Há uma linha vermelha para os populares sobre um possível acordo com os conservadores: as opiniões sobre a guerra na Ucrânia. O PPE é completamente a favor do auxílio a Kiev, assim como grande maioria dos partidos do ECR. Já entre o grupo da Identidade e Democracia, as opiniões dividem-se: por um lado, critica-se a invasão russa, mas algumas forças políticas do ID, como o Partido para a Liberdade da Áustria (FPÖ), têm lançado duras críticas à presidência ucraniana e à ajuda europeia a Kiev.
Todas as contas e a “influência dos grupos” políticos estão “dependente dos resultados das eleições”, diz ao Observador Saila Heinikoski, membro do Instituto Finlandês para as Relações Internacionais. As sondagens mostram um claro crescimento do espaço político da direita, com o ECR e o ID a subirem consideravelmente o número de eurodeputados. Os populares deverão vencer as eleições europeias, seguidos da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D). O terceiro lugar está entre os liberais do Renew e o ECR ou o ID.
No horizonte, há também a possibilidade de o ID e o ECR se unirem e formarem apenas um grupo. Em novembro de 2023, ao Observador, Diogo Pacheco Amorim, do Chega, classificou como “ideal” que houvesse apenas uma família política. Mas essa realidade não se deverá materializar, acreditam vários especialistas ouvidos pelo Observador. Natural da Chéquia, país que tem mais do que um partido deste espectro político, o membro do think tank Instituto de Relações Internacionais de Praga, Jan Kovář, considera o cenário “altamente improvável”.
Moderada, “ma non troppo”. Como Giorgia Meloni pôs Salvini no bolso e encantou Von der Leyen
O general Roberto Vannacci foi o escolhido por Matteo Salvini como cabeça da lista da Liga nas eleições europeias. O líder do partido ignorava as polémicas do militar, suspenso das Forças Armadas por escrever um livro em que alega que os homossexuais não são normais e em que diz que os italianos só podem ser brancos. No mesmo espaço político, é uma figura que contrasta com Giorgia Meloni, cabeça de lista do Irmãos de Itália, que tem adotado, pelo menos publicamente, uma postura mais moderada do que o esperado.
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Itália é um dos países na Europa, em que, contrariamente a Portugal ou a Espanha, existe mais de um partido a representar a direita radical e mais conservadora. Disputando o mesmo eleitorado, a solução a que muitos destes partidos chegaram, para se tentarem diferenciar, passou por escolherem grupos políticos diferentes no Parlamento Europeu. Por exemplo, os Irmãos de Itália estão no ERC e a Liga no ID; em França, a mesma coisa: a antiga Frente Nacional de Le Pen no ID, a Reconquista de Éric Zemmour no ECR.
Por isto, Jan Kovář defende que é “difícil imaginar que alguns membros do ECR ou do ID se juntem a nível europeu por causa da animosidade na política interna e incongruência ideológica”. No caso italiano, o especialista não vê como os Irmãos de Itália e a Liga possam estar na mesma família política, “especialmente depois de Meloni se moderar nas políticas europeias”.