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Choque entre Bugalho e Temido marca debate a quatro – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 13, 2024

Os quatro concordaram no essencial: o clube dos 27 Estados-membros deve crescer e a Ucrânia deve fazer parte da União Europeia. Ao mesmo tempo, todos recordaram que esse processo implica regras e que todos os países que se candidatam têm de cumprir determinados critérios. A questão que ninguém ignora é que uma eventual inclusão de países como a Ucrânia ou Moldova implicará uma perda de fundos à disposição de países como Portugal, em particular na questão da Agricultura. E foi aí que os candidatos divergiram: como encontrar um modelo que compense os Estados-membros que serão necessariamente prejudicados pelo processo do alargamento.

O primeiro a responder foi Sebastião Bugalho, que tentou definir o tom da discussão: “Obviamente é um desafio em termos de políticas de apoio. Mas o alargamento não pode ser lido à luz do dinheiro que vamos perder, mas à luz da Europa que vamos ganhar”, argumentou, sugerindo que a União Europeia tem uma “obrigação moral” de fazer com que eles se sintam “parte da família europeia”, convidando-os a estarem presentes em reuniões europeias, mas sem poder de voto.

A mesma pergunta foi colocada a Francisco Paupério, que defendeu que a Europa deve, desde já, contribuir financeiramente para a recuperação da Ucrânia. A seguir, e pegando na questão dos agricultores levantada pela moderadora, Paupério voltou a atacar a direita: a “Política Agrícola Comum foi criada do PPE” e foram eles que deixaram desprotegidos os pequenos e médios agricultores, que “perderam colheitas, perderam controlo dos preços dos seus produtos”. “Os Verdes Europeus e o Livre estão do lado dos agricultores”, disse, tentando centrar o debate na defesa da transição verde e numa renovada política de incentivos à agricultura sustentada.

“Temos a obrigação moral de acolher estes países que querem ser democracias e partilhar valores europeus”, concordou Cotrim, antes de recordar que o alargamento não é só uma ameaça, assim saibam os demais países “aproveitar oportunidades do mercado único”. Apesar de tudo, o liberal reconheceu que será preciso rever toda a estrutura financeira orçamental da União Europeia e não apenas os fundos de Coesão e da PAC. E foi aí que tentou marcar pontos: Cotrim, tem havido desperdício “brutal” desses fundos. “Portugal com uma utilização correta dos fundos seria bastante mais forte”.

Marta Temido acabou por tentar virar a discussão a seu favor, dizendo que Cotrim Figueiredo, que tem uma visão cética sobre a utilização de fundos europeus, e Sebastião Bugalho, que, argumentou, representa uma famíla europeia que nunca alinhou numa “abordagem solidária dos fundos (como a mutualização a dívida a nível europeu), não podem dar lições sobre esta matéria. “Há um compromisso inequívoco com o alargamento. Mas queremos integração com ambição para os outros países”, defendeu, dando como exemplo para encontrar novos recursos para manter uma distribuição justa da riqueza entre Estados-membros as contribuições sobre “plataformas digitais e sobre transições financeiras”.

Sebastião Bugalho ainda aproveitou a oportunidade para se tentar demarcar de Marta Temido: em matéria de novos recursos próprios, nem todos terão de ser mais impostos e que os mercados de licença de emissão de CO2 podem ser uma forma de recolher esses recursos ou então a taxa aos plásticos de utilização única.

Neste como noutros temas, há um ponto de partida comum: os quatro candidatos concordam que a Europa deve reforçar a sua autonomia estratégica, através da Defesa, e passar a depender menos dos Estados Unidos pelo caminho. A divergência chegou quando foi discutida a forma de financiar esse reforço – e levou a mais um momento de tensão mais visível entre Marta Temido e Sebastião Bugalho.

O candidato da AD argumentou a favor da a ideia dos “defense bonds” – a emissão de dívida mutualizada para este fim –, defendendo que o conceito não só é mais consensual entre os Estados-membros do que outros tipos de emissão de dívida como vem pôr fim a um problema de prioridades: “Estamos a garantir que os governos não vão ter de escolher entre tanques e hospitais públicos”, atirou.

Ora para Temido, que se disse “muito preocupada” com o que acabara de ouvir, o problema das prioridades continua a colocar-se, uma vez que o PPE (família europeia a que o PSD pertence) defende esse esforço para a Defesa e não, por exemplo, para o setor da Habitação. “Precisamos de reforçar a nossa Política de Defesa Comum. Agora, não vamos investir em armas e não investir em casas”, criticou.

Ainda assim, o embate adensou-se quando Temido acusou o PPE de “sempre ter sido contra a mutualização da dívida”, ao que Bugalho respondeu disparando o exemplo de Ursula Von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia que pertence ao PPE e que “conseguiu a mutualização da dívida [para responder à pandemia]”. Não chegariam a acordo: Temido contra-atacou criticando a direita por não ter liderado esse esforço e lembrando posições polémicas antigas de Bugalho sobre a Europa, e Bugalho provocou de volta, lembrando o apoio de António Costa ao Syriza. A conversa azedou por momentos, mas rapidamente se mudou de tema.

Do lado do Livre, Paupério defendeu um investimento na segurança e na autonomia estratégica – incluindo energética – da Europa, mas assegurando que esse esforço deve servir como instrumento de Defesa, e não de ataque. Já Cotrim Figueiredo escolheu atacar precisamente os Verdes, família de que o Livre faz parte, por proporem “empecilhos” à inovação como uma taxa à automação. E acrescentou que, tendo em conta que a Europa pode mesmo “viver uma situação dramática” e que precisa mesmo de se reforçar enquanto pilar da NATO para funcionar como um “contraponto” no caso de um resultado desfavorável nas eleições dos EUA (uma vitória de Donald Trump), o que é verdadeiramente preocupante é a falta de crescimento económico na Europa.



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