O Ministro dos Negócios Estrangeiros guineense disse esta segunda-feira que “acompanha com muita apreensão” a situação em Moçambique, e apelou a todos, e diretamente ao candidato que contesta os resultados eleitorais, Venâncio Mondlane, que procurem a via do diálogo.
Carlos Pinto Pereira, chefe da diplomacia guineense, fez o apelo numa conferência de imprensa em que procedeu ao balanço dos “ganhos alcançados” pelo seu pelouro, com o apoio do Presidente do país, Umaro Sissoco Embalo, no ano que termina.
“O nosso apelo, também dirigido diretamente para o candidato Mondlane, que procure encontrar mediadores, que procure encontrar o caminho do diálogo para resolver o problema em Moçambique“, disse.
Carlos Pinto Pereira admitiu que Venâncio Mondlane “tem alguma capacidade de mobilização” do povo moçambicano e apelou por isso para que procure a via do diálogo para a resolução das diferenças com o poder vigente em Moçambique.
Respondendo a uma pergunta da Lusa sobre a situação naquele pais, marcada por atos de violência contestando os resultados das eleições de 9 de outubro, Carlos Pinto Pereira afirmou que a Guiné-Bissau tinha informações que apontavam que as eleições “tinham decorrido bem”.
“Acompanhamos com muita apreensão o que se passa em Moçambique, porque, de facto, não era essa a nossa expectativa”, afirmou.
Pelo menos 175 mortos na última semana de manifestações em Moçambique
O responsável guineense disse que “alguns observadores” que acompanharam as eleições em Moçambique admitiram a existência “de algumas irregularidades”, mas que, globalmente, não colocavam em causa o processo.
“Aquilo que nós poderemos dizer é, sobretudo, aproveitar esta oportunidade para lançar um apelo aos nossos irmãos moçambicanos para que procurem, pela via do diálogo, a solução deste problema, que não caiam na via da procura da solução por via da força, porque, naturalmente, soluções de força não resolvem problema nenhum”, observou Carlos Pinto Pereira.
Moçambique já viveu uma guerra civil e Carlos Pinto Pereira não acredita que quererá voltar a experimentá-la.
“Os nossos irmãos moçambicanos sabem o que foi a guerra, sabem quais são os problemas e as consequências de uma guerra civil, esperamos todos que essa via seja definitivamente afastada no cenário político em Moçambique”, sublinhou o responsável guineense.
O chefe da diplomacia guineense lamenta que já se assista a pessoas que tentam sair de Moçambique, investidores que abandonam projetos e atos de vandalismo, tudo coisas “muito graves”, afirmou.
“São, de facto, ações que não são boas, não são abonatórias para Moçambique”, destacou Carlos Pinto Pereira.
O Conselho Constitucional (CC) proclamou em 23 de dezembro Daniel Chapo como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 9 de outubro.
Este anúncio provocou novo caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane — que obteve apenas 24% dos votos — nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
Pelo menos 175 pessoas morreram na última semana de manifestações pós-eleitorais em Moçambique, elevando para 277 o total de óbitos desde 21 de outubro, e 586 baleados, segundo novo balanço feito pela plataforma eleitoral Decide.