A consultora Oxford Economics considerou nesta segunda-feira que o recente ataque no norte de Moçambique “cria dúvidas” nos decisores dos grandes investimentos no gás natural, dos quais este pais africano depende para relançar o desenvolvimento económico.
O ataque a Macomia vai criar dúvidas na mentes dos decisores na TotalEnergies e na ExxonMobil que, juntamente com o parceiro Eni, deveriam muito em breve tomar uma decisão final de investimento sobre outro projeto”, lê-se num comentário aos mais recentes ataques no norte de Moçambique, zona que alberga vastas reservas de gás natural.
“Os desenvolvimentos também causaram consternação em Maputo”, acrescentam os analistas no comentário enviado aos investidores, e a que a Lusa teve acesso.
Lembram que o fundo soberano de Moçambique já recebeu “94,2 milhões de dólares (87,2 milhões de euros) em receitas da exploração de gás e petróleo, com 20 milhões de dólares (18,5 milhões de euros) do total a serem angariados só no primeiro trimestre deste ano”.
O governo, concluem, “está desesperado por convencer os investidores a avançarem com os projetos anunciados e sabe que mais adiamentos só vão atrasar ainda mais o desenvolvimento prometido pela exploração de gás”.
O Ministério da Defesa Nacional moçambicano confirmou na sexta-feira um “ataque terrorista”, durante a madrugada, à vila de Macomia, garantindo que um dos líderes do grupo foi ferido pelas forças armadas e outro morto.
Terroristas deixam Macomia e população começa a regressar
“O ataque durou cerca de 45 minutos e os terroristas foram prontamente repelidos pela ação coordenada das nossas forças, que obrigaram o inimigo a recuar, em direção ao interior do posto administrativo de Mucojo”, lê-se num comunicado do Ministério da Defesa Nacional.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, já tinha confirmado, ao final da manhã de sexta-feira, este ataque à sede distrital de Macomia, explicando que aconteceu numa zona antes controlada pelos militares da missão dos países da África austral, que está em progressiva retirada até julho.
“É verdade que é uma zona ocupada pelos nossos irmãos que nos apoiam, em retirada. Mas os que estão no terreno são 100% os moçambicanos. Talvez possa haver um reforço (…). Como estão de saída. Espero que consigamos nos organizar melhor, porque o tempo de transição dá isso”, reconheceu, enaltecendo a intervenção em curso dos militares moçambicanos.
A vila de Macomia situa-se na estrada Nacional 1 (N1), que faz a ligação aos distritos mais ao norte, casos de Muidumbe, Nangade, Mueda, Mocímboa da Praia e Palma, pelo que este ataque interrompe igualmente a comunicação por terra aos cinco distritos.
A província enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico, o que levou a TotalEnergies a suspender, em 2021, o projeto de construção de uma fábrica de gás natural liquefeito.
Em fevereiro, o presidente da petrolífera francesa disse antever o regresso ainda este ano, mas condicionou o reinício das obras à garantia de segurança, avisando que se tiver de parar as obras novamente, o projeto será provavelmente abandonado.
Moçambique tem três projetos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.
Dois desses projetos, o da TotalEnergies e o da ExxonMobil, têm maior dimensão e preveem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.