Escolher as melhores séries de um ano é tarefa cada vez mais turtuosa. E basta um argumento matemático para o justificar: há muitas, para muitos são de mais e deviam ser menos, o que transforma a atribuição de tal título absolutista numa progressão aritmética de impossibilidade. Mas o que não é impossível é confessarmos nós, de nossa justiça, quais os nossos títulos favoritos, os momentos televisivos (leia-se “episódios”) que marcaram o nosso ano, as personagens que desempenharam tal função no respetivo campeonato e — não menos importante — aquelas produções nas quais depositávamos esperanças e só nos deram tristezas.
Esta é a lista de 2024, com as escolhas dos jornalistas e dos colaboradores que habitualmente escrevem sobre a matéria no Observador. Trata-se do elenco que melhor protagonizou um ano em que a ficção repartida aos capítulos não encantou como fez noutros anos. Talvez porque ainda vivemos as sequelas de uma paragem nas produções ditada pela greve dos argumentistas em 2023. Talvez porque faltaram títulos unânimes como Succession foi nos balanços mais recentes. E talvez porque, de The Bear a House of the Dragon, os regressos não deslumbraram, longe disso. Tudo isto junto dá fôlego a quem argumenta que as séries estão a perder para os filmes (não necessariamente para as salas de cinema). Será? Provavelmente, teremos respostas em 2025. Até lá, recapitulemos.
MELHOR SÉRIE: “Ripley” (Netflix)
Caro, leitor, aqui nos encontramos passado mais um ano de “aindanãoviste?!tensdever!”. Mas, de todas essas recomendações/intimações dos amigos, acredite: a maior parte é para esquecer. Não são “a coisa mais genial” que já apareceu, nem “absolutamente incríveis”, provavelmente até são repetições de fórmulas bastante banais, que é para onde toda a televisão da era do streaming anda a correr (os anos de ouro já passaram, lamento.
Neste momento, o que vivemos é apenas o tempo de travagem da grande máquina em que se investiu como nunca até à imobilização completa). Se quiser guardar qualquer coisa de 2024, veja Ripley, minissérie de oito episódios, genial adaptação da obra de Patricia Highsmith, maravilhosa e surpreendentemente filmada pelo mestre Steven Zaillian, que só conhecíamos do guionismo, e dentro da qual apetece, pura e simplesmente, morar. A ser justo, também elegeríamos o Tom Ripley de Andrew Scott melhor personagem do ano e os episódios tecnicamente identificáveis como “o do barco” e “o do gato”, ex aequo, os melhores do ano, mas, se a ideia é ajudá-lo a descobrir coisas que, eventualmente, não tenha visto, faremos o esforço de evitar a repetição.
MELHOR EPISÓDIO: “Bósnia”, episódio 2 de “Os Corredores do Poder” (Filmin)
Quase todos os anos temos trazido, deliberadamente, para esta seleção pelo menos uma série documental. Não só porque “as regras” não o proíbem, mas porque as linguagens de documentário, ficção e da chamada “reality TV”, dos “reality shows” aos “factual” e “true crime”, estarem cada vez mais próximas e esbatidas. Os Corredores do Poder é uma série fundamental para compreender o tempo geopolítico que vivemos.