Os católicos a sério vivem o período antes da Páscoa com mais intensidade para que depois o Domingo de Ressurreição tenha mais impacto. Faz sentido. A quaresma, se vivida de acordo com o manual, intensifica tudo.
Os protestantes não ritualizam a Páscoa como os católicos. Para os protestantes a não-ritualização dos acontecimentos descritos na Bíblia também é o que nos mantém a lidar correctamente com eles: também é por Jesus não poder estar assim tanto connosco nos rituais que desejamos que ele regresse. A não-ritualização protestante não intensifica o que acontece agora mas o que acontecerá no apocalipse.
Os católicos têm tanto de Jesus nos seus rituais que, de certo modo, podem cair na tentação de não precisar do seu regresso físico. Nós, os protestantes, assumimos a nossa orfandade de presença de Jesus e é por isso que mais facilmente temos o olho no fim do mundo. A nossa religião, por ser mais vazia do que a católica, deixa-nos com uma religião intencionalmente incompleta. Precisamos que Jesus venha mesmo porque o Jesus que temos na Igreja não nos chega.
Logo, celebrar a Páscoa é fantástico mas não nos substitui a ausência de Jesus connosco. O túmulo está vazio e isso alegra-nos mas, ao mesmo tempo, também nos mostra que o mundo inteiro é um túmulo vazio. Jesus ainda está por voltar e dar a esta terra o preenchimento de que ela precisa. Até a festa da ressurreição traz consigo uma saudade e uma ânsia pela segunda vinda.
Alguém perguntará: e o Espírito Santo que nos foi derramado? O Espírito Santo connosco é um consolador. Ele consola, é facto, mas não mata a fome da presença física. Os cristãos são esfomeados pela presença física de Deus. E creio que um dos problemas deste mundo é ficar facilmente satisfeito com as presenças físicas existentes. Os cristãos não esperam consolos espirituais apenas, esperam consolos físicos.
A Páscoa vivida seriamente celebra o túmulo vazio de Jesus e lamenta o túmulo vazio que este mundo é até que Jesus volte. As duas coisas ao mesmo tempo. Que a nossa festa cristã não nos deixe assim tão contentes. Chega de alegria, precisamos de saudade.