“Este ano é para nós honrarmos o homem que ficou 40 anos a lutar por este povo e que morreu nas montanhas como um desgraçado (…) Este ano não vamos aceitar nenhuma ‘mafia’ em memória, em honra, a Afonso Dhlakama [histórico líder da Renamo, 1953-2018]”, afirmou Mondlane, num comício improvisado que juntou milhares de pessoas, esta manhã, em Montepuez, Cabo Delgado.
“A verdade é que o tsunami que há de vir este ano vai rebentar com tudo e todos, nada vai ficar”, avisou ainda, numa alusão às dezenas de manifestações com milhares de pessoas que promoveu no final de 2023 contra o resultado oficial das eleições autárquicas em Maputo, em que liderou a lista da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que deram a vitória à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), perante alegações de manipulação.
“Aquele meu antigo chefe [líder da Renamo, Ossufo Momade, partido que abandonou em maio] para debaixo da mesa receber o envelope. (…) Então, se acham que vão voltar a usar mentiras, fraudes, manipulação, roubar a vontade do povo, é bom saber que não vai ser como das outras vezes, porque os jovens já disseram que estão dispostos a perder a vida”, garantiu.
Repetidas acusações a eventuais fraudes eleitorais e o ataque à Frelimo, que lidera Moçambique desde a independência, em 1975, foram o alvo do ex-deputado da Renamo, perante o som das colunas que repetiam “Venâncio já chegou, a mentira já acabou”.
“Meus amigos, vamos dizer uma coisa: Desta vez, acabou”, afirmou Mondlane, secundado repetidamente pelos apoiantes.
“Acho que está claro para todo o mundo que chegou a hora de devolver Moçambique para os moçambicanos”, disse, afirmando que “foram 50 anos de humilhação”, de “roubo”, de “corrupção” e de “‘máfia’”.
Numa província rica em gás natural e pedras preciosas — em Montepuez funciona uma das maiores minas do mundo de rubis -, entre outros recursos, marcada há sete anos por ataques terroristas, Venâncio Mondlane garantiu: “O dinheiro de Cabo Delgado deve ficar em Cabo Delgado, para abrir escolas, abrir hospitais, abrir estradas”.
Moçambique realiza em 09 de outubro as sétimas eleições presidenciais, às quais já não concorre o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite constitucional de dois mandatos, em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.
A campanha eleitoral em Moçambique termina em 06 de outubro.
Além de Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), sem representação parlamentar, concorrem ainda à Presidência da República Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), Ossufo Momade, apoiado pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição) e Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceiro partido representando no parlamento).
Mais de 17 milhões de eleitores estão inscritos para votar, incluindo 333.839 recenseados no estrangeiro, segundo dados da Comissão Nacional de Eleições.