Foi também o mesmo Telmo Correia que deixou nesta campanha o pedido mais claro (até agora) para uma segunda oportunidade para a AD, ou seja, uma confirmação nestas Europeias de que é a coligação que deve governar — o que os dois partidos da coligação garantem ter ficado claro nas legislativas, mas que a prática tem suscitado dúvidas. Mesmo que Montenegro insista em fazer a separação dessas águas, a leitura nacional é fatal como o destino e o centrista não teve meias medidas e foi muito direto ao assunto, pedindo com todas as letras “o benefício da dúvida”.
Com pouco mais de um mês de governação, a AD não tem ainda nada de concreto para mostrar, embora tente a todo o custo (ler no terceiro ponto). Por isso, pelo caminho, vai avisando que este “é um momento muito importante para Portugal e para a Europa” e para a AD em particular “é o momento em que está a mudar o país, o que foram oito anos de estagnação socialista”, reforçou Telmo Correia. Foi aqui que pediu “força” nestas Europeias “para quem está a mudar o país”. “Em menos de dois meses decide, quer decidir, merece uma oportunidade”, disse mesmo o vice do CDS que acabou a pedir o “benefício da dúvida para quem está a governar o país”.
Ao mesmo tempo que ataca o PS, a coligação da direita tradicional quer avançar nesta campanha a tentar colher o mal-estar em áreas como a saúde, habitação, condições de vida ou inércia em alguns setores de atividade, mas à distância de quem não governa há tempo suficiente para mostrar mudança que já se veja.
Esta quarta-feira, logo pela manhã, Sebastião Bugalho considerava uma “muito feliz coincidência” o Governo ter agendado para aquele mesmo dia a aprovação em Conselho de Ministros do plano de emergência para a saúde. “Coincidência” porque tinha acabado de ouvir, no mercado em Setúbal, queixas sobre o SNS, forçava o candidato.
Mas em política não há coincidências e Montenegro já tinha dito, dois dias antes, que estava preparado para isso mesmo. “Apresentaremos o plano de emergência, já apresentámos o programa estratégico para a habitação, já decidimos a localização de infraestruturas importantes para o crescimento da economia e para a valorização do trabalho”, avançou logo no comício de Santarém. E continuou a enumeração do que fez nestes primeiros dias, a tentar provar que a capacidade governativa está intacta apesar de todos os percalços parlamentares — até tocando num assunto sensível, a redução do IRS que está enredada numa guerra da nova configuração na Assembleia da República.
Montenegro foi à campanha dizer que quer as pessoas que trabalham “a pagar menos impostos” e que já começou pelos mais jovens, avisando: “Ainda não fomos a todos.” E a promessa de mais medidas na manga não fica por aqui, com o primeiro-ministro a falar ainda do “desbloqueio de fundos para requalificar e construir no novas escolas”. Depois do acordo com os professores, em ambiente de pré-campanha, a AD mantém o ritmo para mostrar tudo antes que o vento possa mudar de direção.