Apelidada “a rainha do pop francês” pelo jornal Le Monde, a cantora Aya Nakamura está no centro de uma polémica após rumores de que poderia atuar nos Jogos Olímpicos (JO), que este ano acontecem em Paris.
Segundo a revista L’Express, Nakamura havia sido convidada por Emmanuel Macron para interpretar uma canção de Édith Piaf na cerimónia de abertura dos JO, em julho, mas nem o Presidente francês nem a cantora franco-maliana confirmaram a informação. Mesmo assim, bastou o boato para provocar a revolta de políticos de extrema-direita, incluindo a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen. “Não é um símbolo bonito, sinceramente, é mais uma provocação de Emmanuel Macron”, disse Le Pen à rádio francesa Inter radio, lamentando os “trajes e a vulgaridade” de Nakamura.
Aya Nakamura aux JO, “une provocation supplémentaire d’Emmanuel Macron”, pour @MLP_officiel. “Il doit se lever tous les matins en se demandant comment il va réussir à humilier le peuple français !” #le710inter pic.twitter.com/DqPM1dSd46
— France Inter (@franceinter) March 20, 2024
“Substituir a elegância francesa pela vulgaridade”, “africanizar as nossas canções populares” e destacar a “imigração extra-europeia”, lê-se também na mensagem do grupo de extrema-direita parisiense Les Natifs na rede social X. “Como sempre, Emmanuel Macron demonstra mais uma vez o seu desprezo pelo povo francês e pela sua cultura”, acrescenta o texto. O grupo conservador ainda exige que a “França seja representada por um artista que incorpore a nossa herança, os nossos valores e a nossa identidade!”
????Y’a pas moyen Aya, ici c’est Paris, pas le marché de Bamako !
Suite à l’annonce de la possible présence de la chanteuse Aya Nakamura à la cérémonie d’ouverture des Jeux Olympiques de Paris, une quinzaine de Natifs ont manifesté dans le IVè arrondissement afin de dénoncer le… pic.twitter.com/9825VJAlA1
— Les Natifs (@LNatifs) March 9, 2024
A cantora começou por desvalorizar os críticos, escrevendo nas redes sociais no início do mês: “Tenho a impressão de que vos fiz descobrir Édith Piaf e que ela reencarnou em mim. Quanto ao resto, se gostam de mim ou não, é problema vosso”. Mais tarde, perante a tarja do grupo extremista francês, respondeu: “Vocês podem ser racistas, mas não são surdos… é isso que vos magoa! Estou a tornar-me número 1 de discussão… mas o que é que vos devo? Nada”, partilhou na rede social X.
O Ministério Público de Paris abriu uma investigação sobre alegadas ofensas racistas contra a cantora e a ministra da Cultura francesa, Rachida Dati, alertou contra o “racismo puro”. Já a antiga futebolista, Lilian Thuram, afirmou: “Quando as pessoas dizem que Aya Nakamura não pode representar a França, em que critérios se baseiam? “Quando as pessoas dizem que Aya Nakamura não pode representar a França, em que critérios se baseiam? Eu conheço os critérios, porque quando eu era futebolista também havia quem dissesse que esta não é a equipa francesa porque há demasiados negros”.
Entretanto, muitos fazem leituras da letra do novo single da artista. Na faixa Doggy, lançada esta sexta-feira, a música de 28 anos canta: “Não tenho inimigos, eu / São eles que não gostam de mim”, acrescentando: “Um monte de inimigos, mas eu nem sequer os conheço”.
Aya Nakamura, nascida em Bamako, capital do Mali, mudou-se para França com a família ainda em criança e tem dupla nacionalidade. Alcançou o estrelato com o sucesso da música Djadja, no verão de 2018, que conseguiu mais de mil milhões de visualizações só no YouTube. A cantora estreou-se em Portugal no verão passado, primeiro com um concerto no festival Afro Nation, em Portimão, e no dia seguinte no festival Sumol Summer Fest, na Costa da Caparica.