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Alma Söderberg faz-nos dançar até ao fim da fragilidade – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 14, 2024

Tal como em The Listeners, há pequenos fragmentos de poesia e de composição de canções, “coisas que escrevemos ou que surgiram inspiradas no trabalho de outros poetas”, avança a coreógrafa. Talvez por isso alguns excertos musicais e composições visuais, como os bailarinos reunidos em círculo, no centro do palco, com uma luz quente que incide no íntimo do mesmo círculo que definem e, por sua vez, incita a movimentos de repetição espontâneos, quase como “chamamentos” de comunidade, nos transportem para referências musicais como Jesus Walks, de Kanye West, lançada em 2004. Ou a uma exploração da consciência rítmica e da sua relação com o corpo como Ari Aster tentou explorar no filme Midsommar – The Ritual, em 2019. Mas se nestas referências, as ações se excedem do dia para a noite, em Noche, vemos uma invocação de algo, tal como reconhece a coreógrafa: “A certa altura, percebi que estamos a entrar nas noites com esta peça. E com isso vem uma intensidade maior, uma relação mais forte entre o indivíduo e o múltiplo”.

Söderberg procurou chegar a um lugar onde “um indivíduo, uma pessoa singular ou, por sua vez, um ato singular” se tornasse mais desafiante. Ocupasse mais espaço. Quebra-se. Fosse mais errático e lhe permitisse desaparecer numa multidão.

Quando vemos pela primeira vez o espetáculo, a liberdade inunda cada espaço vazio que ainda possa restar. É dada permissão para que se faça as coisas da forma que “queremos e não afunilarmos apenas às regras do dia”. O grupo de artistas mostra-se mais do que preparado para isso e, como a coreógrafa refere ao Observador, a ideia de síncope era algo que pretendia explorar nesta sua nova leitura da noite. Tal como a decisão do nome do espetáculo, as influências do Flamenco – que estudou na Escola de Dança Matilde Coral, em Sevilha – foram novas roupagens que quis explorar. “Há uma relação com um indivíduo que cria ritmos mais complicados e desafia o grupo de diferentes formas”, decisão que tomou com Hendrik Willekens, o compositor com quem trabalhou.

Mas esta reflexão, na verdade, surge quando a coreografa começou a ler Catherine Clément. A procura do “momento” dentro do pensamento e da filosofia ocidental tornou-se numa “espécie de inspiração” ou “uma síncope”, tal como a coreografa pretende chamar partindo das referências de Clément e da suas obras. “A surpresa, o inesperado, algo que não é controlado e que fala sobre a história da filosofia ocidental também como sistemas de lógica, mas também apenas de dar sentido às coisas, quase como o pensamento acontecesse de uma forma mais espontânea e energética”, termina a coreografa.

“The night makes us. We make the night.” [A noite faz-nos. Nós fazemos a noite.]: é assim que começa Noche, e é assim que nos vai recordando da sua mística ao longo de cerca de uma hora de espetáculo. A repetição do movimento e da voz, do ritmo, mesmo nos momentos em que o palco está completamente escuro, remete-nos para um lugar de liberdade dentro do oculto. É importante voltar a este facto, pois, é também neste lugar que a coreógrafa pretende colocar o público. Mais do que transparentes, frágeis. Alma acrescenta que “serem visíveis e não o serem em palco e manter as coisas a funcionar é um desafio. Isso é algo que, de uma perspetiva externa, torna-nos um instrumento”.





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