A 15 de abril de 2019, a catedral francesa da Notre Dame ardeu por motivos que ficaram até hoje por apurar. Passados mais de dois mil dias e um trabalho de reconstrução que envolveu cerca de outros tantos trabalhadores e no qual foi utilizada madeira de outros tantos carvalhos, celebra-se este sábado a reinauguração da “Nossa Senhora de Paris”.
Após o incêndio, Emmanuel Macron fez a promessa (“louca” nas suas palavras) de restaurar a igreja em cinco anos, “porque é o que a nossa história merece”. Empurrado por doações bilionárias de donos de marcas francesas de luxo que ajudaram a arrecadar os 700 milhões de euros gastos, o Presidente francês celebra em tempos de instabilidade política no país dentro do prazo proposto — ainda que certos detalhes só vão ficar acabados em 2030. “O choque da reabertura será tão forte como o choque do incêndio: será um choque de esperança”.
“Vocês conseguiram. É uma fonte de grande orgulho para toda a nação. Eu estou-vos infinitamente grato, a França está-vos infinitamente grata”, afirmou, na passada sexta-feira 29 de novembro, à frente de 1.300 artistas, carpinteiros e especialistas que participaram na restauração da Notre Dame. Entre os presentes estava o luso-francês Arthur Machado, líder da CentralPose, empresa responsável pelo novo adro da catedral, que foi concebida por um engenheiro português e concretizada por calceteiros portugueses, segundo noticiou a RFI.
“Não se esqueçam que partilharam todos juntos o estaleiro mais bonito do século“, disse Macron, na sua última visita antes da cerimónia de abertura oficial. Este sábado, a obra abre-se a outros nomes notáveis. Estarão presentes na reinauguração mais de 50 chefes de Estado, entre eles Donald Trump, que fará a sua primeira visita ao estrangeiro desde a reeleição para Presidente dos EUA e que antecipa “um dia muito especial para todos”.
Uma ausência de peso será a do Papa Francisco que rejeitou o convite do Presidente francês para comparecer, sem oferecer uma explicação oficial. A visita do mais alto pontífice à ilha de Córsega, no dia 15 de dezembro, tem criado especulação sobre qual a razão para não estar presente. Contudo, não faltarão representantes da Igreja Católica. Estarão presentes 170 bispos franceses e um padre por cada uma das 106 paróquias da diocese parisiense.
Para acomodar as visitas de peso, durante as celebrações de reabertura, que só acabam no domingo à tarde, será imposto um cordão policial na Île de la Cité, parte central da cidade onde se situa a catedral. Nesta que é uma das zonas mais turísticas da capital francesa, só poderão entrar residentes e convidados, três mil dos quais poderão assistir à cerimónia.
Segundo o chefe da polícia de Paris Laurent Nuñez, o dispositivo de segurança “excecional”, com seis mil agentes de autoridade, foi modelado a partir daquele que esteve em vigor durante os Jogos Olímpicos, no último verão. Aqueles que não tiverem sido convidados para o arranque da cerimónia de abertura podem dirigir-se para a margem esquerda do Sena, onde até 40.000 pessoas poderão assistir à cerimónia em ecrãs gigantes.
Será às 19h00 locais (18h00 em Lisboa) que as festividades começam, à frente da catedral, com um discurso de Macron. De seguida, o arcebispo de Paris Laurent Ulrich baterá com a sua bácula nas portas fechadas da Notre Dame e a catedral responderá “cantando” por três vezes o salmo 121. À terceira vez, as portas abrir-se-ão e dar-se-á início a uma cerimónia dividida em três partes.
A primeira será o “despertar” do grande órgão, que é o maior de França, com oito mil tubos. Depois, ouvir-se-á o canto dos ofícios, em que serão entoados vários salmos e orações e, por fim, o arcebispo dará a benção final e o coro cantará Te Deum, um hino latino.
No domingo será celebrada a primeira missa na qual o arcebispo de Paris vai aspergar água benta sob o altar principal e sob os presentes, entre eles, novamente Macron. À tarde desse dia, será celebrada a primeira missa aberta ao público, em que se darão por terminadas as cerimónias de reabertura.
Nos oito dias que se seguem à reabertura, haverá duas missas por dia em Notre Dame, incluindo cerimónias especiais, várias dos quais abertas ao público. A catedral deverá receber até 15 milhões de visitantes todos os anos, sendo que, nos primeiros tempos após a inauguração, os bilhetes serão gratuitos.