Quanto ao mais, fonte da direção nacional do Chega confirmou ao Observador que Ventura deixou claro que ia precisar de toda a gente e que os deputados iam ser chamados para ir às autárquicas, independentemente do tipo de desafio. Nesta equação é recordado que, se por um lado, os deputados de maior confiança de Ventura podem ser lançados para grandes desafios, há também o outro lado da moeda: autarquias maiores dão mais trabalho, até para vereadores sem pelouros, e pode ser difícil conjugar os dois trabalhos no futuro, a somar às questões internas.
No mesmo sentido, uma outra fonte do núcleo duro de Ventura defende que “se algum deputado ganhar e for eleito presidente de câmara terá de deixar de ser deputado”. Pelo que Ventura poderia perder nomes importantes e só está disposto a fazê-lo se for uma câmara relevante para o partido. Já no caso de serem eleitos vereadores deve ser mais fácil gerir, mais ainda se não tiverem pelouros.
Em entrevista ao Observador, que será publicada esta quarta-feira, o deputado Bruno Nunes, que será, ao que tudo indica, candidato à Câmara de Loures, assumiu isso mesmo: “É lógico que os deputados se cheguem à frente. Não podemos apenas estar à espera de ir a eleições quando é o presidente do partido. Aí é fácil, sabemos que o presidente do partido tem influência direta nos resultados eleitorais. Mas temos que nos chegar à frente e temos que dar a cara”, disse.
Aliás, na bancada do Chega há deputados que acumulam cargos deste tipo há muito, como é o caso de Pedro Frazão, que até há poucas semanas mantinha o cargo de vereador em Santarém, Bruno Nunes, que é vereador em Loures, e de de José Barreira Soares, em Vila Franca de Xira. E depois das legislativas juntaram-se Rui Cristina e Eduardo Teixeira, ambos vereadores eleitos pelo PSD, que ainda se mantêm como independentes e não se filiaram no Chega porque perderiam o mandato autárquico.
Por outro lado, a mesma fonte acredita que há deputados que nem sequer devem ir a votos pela quantidade de trabalho acumulada entre Assembleia da República e funções no partido. Sendo que esta será uma minoria, os restantes devem mesmo ir a votos — com uma ressalva: não há câmaras para todos, mas há assembleias e, na esmagadora maioria das candidaturas, os deputados serão cabeças de lista. Devem estar disponíveis para o que for e para “ajudar o partido”, sublinha um dirigente.
Carlos Magno Magalhães, da Comissão Autárquica Nacional do Chega, faz as contas e, em declarações ao Observador, aponta um número: pelo menos 30 dos 50 deputados vão concorrer às eleições. Há quem vá mais longe no número: “Dos 49 deputados, deve ser o André Ventura e pouco mais que não vão a votos.”
Ao Observador, várias fontes vão justificando que a aposta nos deputados foi considerada normal, já que em várias autarquias, da lista de possibilidades, os candidatos mais conhecidos são os deputados — mesmo que muitos estejam longe de ter esse carimbo a nível nacional.
“O nosso problema é a visibilidade e os deputados têm mais visibilidade do que outras pessoas nesses distritos”, explica outro alto dirigente do Chega, acrescentando que “colocar como candidato alguém que de vez em quando aparece na televisão e ao lado do André Ventura acaba por criar uma ligação mais forte com os eleitores”. O contrário, alerta a mesma fonte, seria desperdiçar a oportunidade de ir a votos com quem é mais reconhecido em cada freguesia, em cada concelho, em cada distrito.
Num olhar alargado para a bancada há quem trace o cenário mais provável: há casos em que os deputados vão ser candidatos pelos círculos em que foram eleitos para as legislativas, mas também pode acontecer serem candidatos na área de residência ou perto — aliás, muitos distritos têm mais do que um parlamentar e essa realidade pode permitir distribuir deputados por mais lugares.
Para já, das poucas vezes em que deputados do Chega falaram sobre o tema, Rita Matias descartou, em entrevista à Renascença, a hipótese de ser candidata a Lisboa, dizendo que Ventura “terá outros nomes mais interessantes” e que o seu “compromisso” é com Setúbal. Já Pedro Santos Frazão, que foi candidato por Santarém, disse ao Observador que recusou uma recandidatura pelo mesmo sítio, mas está disponível por ir a votos noutro município.
Entre os deputados, a mensagem vai sendo espalhada em uníssono e prende-se com uma “disponibilidade” para aquilo que André Ventura precisar e quiser, sendo que nos municípios da grande Lisboa (capital à parte) o líder do Chega deve mesmo apostar em alguns nomes conhecidos do partido e há também deputados eleitos por outros distritos que podem ser colocados nestes locais.