Há quem recorde que, mesmo vindo Paulo Portas de um partido enfraquecido e que eleitoralmente vale muito pouco — a última vez que foi a votos sozinho não conseguiu eleger qualquer deputado —, as presidenciais são eleições muito personificadas, sobretudo carismáticas e inspiracionais: partem de figuras que podem em muitos casos ultrapassar as fronteiras do partido, ou, noutros casos, arregimentar muito menos tropas do que a casa-mãe. Tudo depende naturalmente da personalidade e da campanha que o candidato fizer. E há quem acredite que Paulo Portas faria um brilharete.
É também por isso que no CDS se vai criticando o critério do PSD, colocado logo à cabeça na moção estratégica que Luís Montenegro levou ao último congresso social democrata e que impõe que o candidato apoiado pelo partido seja preferencialmente um militante seu. “Não faço ideia do que o PSD pretende fazer, a não ser que prefere alguém do PSD — não acho isso um bom critério. Mas é o do PSD”, lamentava Cecília Meireles no seu espaço na SIC Notícias.
“A última vez que me lembro de o PSD escrever estas frases correu-lhes mal“, acrescenta outra fonte do PSD, lembrando o momento em que Pedro Passos Coelho teve de engolir o critério definido para afastar Marcelo Rebelo de Sousa — o candidato a Belém não deveria ser um “catavento mediático” — e aceitar uma candidatura esmagadoramente apoiada por PSD e não só.
Por tudo isto, há quem no do CDS não resista a perguntar: “E se fosse Portas?”. A convicção é de que seria uma personalidade que colheria votos bem além das fronteiras do CDS, cativando muito gente do universo social-democrata. Em tempos, por exemplo, Miguel Pinto Luz, hoje um destacado dirigente do PSD e ministro da Habitação e das Infraestruturas, defendeu abertamente a candidatura do antigo vice-primeiro-ministro e não excluía de todo a hipótese de o partido vir a apoiar uma figura que não fosse militante do PSD.
Muita coisa mudou desde aí — desde logo, o facto de o partido ser agora poder, o que obriga a um sentido tático mais apurado e menos estados de alma. Depois, e mesmo com o desencanto (quase) generalizado com Luís Marques Mendes, há feridas que não se apagam. Ainda na quinta-feira, em entrevista ao Observador, Miguel Morgado, antigo assessor político de Pedro Passos Coelho, argumentava que Paulo Portas não será capaz de apagar “facilmente junto da grande família do centro-direita a sua conduta quando foi parceiro de coligação de Pedro Passos Coelho”. “Isso seria sempre um óbice contra ele”, acrescentava o social-democrata.
Aliás, na entrevista que deu a Maria João Avillez, um raríssimo testemunho sobre o período da troika desde que deixou o cargo de primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho fez uma espécie de ajuste de contas com Paulo Portas, dizendo que o então líder do CDS “não tinha uma noção precisa, realista, de qual era o limite das nossas possibilidades” e falando abertamente sobre a crise do “irrevogável”. Também num quase inédito regresso a esse período, e a partir dos estúdios da TVI, Portas responderia a Passos: “Dava a entender que a troika era um bem virtuoso. Eu achava que era um mal necessário”.
Mesmo nesta nova reencarnação da PàF, agora liderada por Melo e Montenegro, há quem, no universo social-democrata, não esqueça, nem queira esquecer, estes episódios — que muitos no PSD ainda acreditam ter contribuído para o facto de Pedro Passos Coelho ter ficado a 13 deputados da maioria absoluta, em 2015, abrindo caminho para a ‘geringonça’ — e que dificilmente aceitaria abanar bandeirinhas por Paulo Portas.
O antigo vice-primeiro-ministro não ignorará isto e não ignorará que está muito longe de estar sozinho no quadro de protocandidatos à direita. Talvez por isso, esteja fechado em copas, enquanto avalia condições e a evolução do quadro político. Uma posição prudente, vigilante e “segura”, numa altura em que quem avançar cedo demais pode queimar as hipóteses de ter sucesso nesta corrida presidencial.