A ficha técnica revela como esta criação, cujo mecanismo se encontra habilmente escondido, permite saber hoje como era aquela construção no passado, com algumas adaptações à realidade nacional. O globo em metal que coroa o obelisco de mármore, e que indica as horas, tem o mapa de Portugal Continental, incluindo os nomes de várias cidades, regiões, rios, etc. Está dividido por dois “anéis” em metal branco gravados com numeração romana e árabe, destinados à indicação das horas e dos minutos, efetuada através da cabeça de uma serpente que se encontra enrolada na base do globo.
Com 96 centímetros de altura e 49 de largura (com plinto as dimensões ascendem aos 178 x 54 cm), assenta sobre quatro pés formados por esferas achatadas em metal e pequenas placas quadrangulares em mármore branco e negro. Em cada ângulo da base estão colocados plintos de secção quadrangular em mármore branco com panóplias de armas em bronze dourado, figurando couraças, elmos e escudos, numa alusão aos quatro continentes, lê-se na nota descritiva da obra.
De acordo com o conservador, das três novas aquisições esta peça é que a vai exigir uma intervenção mais profunda, e que não deverá estar pronta para ser mostrada antes do próximo ano. “Conserva todo o mecanismo interior mas não está operacional. Já tivemos contacto com o mestre relojoeiro da Casa Pia, Paulo Anastácio, que viu a peça e já a desmontou e percebemos que está lá tudo, precisa é de ser afinado, também os mármores e bronzes vão precisar de ser limpos. Temos que reunir estas três especialidades.”
Em 1807, acompanhou a restante família ao Brasil, regressando 13 anos depois para viver ainda oito em solo português. Morreu na Ajuda, mas Queluz foi um dos locais de eleição da princesa que desposou, a 21 de fevereiro de 1777, o seu próprio sobrinho, o príncipe da Beira, D. José. Três dias depois, com a morte do pai e soberano, a sua irmã mais velha e agora sogra, D. Maria I subia ao trono. Falamos de Maria Francisca Benedita, que enviuvou em 1788, não teve filhos nem chegou a consorte. Mas a quarta e última filha do rei D. José I e da rainha D. Mariana Vitória, então príncipes do Brasil, eternizou-se pelo papel filantrópico, ajudando a erguer com o seu pecúlio o asilo de Runa — também cultivava o gosto pela música e pela pintura, e é este último que volta a merecer atenção nesta lista de aquisições.
A princesa que viveu entre 1746 e 1829 terá recebido lições do mestre Domingos Sequeira, mas escasseiam os testemunhos desse seu gosto particular, daí a relevância da entrada no acervo de uma pintura da Virgem Maria assinada pela princesa, que constitui um bom exemplo do tipo de obras que produzia: pequenos formatos, com figuras de santos ou cenas de cariz religioso, destinadas à devoção privada, para colocação num quarto ou oratório. “Figuras religiosas muitas vezes pintadas através de modelos que faziam parte das coleções reais, recriando, também a partir de gravuras”, descreve Hugo Xavier.