Em atualização
A investigação da Polícia Judiciária durou pelo menos três anos e Tiago Manaia, inspetor desta polícia, fala há três dias no Tribunal Central Criminal de Lisboa. Já descreveu a acusação do Ministério Público praticamente ponto por ponto e, esta segunda-feira, responde às questões da defesa dos 19 arguidos deste processo, que estão acusados dos crimes de tráfico de droga, associação criminosa e branqueamento de capitais. Vítor Parente, advogado de Rúben Oliveira, conhecido por ‘Xuxas’ e principal arguido deste processo, foi o primeiro a questionar o inspetor e quis saber quais as provas que ligam Rúben Oliveira aos cartéis de droga do Brasil e da Colômbia.
“Identificou alguma pessoa em concreto na Colômbia com ligações a Rúben Oliveira?”, questionou a defesa de ‘Xuxas’. E a resposta do inspetor foi negativa. “Há vigilâncias em que mostrem ligação de Rúben Oliveira ao Comando Vermelho [organização criminosa do Brasil]?”, insistiu Vítor Parente. E a resposta foi a mesma, com o inspetor a admitir não existirem provas de que Rúben Oliveira tenha estado com membros dos cartéis da Colômbia e do Brasil.
O inspetor da PJ teve ainda de explicar que factos foram encontrados para concluir que ‘Xuxas’ tinha ligações a Sérgio Carvalho, conhecido como Escobar brasileiro e um dos principais traficantes de droga. À semelhança daquilo que foi dito nas sessões anteriores, a PJ teve acesso às mensagens trocadas através de plataformas utilizadas por redes criminosas — o EncroChat e o Sky — e ligou o conteúdos dessas mensagens com as apreensões de droga feitas no aeroporto e nos portos de Setúbal e Leixões.
Caso ‘Xuxas’. PJ identificou dois trabalhadores do aeroporto, mas há ainda suspeitos desconhecidos por esta polícia
Segundo o MP, esta rede de tráfico de droga tinha ligações com grupos de narcotráfico da Colômbia e do Brasil desde 2019 e era destes países que era importada a droga que entrava em Portugal. Esta organização, lê-se na acusação, teria ainda domínio nos portos de Leixões e de Setúbal, o que permitiria a entrada da droga no país, evitando a fiscalização das autoridades. A PJ chegou a fazer apreensões de cocaína nestes portos, estando nestes locais alguns dos arguidos deste processo. Ainda de acordo com a acusação do Ministério Público, a droga entrava em Portugal através de empresas de importação de frutas e de outros bens alimentares, em contentores que chegavam aos portos. Mas este grupo tinha ainda outras formas de atuar e chegaram a trazer, diz o MP, droga dentro de malas, em viagens do Brasil para Portugal.