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como foi feita a série sobre a fuga de Faustino Cavaco (com a ajuda do próprio) – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 30, 2024

Verão de 1986: uma fuga da prisão que parecia saída de um filme deixou alerta o país inteiro, preocupou adultos e fascinou crianças, divididas entre o medo e a adrenalina. Seis condenados escaparam da cadeia de Pinheiro da Cruz, deixando mortos pelo caminho e transformando-se numa espécie de mito. O mais enigmático e temido era Faustino Cavaco, líder de um gangue responsável por vários assaltos a bancos. A história transformou-se agora na nova série da RTP1, O Americano, com estreia marcada para segunda-feira, 2 de dezembro, exibida semanalmente às 21h e disponível na RTP Play.

O escritor Bruno Vieira Amaral (voz diária nas manhãs da Rádio Observador) nunca esqueceu o episódio e acabou por ser um dos responsáveis pela adaptação, fazendo parte da equipa de guionistas que escreveu os oito episódios — a história avança e recua desde os primeiros crimes à vida na prisão. “Eu teria entre os oito e os 13 anos e lembro-me de haver uma paranoia coletiva que nós, miúdos, sendo mais impressionáveis, vivemos com mais intensidade. Em minha casa apareceu uma edição do jornal O Crime e eu li avidamente todos os pormenores. Era uma mistura de aventura, macabro e terror”, recorda ao Observador.

A história nunca o abandonou e contou-a detalhadamente num artigo que escreveu no Observador para assinalar os 30 anos do acontecimento. “Havia uma ideia genérica em volta da fuga sangrenta, das mortes, mas depois a história do Faustino não era muito conhecida. Foi isso que também quis contar.” Passaram-se cerca de três anos até o realizador Ivo Ferreira tropeçar o artigo, na história e na figura. Um encontro bastou para O Americano começar a ser delineado.

Ivo Ferreira, o realizador, e Bruno Vieira Amaral, argumentista, nunca tinham trabalhado juntos. Aliás, nem se conheciam. “Li as primeiras coisas do Bruno e gostei imenso. Além do lado literário, gostei da forma como são retratados os anos 80 e, por outro lado, também de uma certa portugalidade suburbana que tenho até alguma dificuldade em conhecer tão bem, no sentido em que vivia num mundo bastante fechado, o do teatro”, recorda ao Observador.

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Quis conhecer o escritor, mas o projeto que tinha para lhe propor era outro. “Estava à procura de alguém que pudesse trabalhar com personagens que têm uma linguagem que não é exatamente aquela a que estou mais habituado. Era para o Projeto Global [também para a RTP, está neste momento em pós-produção].”

[o trailer de “O Americano”:]

Combinaram encontrar-se na Biblioteca do Barreiro e, para ter os TPC em dia, Ivo Ferreira passou a véspera a ler textos de Bruno Vieira Amaral. Deparou-se então com o artigo do Observador sobre o caso dos irmãos Cavaco. “Tinha uma memória muito forte dessa história porque, com 11 anos, fui de férias com os meus avós para o Algarve na altura em que se deu a fuga [da prisão de Pinheiro da Cruz] e havia uma tensão gigante nas estradas.” Ficou a pensar nisso e levou o caminho todo para o encontro a alinhavar o que poderia propor a Bruno Vieira Amaral. “Conversámos, fomos almoçar e acabei por lhe explicar que inicialmente queria trabalhar com ele numa coisa mas que, se calhar, agora estava interessado noutra.

“Falámos de várias coisas e, em relação aos meus livros, não tinha nenhuma adaptação concreta na cabeça. Mas esta história é muito cinematográfica e passou-se num período muito interessante da história contemporânea de Portugal, nos anos 80, um período de grandes transições e de grandes transformações”, conta Bruno Vieira Amaral.

O autor de livros como Hoje Estarás Comigo no Paraíso, As Primeiras Coisas e o recente Toda a Gente Tem um Plano, que nunca tinha trabalhado em televisão, dedicou-se ao projeto durante mais de um ano. Além de todas as notícias, baseou-se em Vida e Mortes de Faustino Cavaco, antologia escrita pelo jornalista Rogério Rodrigues, publicada em 1988. “Escrevi os primeiros episódios e deixei delineados os restantes, que numa fase posterior já foram escritos pelo Ivo com o Hélder Beja, com base naquilo que eu tinha pensado inicialmente.”

Entregou os guiões ainda sem saber se o projeto iria avançar, acabando por não estar envolvido na fase posterior de filmagens. Com o texto de Bruno Vieira Amaral, Ivo Ferreira teve de fazer algumas escolhas.





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