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Braço de ferro da direita conservadora adia futuro de Costa – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jun 18, 2024

Fontes conhecedoras do processo, porém, relativizam os ataques de que António Costa foi sendo alvo ao longo dia, atribuindo estas renovadas dúvidas às clássicas manifestações de força que são feitas à mesa das negociações. Segundo apurou o Observador, o socialista mantém as mesmíssimas condições que tinha até aqui: continua a ser o grande favorito a ocupar o cargo, mas o processo negocial não será fácil e depende de muitas geometrias de votos.

Em concreto, Tajani terá atuado em total coordenação com Meloni, de quem é parceiro de governo, numa tentativa de obter mais influência de Itália e dos Conservadores e Reformistas (ECR, família europeia liderada pela italiana) na constituição da próxima Comissão. Os italianos estarão de olho na vice-presidência (quiçá para a própria Meloni) e em cargos de comissários numa das áreas económicas e na defesa.

O jogo parece ter sido reforçado pela Hungria de Viktor Orbán, cujo partido, o Fidesz, está atualmente sem família política (depois de ter sido expulso do PPE), mas mantém proximidade com a líder italiana: “Seria muito difícil para a Hungria apoiar um segundo mandato de Von der Leyen”, declarou o ministro János Bóka ao Politico a meio da reunião. Contudo, o mesmo governante garantiu que o executivo de Viktor Orbán não se opunha às sugestões de António Costa para o Conselho Europeu, Roberta Metsola para o Parlamento Europeu e Kaja Kallas para alta-representante da diplomacia europeia.

A posição não parece ser exatamente por pureza ideológica. Em teoria, seria de esperar que a Hungria (que mantém uma posição mais próxima da Rússia) se opusesse mais a um nome como Kallas do que a Von der Leyen, por exemplo, ou a um socialista como Costa, de quem o Fidesz está ideologicamente mais distante. Ao final da noite, o próprio Orbán deixava-o claro que a questão era a falta de presença das forças mais à direita no próximo governo europeu que motivava aquela reação.

No X (antigo Twitter), Orbán escreveu que, nesta cimeira, “a vontade do povo foi ignorada” pelo PPE, que preferiu aliar-se aos socialistas e liberais do que aos conservadores e outras forças da direita. Três horas antes, tinha publicado fotos do encontro, destacando alguns líderes em particular. A primeira? Meloni, fotografada a meio caminho de um abraço ao primeiro-ministro húngaro.

Tassiani não tem dúvidas de que aquilo a que se assistiu nesta cimeira foi um braço-de-ferro por parte dos líderes de partidos mais à direita, para terem influência nesta Comissão: “Há vários cargos de comissão fulcrais em jogo. Itália quer a vice-presidência. Tudo isto tem de ser visto neste contexto.”

Ou seja, não foi por António Costa que o processo encalhou. O que não é o mesmo que assumir que a questão está completamente fechada. Qualquer mudança no puzzle político europeu pode interferir diretamente no futuro do socialista. Para já, no entanto, os sinais que vão sendo dados são de algum otimismo sobre a capacidade de os 27 fecharem rapidamente esta questão.

À saída do encontro desta noite, Charles Michel, atual presidente do Conselho Europeu, fez questão de sublinhar que a reunião não tinha como propósito tomar qualquer “decisão” nessa matéria, mas antes para trocar impressões sobre as prioridades do projeto europeu e os méritos e deméritos de cada candidato, tentando não dramatizar o aparentemente impasse. De resto, mesmo depois desta reunião vão continuar os encontros bilaterais entre representantes dos principais partidos para que se possa chegar a bom porto.

Também à saída da reunião, Luís Montenegro garantiu que, apesar da ausência de acordo para os principais cargos europeus, houve um consenso alargado sobre a necessidade de haver um apoio expressivo e continuado à Ucrânia, sobre a preocupação com a segurança e defesa, sobre a necessidade de uma visão de conjunto para uma política de imigração e em relação à prioridade que deve ser dada ao crescimento económico.

O social-democrata explicou depois que as decisões formais serão tomadas no próximo Conselho Europeu (27 e 28 de junho), esse sim formal, e mostrou-se otimista em relação a um desfecho positivo. “As três principais famílias políticas chegarão a um acordo”, disse. Quanto António Costa, Montenegro repetiu o que vem dizendo até aqui: “Tive mais uma vez a oportunidade de reiterar o apoio inequívoco do Governo português à candidatura de António Costa. Trata-se de uma candidatura que reúne todas as condições para ser aceite”.

Até lá, é de esperar que atores como Tusk, Meloni ou Orbán tentem usar o processo a favor dos seus países ou grupos partidários até ao último minuto. Mas, quanto ao futuro de António Costa em Bruxelas, os analistas estrangeiros apontam na mesma direção dos atores nacionais: “Em relação às fraquezas judiciais de Costa, tudo isto não passam de jogos políticos. E não irão durar muito”, antecipa Pascale Joannin, diretora-geral da Fundação Robert Schuman.





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