• Sáb. Out 26th, 2024

Feijoada Politica

Notícias

Bónus do Governo a reformados alimenta “atitude de pedinchice das pessoas em relação ao Estado”, avisa economista Ricardo Reis – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 11, 2024

Ricardo Reis, professor na London School of Economics, não tem “um plano” para voltar a Portugal, embora isso “esteja no horizonte”. O economista garante, depois de o jornal Sol ter escrito que era um dos nomes possíveis para suceder a Mário Centeno no Banco de Portugal (além de Vítor Gaspar), que não foi convidado para nada. “Se surgirem oportunidades, ou não, logo se vê”, acrescentando que, na sua opinião, Centeno está a fazer “um bom trabalho” .

Em entrevista ao Observador, através de videoconferência, Ricardo Reis também mostra “muita preocupação” com o facto de a oposição estar a fazer aprovar medidas com impacto na receita – como o fim das portagens nas ex-SCUT – deixando para o Governo a responsabilidade de equilibrar no orçamento aquelas medidas. Mas o Governo também não está isento de críticas, desde logo pelo “bónus” aos reformados aprovado recentemente, e que o economista diz levantar problemas.

“Acho que as preocupações com o défice vão ter de voltar ao debate público e, em medidas pontuais, quer do Governo, quer da oposição, estamos a ver, de facto, um agravar das contas públicas que me parece perigoso“, avisa o economista, que receia que a Europa pode viver uma nova crise da dívida nos próximos anos.

O BCE deve, nesta quinta-feira, fazer mais uma pequena descida das taxas de juro, de 25 pontos-base. A confirmar-se, esta será a segunda descida dos juros nesta fase do ciclo, mas não é certo que as taxas voltem a descer nos meses seguintes. Quão rápido é que acha que vai ser este movimento de descida dos juros?
Vamos ver. É verdade que, relativamente a esta quinta-feira, parece ser um dado adquirido que vai haver um corte. Justifica-se que assim seja, porque a inflação está perto dos 2% e não há, digamos, uma exuberância na economia ou sinais nos mercados financeiros que apontem para que a inflação esteja prestes a disparar outra vez. Sendo assim – e tendo em conta que as taxas de juro estão relativamente altas em relação ao que seria o habitual, ou o normal, para manter a economia e inflação inalterável – faz sentido cortar as taxas de juro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E depois, nos meses seguintes?
Olhando para os próximos seis a 12 meses, faz sentido também que as taxas de juro baixem para um nível mais normal ou neutral. A questão é saber quanto vão baixar – e aí há uma acesa discussão. Mas é uma discussão que não vai ser decidida nas próximas semanas mas, sim, nos próximos meses, dependendo da forma como a economia reagir aos cortes das taxas de juro. E, em segundo lugar, com que ritmo e com que velocidade é que se deve cortar? Aqui, há também um debate aceso, interessante e importante, entre umas “pombas” que querem cortar muito depressa e uns “falcões” que querem cortar mais devagar. Neste momento parece-me que, tendo a conta as três reuniões que aí vêm, a minha expectativa é que não haja um corte em todas mas, digamos, descidas reunião sim e reunião não. Mas vamos ver, depende muito dos dados que aí vierem.

BCE deve baixar juros em 25 pontos-base, para 3,5%


Mostrar


Esconder

No dia em que vão ser divulgadas novas previsões macroeconómicas preparadas pelo staff do BCE, os analistas consideram ser quase um “dado adquirido” que esse novos dados irão dar conforto a Christine Lagarde para que seja anunciado mais um corte das taxas de juro nesta quinta-feira.

A confirmar-se, deverá ser um novo corte de 25 pontos-base, depois de outro (na mesma medida) que foi anunciado antes do verão. A descida deverá levar a taxa dos depósitos, a mais importante para a política monetária do BCE nesta fase, para os 3,5%, um nível que o próprio banco central reconhece que ainda é um nível “restritivo” da atividade económica.

Mário Centeno afirmou, numa entrevista à Bloomberg a 23 de agosto, que em setembro os membros do Conselho do BCE terão uma discussão “fácil” que deverá terminar com a tal descida dos juros em 25 pontos-base.

Já a próxima reunião, em outubro, será um pouco mais “engraçada”, disse Centeno, já que se espera que os chamados “falcões” do BCE travem a possibilidade de haver, nessa reunião, mais uma descida – que seria a segunda consecutiva e a terceira no espaço de quatro reuniões de política monetária do BCE.

Mesmo com esta provável descida, na quinta-feira, as taxas de juro na zona euro ainda vão estar num nível que o próprio BCE admite ser “restritivo” da atividade económica, nos 3,5%. Estima-se que um nível de 2%, em torno desse valor, seria o tal nível neutral, que é difícil de estimar. Ou seja, aquele nível em que a política monetária nem está a constranger, nem a estimular a atividade económica: acredita que podemos ter juros neste nível de 2% ao longo do próximo ano?
Esses 2% seriam, se quisermos, o nível onde íamos terminar esta sequência de cortes. A propósito, esses 2% são uma estimativa que já é bastante mais alta do que era há dois ou três anos, quando se achava que o nível normal rondava os 1,5%. A estimativa foi revista para cima, tendo em conta o que aconteceu na economia nos últimos dois anos. Eu sou da opinião de que [o nível neutral] é mais alto do que isso. Estou à espera de que as taxas de juro estabilizem mais perto dos 2,5% – entre os 2,5% e os 3%. Agora, [o objetivo] é chegar lá num espaço de uns 12 meses, por exemplo. Mas o ritmo a que se chega lá é que vai depender muito dos choques que, entretanto, surgirem na economia. Assim, seja o tal nível neutral os 2% ou os 2,5%, a realidade é que, estando nós em 3,5%, continuamos acima desse nível. Mas repare que, se essa fosse uma taxa de juro muito restritiva a prova de que isso era verdade era que a inflação estaria a descer de uma forma acelerada. No entanto, a inflação continua acima de 2% e sem grande perspetiva de estar a cair de uma forma acelerada. Aliás, as próprias previsões do Banco Central Europeu não mostram a inflação a descer muito abaixo dos 2%.

Ou seja, não podemos dizer que a taxa de juro está objetivamente muito restritiva… À luz das previsões que temos…
Se a taxa neutral estivesse abaixo de 2%, como muitos diziam aqui há dois ou três anos, devíamos estar a ver a inflação a cair com uma pedra em direção ao chão. Não está. Está muito, muito estável, um pouco acima dos 2%. Se, de facto, se achar que a inflação está completamente estável, então isso quer dizer que, neste momento, os [atuais] 3,75% são o tal nível neutral. Eu acho que ninguém acredita nisto assim mas, de qualquer forma, o facto de [a inflação] não estar a cair muito é o que leva os “falcões” a dizer que não há grande pressa em reduzir a taxa de juro. Vamos lá ver.

No fundo, os “falcões” dizem que não é preciso baixar muito mais a taxa de juro, porque aparentemente a inflação já está a convergir para aquele objetivo. Devagarinho, mas está, é isso?
Exatamente. E não está, sobretudo, a exagerar, ou seja, não está a passar para baixo dos 2%. Se tivéssemos previsões de que a inflação estava já nos próximos seis meses a ir para 1%, ou 1,5%, não deveríamos estar a cortar de uma forma muito rápida e muito agressiva para voltar aos 2%.

Os banqueiros centrais neste caso continuam a mostrar muita cautela em cantar vitória – e percebe-se porquê – mas, na sua opinião, acha que a inflação está controlada? É um problema que está para trás das nossas costas?
Três respostas. Em primeiro lugar, tendo em conta onde estamos hoje: sim, o problema da inflação nos últimos três anos está resolvido, está acabado, no sentido em que, se não acontecer mais nada, estando as coisas como estão, com o BCE a seguir a sua política de taxa de juro de forma previsível nos próximos seis meses, sem mais qualquer choque vindo de diferentes eventos da economia, a taxa de inflação vai convergir para os 2% nos próximos meses. Nesse sentido, sim, o desastre da inflação nos últimos três anos está controlado. Segundo ponto, quer isto dizer que não vamos ter novos eventos na economia que vão puxar a inflação para cima ou para baixo e que BCE vai ter de responder a eles? Com certeza que sim, que irá responder a eles. E, mais do que isso, na minha opinião, são mais os choques que eu antevejo que puxam a inflação para cima do para baixo. As eleições americanas, os problemas geopolíticos, a própria política industrial europeia… São tudo fatores a puxar a inflação um pouco para cima. Eu prevejo mais possíveis choques que puxem a inflação para cima, do que para baixo, e espero que o BCE esteja disposto a subir as taxas de juro se for necessário, para manter a inflação sob controle.





Source link

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *