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Antónia contratou videntes para recuperar Euromilhões. Esgotou poupanças, arrastou amigos para o esquema e agora pode ser condenada – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 16, 2024


O motivo que a levou lá, revelaria, é um episódio passado numas férias, em França, durante as quais apostou no Euromilhões com uns amigos. Acredita que os números que escolheram em conjunto e que foram a jogo no dia 20 de janeiro de 2012 eram os vencedores, pelo que deveriam ter recebido 30 milhões de euros. Mas o prémio nunca chegou a ser reclamado e, agora, Antónia teme que a fortuna esteja irremediavelmente perdida.

O astrólogo ouve e, a certo ponto, desenha a mão da mulher num papel para, de seguida, o queimar numa bacia, onde aparecem alguns números. “Os espíritos puxam o euromilhões”, profetiza. Aquele encontro com Prodino, em 2019, foi o primeiro de muitos naquele consultório, em que lhe seria reiterado que era uma mulher de sorte, mas que era preciso desbloqueá-la.

Foi através do astrólogo que Antónia acabou por contactar com Madi e Nadis, dois guineenses — um de Guiné Bissau, o outro de Conacri — com nacionalidade portuguesa que se apresentavam como videntes e a quem viria a entregar cerca de 74 mil euros para recuperar o prémio do Euromilhões. Conheceu Madi primeiro, no início de 2020, quando Prodino a acompanhou a sua casa num serviço em que terá feito surgir dinheiro dentro de um baú. Madi, contou Antónia em tribunal, “foi para a sala com a mala, onde colocou o dinheiro que ela lhe tinha entregue, e fez o serviço”. “Depois do serviço”, continua a ler-se no despacho do tribunal, “ele chamou-a, e ela viu que a mala estava cheia de notas de 20 euros. Ele fechou a mala, colocou velas em volta da mesma, e disse-lhe para trancar a sala que ninguém poderia entrar na mesma”.

Madi ter-lhe-á garantido que as notas de 20 euros se teriam multiplicado. No interior, depois do “serviço”, haveria agora 20 mil euros.

Uma semana depois, a cena repete-se. Prodino chega com uma nova mala. Antónia entrega-lhe mais 35 mil euros em notas. O dinheiro seria colocado no baú e Nadi faria mais um “serviço” para multiplicar aquele valor. “Depois ela e o Prodino foram chamados à sala” e Nadi “disse que puxou um milhão de euros, mas que não se podia mexer no dinheiro” porque o baú “estava quente”. “Saíram os três de recuas da sala, fechou-se a porta da sala, e Nadi disse-lhe que depois lhe iria entregar o dinheiro.”

Antónia manteve-se em contacto com Prodino — cuja identidade a PJ nunca conseguiu apurar — e com Madi, que passou a visitá-la várias vezes para fazer mais “puxadas” de dinheiro. Foi por conselho dele que, durante mais de um ano, deixou um baú na sala, onde o dinheiro deveria estar a ser gerado, e outro no quarto, protegido pela tal vela que serviria para afastar espíritos.

Nadi só lhe seria apresentado quase dois anos depois, no primeiro dia de 2022, em sua casa. Nessa ocasião, os dois homens pediram-lhe 35 mil euros. Inicialmente não quis aceder, estava cansada de não ter retorno e queria reaver o que lhe pertencia. A resposta que lhe deram seria repetida durante toda a relação: isso ia estragar o serviço e era preciso acabar o que se tinha iniciado. Nesse momento, e sem forma de conseguir continuar a pagar, decidiu pedir aos que lhe eram próximos, incentivada pelos dois videntes.

Isabel não estranhou quando, em fevereiro, a prima lhe ligou a perguntar se a podia visitar. Quando apareceu, Antónia levava, porém, um pedido inesperado. Precisava com urgência de um empréstimo de 15 mil euros. O motivo? Tinha vencido o Euromilhões em França, mas precisava de pagar ao advogado que a estava a ajudar a reclamar o prémio. A mulher, reformada e, na altura, a travar uma luta contra um cancro, acedeu. Tinha, aliás, o dinheiro consigo, estava a juntá-lo para as obras da casa.

Nesse dia, Antónia despediu-se da prima com o dinheiro na sua posse e com a promessa de não só devolvê-lo em oito dias, como também de lhe oferecer uma casa como forma de agradecimento pela ajuda. Terminado o prazo, Isabel não viu sinal nem de uma ou outra coisa, apenas um telefonema a pedir mais 15 mil euros, a última tranche de que o advogado precisaria para desbloquear o caso.





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