar a reforçar a confiança das pessoas com antecedentes migratórios em instituições como a polícia. Esta é a principal conclusão de um novo estudo realizado por cientistas da Julius-Maximilians-Universität Würzburg (JMU). A professora de ciência da computação Birgit Lugrin foi responsável por este estudo. Ela ocupa a Cátedra de Ciência da Computação V na JMU; os chamados Agentes Socialmente Interativos são uma de suas principais áreas de pesquisa.
A base deste estudo é o facto de cerca de 24 milhões de pessoas com antecedentes migratórios viverem atualmente na Alemanha. É bom que eles também confiem no sistema jurídico e governamental local. O contacto positivo com as autoridades – e, portanto, também com os agentes policiais – pode desempenhar um papel importante neste contexto. Se uma pessoa com raízes turcas, por exemplo, também conhecer um agente da polícia da mesma origem, isto poderá desempenhar um papel particularmente importante no fortalecimento da confiança nas autoridades, de acordo com a equipa de investigação de Würzburg.
Agentes virtuais são um reforço econômico
No entanto, a proporção de funcionários com antecedentes migratórios na força policial alemã é comparativamente baixa. Ao mesmo tempo, a polícia muitas vezes carece de pessoal suficiente para realizar mais trabalho de relações públicas, além das suas funções reais. A utilização de “agentes virtuais inteligentes” poderia resolver este problema. Para quem não imagina o que é um agente virtual: basicamente se assemelham a personagens de um jogo de computador que se movem por mundos virtuais e se comportam de maneira humana.
“Agentes virtuais inteligentes projetados para interagir com as pessoas de maneira natural e intuitiva são relativamente baratos de desenvolver e podem ser potencialmente usados em larga escala”, diz Lugrin, descrevendo as vantagens desses ajudantes virtuais. Poderiam, portanto, ser um acréscimo bem-vindo ao trabalho de relações públicas da polícia. Outra vantagem é que os agentes também podem ser concebidos para parecerem e falarem de forma muito semelhante a pessoas com antecedentes migratórios.
Uma troca interativa no mundo digital
Se os agentes virtuais com antecedentes migratórios são realmente capazes de fortalecer a confiança de pessoas reais com os mesmos antecedentes na polícia: Lugrin e a sua equipa investigaram isto como parte de um estudo experimental. Recentemente, eles apresentaram os resultados na Conferência Internacional sobre Agentes Virtuais Inteligentes da Association for Computing Machinery.
“Desenvolvemos um cenário interactivo em que os nossos participantes interagiam com um agente da polícia no computador. Num caso, os agentes virtuais eram reconhecíveis como tipicamente alemães; no outro, a sua aparência e linguagem distinguiam-nos como pessoas com uma origem cultural mista, “, diz Lugrin. Os próprios sujeitos do teste eram todas pessoas que viviam na Alemanha e com raízes turcas.
Quão empática é a contraparte digital?
Antes e depois das reuniões online, os investigadores utilizaram questionários para registar parâmetros importantes das atitudes dos seus participantes em relação à polícia. Estes incluíram aspectos como a confiança na polícia em geral e a eficácia do seu trabalho. Também foi registada a sua avaliação sobre até que ponto os agentes policiais agem de forma justa e equitativa quando lidam com diferentes grupos populacionais.
No que diz respeito ao agente virtual, a equipe determinou como os participantes do estudo o percebiam. Isso envolveu aspectos como semelhança, cordialidade, competência e empatia – e, claro, confiança na contraparte digital.
A confiança está crescendo – em todos os casos
A análise de todos estes dados mostra que a confiança na polícia poderia, de facto, ser aumentada através da interacção com um agente policial virtual. No entanto, a equipa não conseguiu confirmar uma das suas principais hipóteses: “Esperávamos que a semelhança do grupo, ou seja, um contexto cultural idêntico, tivesse um efeito positivo mais forte na confiança”, explica Birgit Lugrin. Nas experiências, no entanto, a confiança cresceu independentemente de os participantes do estudo encontrarem um agente “típico alemão” ou um agente com origem migrante.
Porém, segundo Lugrin, isso não invalida esta tese. “Em psicologia, inúmeras pesquisas mostraram que as pessoas percebem os terceiros de forma mais positiva se eles se assemelham a eles”, explica o cientista. Muitos factores podem influenciar o que constitui semelhança, tais como religião, opiniões políticas ou antecedentes culturais.
Assim, Lugrin está convencido de que mais estudos são necessários para investigar este aspecto com mais detalhes. No geral, porém, a principal conclusão para ela permanece: “Os agentes virtuais são uma ferramenta eficaz para uma interação pessoal positiva com as autoridades”.
Publicação original
Aumentando a confiança na polícia por meio da interação com agentes virtuais – Investigando o efeito intragrupo com indivíduos de culturas mistas. Birgit Lugrin, Elisabeth Granal, Maximilian Baumann, Anastasia Fiolka e Tobias Haase. ACM ISBN 979-8-4007-0625-7/24/09, https://doi.org/10.1145/3652988.3673944