“Eles pensam que aqui na Venezuela se entra assim? E que nós, quando eles chegarem, nos vamos assustar? Se não se está convidado para uma festa, o que lhe dizem? Dizem ‘por favor, tenha amabilidade e retire-se’.” O aviso tinha sido dado pelo número dois do regime, Diosdado Cabello, num programa de televisão: qualquer pessoa que viesse assistir às eleições presidenciais do próximo domingo que não tivesse sido credenciada pelo governo seria impedida de entrar em território venezuelano. “Não estão convidados, vêm fazer show. Vão ser expulsos, expulsamo-los, não há problema.”
A ameaça de Diosdado Cabello cumpriu-se. Várias delegações chegaram aos aeroportos da Venezuela nas últimas horas e foram obrigadas a abandonar o país. Uma delas era uma comitiva de dez membros pertencentes ao Partido Popular Europeu (PPE), de que fazia parte o eurodeputado eleito pela Aliança Democrática (AD), Sebastião Bugalho. Juntamente com outros senadores, deputados e eurodeputados espanhóis, o político português teve de regressar a Madrid, de onde tinha partido.
O alerta foi dado pelo presidente do Partido Popular (PP) espanhol, Alberto Núñez Feijóo, na noite desta sexta-feira. O líder da oposição em Espanha indicava que a delegação estava “retida no aeroporto de Caracas”, exigindo a “libertação imediata” da comitiva, exigindo ao governo de Espanha que faça o possível para a situação fosse resolvida.
— Alberto Núñez Feijóo (@NunezFeijoo) July 26, 2024
Por sua vez, Sebastião Bugalho manifestou estar “magoado, ofendido, preocupado com o que possa acontecer na Venezuela” no domingo, data das eleições presidenciais. “Porque eu, como eurodeputado português, tenho que defender a democracia, os direitos humanos e eleições livres e transparentes. Que país livre e transparente expulsa visitantes antes das eleições? Nenhum”, afirmou Sebastião Bugalho, em declarações à imprensa espanhola, em Madrid, transmitidas pela RTP.
No PSD, também se lamenta a situação. Numa nota assinada por Paulo Cunha, o chefe da comitiva portuguesa social-democrata, critica-se a forma “como a comitiva em que se encontrava o eurodeputado Sebastião Bugalho foi tratada pelas autoridades venezuelanas”. “O impedimento da entrada dessa comitiva no país, quando se tratava de uma visita realizada no quadro de um convite de forças políticas na oposição — mesmo que coincidindo com a realização de um ato eleitoral — é condenável, lamentável e merecedor de repúdio público.”
Na chegada a Madrid, o porta-voz do grupo parlamentar do Partido Popular deu mais detalhes sobre a ida à Venezuela. “O nosso trabalho não era participar numa missão de observação. Era acompanhar uma candidatura que luta pela democracia num país irmão como é a Venezuela“, referiu Miguel Tellado. Contrariamente ao que tinha sido inicialmente avançado, os membros da comitiva não iam observar as eleições presidenciais, mas integravam antes numa missão de acompanhamento à candidatura presidencial de Edmundo González, que conta com o apoio de María Corina Machado, a líder da oposição.