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BCE passou a ter “pressa” de descer os juros, dizem analistas. Inflação demasiado baixa passou a ser um risco – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 24, 2024


O BCE passou a ter “pressa” de baixar as taxas de juro, dizem os analistas que veem sinais de uma “inversão de marcha assinalável” nas últimas declarações de responsáveis da autoridade monetária. Se o discurso, até aqui, fazia prever uma descida lenta e gradual das taxas de juro, nos últimos dias os mercados financeiros passaram a antecipar um ritmo mais rápido, incluindo um possível corte de 50 pontos base já em dezembro. As taxas Euribor já estão a refletir essa hipótese, caindo para mínimos de dois anos no prazo a 12 meses.

No final do verão, a expectativa da maior parte dos analistas era de que o BCE iria em setembro fazer apenas um pequeno corte dos juros (o segundo, depois do de julho) e em outubro viria uma “pausa”. Só depois, em dezembro, seria feita uma nova descida, também de 25 pontos base – essa era a previsão dos mercados. A realidade está a revelar-se diferente: não só não houve “pausa” em outubro (decidiu-se mais uma redução de 25 pontos) como os analistas já admitem que na reunião de dezembro a redução pode ser não de 25 mas, sim, de 50 pontos.

Em entrevista à agência Bloomberg, Mário Centeno defendeu que o BCE não se deve “restringir a uma métrica de avançar [na redução dos juros] apenas em passos de um quarto de ponto percentual”, ou seja, 25 pontos base, a dose mínima que os bancos centrais costumam utilizar.

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“Numa economia que passou os últimos 10 anos com uma inflação média de 0,9%, para uma economia que não está a investir, para uma economia que é apoiada por um mercado de trabalho que mostra alguns sinais de fraqueza, temos de considerar a possibilidade de avançarmos com passos maiores”, afirmou o governador do Banco de Portugal, que se afirmou como um dos membros do Conselho do BCE mais defensores de uma descida rápida dos juros.

Centeno não é o único. O francês François Villeroy de Galhau, governador do Banco de França, alertou na terça-feira para um risco que estava fora do radar até bem recentemente: o risco de a taxa de inflação cair para um valor substancialmente inferior ao objetivo do BCE (que é de 2%, no médio prazo). Perante esse risco, Villeroy de Galhau defendeu que o BCE deve ser “ágil” e reagir de forma oportuna aos sinais de que o crescimento económico está a fraquejar.

O ponto-chave nesta discussão é que a taxa de juro, que na última semana foi reduzida para 3,25%, ainda está num nível assumidamente “restritivo” da atividade económica – uma restrição da atividade que se justifica quando um banco central procura “arrefecer” a inflação, isto é, o ritmo de subida dos preços. Estima-se que uma taxa mais “neutral”, que nem restringiria nem impulsionaria a atividade económica, rondaria os 2%. A questão é saber quão rapidamente o BCE pretende chegar lá.

“Os comentários vindos do BCE nesta semana indicam, claramente, que aquilo que parecia ser uma decisão equilibrada de reduzir gradualmente a restritividade da política monetária está, neste momento, a transformar-se num pânico para tentar atingir um nível ‘neutral’ o mais rapidamente possível“, comenta Carsten Brzeski, economista-chefe do banco holandês ING que considera a “pressa” demonstrada pelos responsáveis do BCE uma “inversão de marcha assinalável” face à orientação que era dada até há poucas semanas.

As taxas Euribor desceram a 3, a 6 e a 12 meses para novos mínimos desde abril e janeiro de 2023 e outubro de 2022. FONTE: Euribor-rates.eu

Também a equipa de analistas liderada por Richard McGuire, do Rabobank, assinala que há um “grupo ainda pequeno mas crescente” de responsáveis do BCE que estão a argumentar que a autoridade monetária está a “arrastar os pés” e a ser ultrapassada pelos acontecimentos. “Estes responsáveis defendem que será necessário haver cortes mais rápidos para evitar que a inflação caia para níveis demasiado baixos“, dizem os analistas, acrescentando que “a persistência da inflação [em níveis demasiado altos] já não é o risco dominante – na verdade, existe um risco semelhante de que a inflação desça demasiado, sobretudo se o crescimento continuar fraco”.

O Eurostat estimou que a inflação subjacente, que exclui os preços (mais voláteis) da energia e dos alimentos, desceu em setembro para 2,7%, um “abrandamento notável”, disse o Goldman Sachs numa nota de análise difundida nesta quinta-feira. Já a inflação global baixou para os 1,7%, também sinalizando que o ritmo de subida dos preços estará a ser mais rápido do que o próprio BCE esperava.

Ao mesmo tempo, foram divulgados nesta quinta-feira mais indicadores avançados sobre a atividade económica na zona euro que apontam para uma estagnação do crescimento económico, em níveis baixos. O índice de gestores de compras (PMI), um importante indicador calculado pela S&P, subiu apenas uma décima para 49,7 pontos em outubro, sendo que qualquer valor abaixo de 50 pontos sinaliza uma contração da atividade económica.

Carsten Brzeski, do ING, diz que “depois de o BCE ter sido lento na resposta ao aumento da inflação [em 2022] e possivelmente ter parado tarde demais com os aumentos das taxas [em 2023], o BCE parece agora determinado a antecipar melhor a curva e voltar a colocar as taxas de juro num nível mais neutro o mais rapidamente possível.

A Euribor desceu nesta quinta-feira nos prazos a três, a seis e a 12 meses para novos mínimos desde abril e janeiro de 2023 e outubro de 2022. Porém, no prazo mais curto dos que são utilizados no crédito à habitação em Portugal, a três meses, manteve-se acima de 3%.

A taxa Euribor – que é uma taxa interbancária, definida em mercado, mas que segue de perto as expectativas de taxas do BCE – baixou para 3,072% no prazo a três meses, continuando acima da taxa a seis meses (2,920%) e da taxa a 12 meses (2,614%).

A taxa Euribor a seis meses, que passou em janeiro a ser a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável e que esteve acima de 4% entre 14 de setembro e 1 de dezembro de 2023, baixou para 2,920%, um novo mínimo desde 23 de janeiro de 2023.

No prazo de 12 meses, a taxa Euribor, que esteve acima de 4% entre 16 de junho e 29 de novembro de 2022, também recuou, para 2,614%, um novo mínimo desde 28 de outubro de 2022.

A média da Euribor em setembro desceu a três, a seis e a 12 meses, menos acentuadamente do que em agosto e com menos intensidade nos prazos mais curtos. Essa média, que serve para calcular as revisões das prestações pagas aos bancos, desceu em setembro 0,114 pontos para 3,434% a três meses (contra 3,548% em agosto), 0,167 pontos para 3,258% a seis meses (contra 3,425%) e 0,230 pontos para 2,936% a 12 meses (contra 3,166%).





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