Os partidos com assento parlamentar estiveram duas horas em debate na RTP e apresentaram visões diferentes, e por vezes confusas, sobre a União Europeia. Perderam até alguns dos minutos que tinham em canal aberto para se queixarem do tempo que não tiveram e que acham que mereciam pela lei. Debateram-se propostas como eleger um primeiro-ministro da UE, mas também sobre como se deve privilegiar o “dinheiro físico”.
Sobre a Guerra na Ucrânia, há quem duvide da responsabilidade de Putin, quem fale num acordo secreto entre o presidente russo e Zelensky e até quem acredite que Moscovo pode um dia aderir à União Europeia. O candidato do Ergue-te ameaçou mesmo começar uma guerra em Portugal se algum dia os seus filhos forem enviados para combater na Ucrânia.
Sobre o Pacto das Migrações há vários partidos com uma visão restritiva, mas Rui Fonseca e Castro foi novamente o mais radical a defender que não se devem receber imigrantes extra-europeus.
O debate arrancou com uma clarificação sobre quem era ou não pró-europeu. Joana Amaral Dias disse que a “Europa desistiu” e “passou a viver num capitalismo blackrock” em que cede “todos os lóbis”, desde logo ao “armamentista”. A candidata do ADN disse ainda que os “dirigentes europeus, que são fracos, empurram a Europa para a III Guerra Mundial”.
Para Joana Amaral Dias as “elites não eleitas são capturadas” e lamenta o facto de em “sete instituições europeias, apenas uma ser eleita, o Parlamento Europeu”. Após acusar a atual presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, de fazer “toda a serventia a todos os poderes instalados” defendeu que “a Comissão Europeia seja eleita.”
Também o candidato do MAS defendeu que “o problema é que temos uma Europa orientada para a guerra”. Gil Garcia destacou que a sua é a única candidatura anti-sistémica e quer mudar “a maneira como é distribuída a riqueza” em solo europeu.
Já Pedro Ladeira explicou que o partido Nós Cidadãos defende “o alargamento de toda a Europa a todos os países do continente europeu”. E acrescentou que não perdeu a “esperança de um dia contar com a Rússia na UE”.
O candidato do Volt, que se afirmou claramente pró-europeu, começou a dirigir-se com uma mensagem em inglês para os telespectadores que não falam português e prometeu disponibilizar as intervenções mais tarde com legendas. Duarte Costa aproveitou para fazer uma proposta em que, utilizando o InvestEU, haja um “discriminação positiva para regiões que sofrem com fuga de cérebros, como Portugal”.
A partir do Funchal, à distância, José Manuel Coelho juntou-se ao debate e começou por destacar a forma como os fundos europeus “fizeram toda a diferença” para a Madeira. O cabeça de lista do PTP lembrou as infraestruturas que foram construídas na Madeira com ajuda desses fundos, como o aeroporto ou o “novo hospital”, “grandes obras e grandes realizações que se não fosse a ajuda europeia seriam muito difíceis de concretizar”.
Manuel Carreira, candidato do MPT, começou por defender a “felicidade do ser humano” como bandeira do partido, condição essa que está “muito” ameaçada. Isto porque, regista, em oito mil milhões de pessoas “quatro em cada oito pessoas são tristes”. Lembrou ainda que, em 2014, o partido que representa elegeu dois eurodeputados, na altura tendo como cabeça de lista António Marinho e Pinto.
Márcia Henriques juntou-se ao grupo dos pró-europeus e defendeu que “é impensável nos dias de hoje vivermos fora da UE”. Dirigindo-se aos eurocéticos da sala, acrescentou: “Tirem isso da ideia porque não é possível”, acrescentou, salientando que “íamos ficar orgulhosamente sós, mas muitíssimo pobres”. A cabeça de lista do RIR mostrou-se ainda “convencida” de que se Bruxelas não ‘mandar’, Portugal continuará a ser o país do “salário mínimo”.
Pela Nova Direita, Ossanda Liber disse que não “põe em causa” a pertença à União Europeia, mas exige que a UE “não se torne numa Europa federalista”. O candidato do Ergue-te, Rui Fonseca e Castro, vaticinou que “a UE não vai sobreviver ao que está a acontecer no Leste da Europa” e que, por isso, é preciso “preparar-nos para viver” fora da União Europeia. Rui Fonseca e Castro diz que há uma “elite parasita” na UE que serve a “finança internacional” e diz que o país só não pode sair da UE por culpa de uma “dívida fraudulenta”.
Sobre a Guerra da Ucrânia, uma das posições mais bizarras foi a do candidato de Rui Fonseca e Castro, que pediu para fazer uma “declaração pessoal”: “De acordo com algumas declarações pode haver a ideia de a prazo se começar um processo de recrutamento ou de envio de militares portugueses para a Ucrânia (…) se houver alguma tentativa de mandar os meus filhos para a Ucrânia, eu começo uma guerra em Portugal”. O candidato disse depois, já representando o Ergue-te, que “se por acaso” Portugal fosse atacado, a NATO “não teria capacidade operacional” para defender o país. Além disso, considerou que é “discutível” que Rússia tenha começado a guerra com Kiev e que o conflito “está a servir para exterminar o povo eslavo”.
O candidato do MAS optou por destacar que a Ucrânia já está a ser apoiada “com armas, com tanques, com drones e com milhões de euros e milhões de dólares” por parte dos EUA e da UE. “Esse apoio já existe, o problema maior é que através desta guerra pode haver uma guerra maior, pode abrir-se as portas para a terceira guerra mundial”, disse Gil Garcia. Para o cabeça de lista do MAS às europeias, investir em “mais armas” só vai servir para “haver mais guerra”. Por isso, o partido defende que para a paz é necessário “aprofundar relações políticas”.
Já a candidata do ADN traçou um cenário pouco otimista, ao dizer que “perante quatro potências mundiais, 2024 pode ser o último ano”, por isso “o único caminho é a paz”. Joana Amaral Dias cita o Die Welt para dar conta que “em fevereiro 2022 existia um acordo entre Putin e Zelensky” e que “foi mandado ao charco pelos criminosos” de guerra. A cabeça de lista do ADN acrescenta ainda que “há cerca de uma semana, Putin quis ir à mesa das negociações” e diz que “a cimeira da paz na Suíça é fantoche, porque não tem a presença de Putin. Os senhores da guerra têm que ser travados”.
Houve depois os partidos que desvalorizaram a guerra na Ucrânia. Questionada acerca da posição do RIR, que não tem nenhuma referência à guerra no programa, Márcia Henriques começou por dizer que foi recebida pela embaixadora da Ucrânia em Portugal e que esta lhe transmitiu a ideia de que a situação no país invadido pela Rússia era “menos grave” do que o que é transmitido “nos telejornais”.
Pedro Ladeira acabaria por seguir a mesma ideia: “Falei com ucranianos e dizem que a guerra está em banho-maria. A Rússia só queria caminho para o mar. A guerra já tinha começado e na Europa só se interessaram após a fraudemia”. O candidato do Nós Cidadãos criticou a Europa por não ter agido logo quando houve a invasão da Crimeia e de ter optado por intervir agora apenas por “interesse financeiro”.
A candidata da Nova Direita diz que é “consensual” o apoio à Ucrânia, mas “o limite deve ser o momento em que nos tornamos beligerantes”. Ossanda Liber avisa que enviar militares para a Ucrânia ou atacar o território russo seria legitimar a Rússia para recorrer aos seus aliados que são “todo o mundo não ocidental”. E avisa: “Esta guerra não se vai conseguir ganhar no campo de batalha.”
Já Duarte Costa defendeu a criação de “Forças Armadas Europeias”, que sejam financiadas através da transferência de 60% dos orçamentos nacionais para a Defesa. Desta forma, acredita, seria possível “reforçar o pilar europeu na NATO”. Manuel Carreira, do MPT, diz que “para além daquilo que possam ser as potências”, “ guerra “não é só Ucrânia-Rússia, também é no Médio Oriente” porque “cada guerra hoje é uma guerra mundial”. Por isso, defnde o candidato do MPT, “as nossas defesas têm de ser reforçadas com serviço militar obrigatório ou serviço cívico”.
Por fim, o candidato do PTP acusou os restantes cabeças de lista dos partidos sem assento parlamentar de defenderem “abertamente a guerra” e diz que adota a mesma postura do Papa Francisco, pedindo “negociações de paz” para acabar com o conflito. Lembrando os mortos da guerra do Ultramar, onde esteve, José Manuel Coelho defendeu que a “guerra não deve ser apoiada em nenhuma circunstância” e mostrou-se “contra o primeiro-ministro ter aprovado o envio de 126 milhões de euros, tirados dos impostos dos portugueses para meter na guerra”. “O senhor [Montenegro] é um insensato”.
Os candidatos foram confrontados com proposta ou ideias que os distinguem. Joana Amaral Dias defendeu o “dinheiro físico” como um garante de liberdade, uma forma de proteger “o anonimato” e uma “defesa contra os ciberataques”. Disse ainda não reconhecer ao BCE autoridade para gerir uma moeda digital.
José Manuel Coelho foi desafiado a apontar o investimento mais urgente de que Portugal precisa. Mas optou por responder exatamente com o oposto: “Nós precisamos de investimento não em obras viárias, em autoestradas, nem em infraestruturas em cimento e betão porque isso só favorece a corrupção”.
Ainda na fase de análise a propostas fora da caixa, Márcia Henriques defendeu a criação de uma Constituição Europeia e de um Tribunal Constitucional Europeu, que na prática funcione como um “tribunal de recurso” do “nosso Tribunal Constitucional”.
A candidata da Nova Direita atacou o wokismo, dizendo que “hoje já não se pode falar”. “Tudo o que se diz fora do politicamente correto, somos logo atirados aos lobos”, afirma. Ossanda Liber lembra que foi convidada para “conferência de conservadores em Bruxelas que foi cancelada”. A candidata diz que tem direito a ser “conservadora” sem ser considerada “fascista”.
Pedro Ladeira, do Nós Cidadãos, defendeu o “fim do celibato na Igreja” — incluindo como incentivo à natalidade na Europa — e questionou: “Porque é que os padres não podem ter família?” E disse não perceber que uma Igreja “que aceita a transexualidade e não aceita o fim do celibato”.
Já o antigo juiz Rui Fonseca e Castro criticou o que considera ser o financiamento de ideologias de género e da “promoção da homossexualidade” que acredita que acontece nas escolas. “Dizem às crianças que podem ser menino ou menina e devem experimentar ser as duas coisas”, atira.
Duarte Costa explicou a proposta a proposta do Volt de existir um “primeiro-ministro da União Europeia” e defende que “a Comissão Europeia deve ser eleita pelo Parlamento Europeu”. E aproveitou para defender também um “ministério das Finanças europeu que não cobra mais impostos às pessoas, mas às grandes empresas”. Este ministério europeu teria mais meios de que os ministérios nacionais.
Já o candidato do MAS denunciou que os deputados “têm um bolo de mais de 47 mil euros por mês: 10 mil euros de salário, mais de 5 mil euros para despesas gerais que não precisam de apresentar faturas e ainda um bolo de 28 mil euros por mês para despesas com pessoal”. Desta forma, o partido — se conseguir eleger — quer propor uma redução “a metade quer dos salários, quer das mordomias” dos eurodeputados.
Joana Amaral Dias defendeu que é necessário “combater máfias de imigração” que não consideram se os imigrantes “vão ser ou não bem tratados”. A candidata do ADN aproveitou ainda o tempo de debate que lhe resta para criticar a RTP por não ter estado presente numa ação de campanha do partido junto a imigrantes em Lisboa. Joana Amaral Dias passou a última noite numa tenda para alertar para a imigração.
O cabeça de lista do MPT mostrou-se “muito” preocupado com o tipo de imigrantes que chegam ao país e recordou que o lema do partido é “causas e integração”. Já Gil Garcia, do MAS, diz que “os empresários em vez de andarem a pedir imigrantes, têm de aumentar os salários”. Quanto à candidata do RIR, Márcia Henriques, optou por destacar que a “o problema da imigração é uma AIMA que não funciona”.
José Manuel Coelho, do PTP, explicou “o que faz afluir os imigrantes à Europa é a moeda e a qualidade de vida da Europa” e isso “acontece porque os países africanos são roubados pelas grandes empresas da UE e os países ficam pobres”.
Já Duarte Costa diz que o Volt quer “combater a narrativa anti-imigração que prejudica empresas europeias na sua competitividade”. Além disso, lembra que esteve nos Anjos, em Lisboa, com pessoas disponíveis a trabalhar no que for, mas “não conseguem porque ficam presos em trâmites administrativos”.
Rui Fonseca e Castro, do Ergue-te, diz que os “extra-europeus estão a ocupar os nossos empregos e as nossas casas”. O candidato defende uma “população europeia” que é “cristã” e diz mesmo que o “judaísmo é inimigo do cristianismo”. Rui Fonseca e Castro defende que se promova “a natalidade para que os portugueses aumentem”. Sobre o porquê de defender apenas imigrantes europeus, o candidato do Ergue-te diz que “somos europeus, nós não somos nem africanos, nem asiáticos”.
Pedro Ladeira, do Nós Cidadãos, diz que é necessário de “fazer uma campanha dirigida ao tipo de imigrantes que precisamos”. A candidata da Nova Direita diz que “o direito de asilo transformou-se numa enorme rede de tráfico humano”. Ossanda Liber diz que é preciso “dissuadir as pessoas de virem [para a Europa] por redes ilegais” e diz que “os consulados devem promover a imigração legal”. As regras que existem, defende Liber, “são insuficientes”.