A pouco mais de dois meses do final da temporada na Europa, Artur Jorge decidiu deixar o Sp. Braga e rumar ao Botafogo, por onde tinham passado recentemente tanto Luís Castro como Bruno Lage — o primeiro com bastante mais sucesso do que o segundo. As negociações com os minhotos não foram fáceis, já que António Salvador procurou segurar o treinador e chegou a criticá-lo publicamente pela “postura” que teve durante o processo, acusando-o até de assinar contrato à revelia dos portugueses.
Artur Jorge negou, garantindo que até só assinou contrato quando chegou ao Rio de Janeiro, e explicou que estava à espera de ser despedido no final da temporada. “Depois da proposta do Botafogo eu pedi ao Sp. Braga para aceitar o acordo. Colocar em causa o projeto? Deixei o Sp. Braga a dois pontos do terceiro lugar e ainda íamos receber o FC Porto. Nem eu nem a grande maioria dos adeptos queria que este capítulo terminasse desta forma. Continuo a ter o máximo respeito pelo Sp. Braga, será sempre o meu clube, tal como terei sempre muito respeito pelos adeptos”, disse o treinador, logo em abril, em entrevista ao jornal A Bola.
Saiu de Braga a “mal”, chegou a um clube “virado do avesso”, deu uma masterclass na final: Artur Jorge, o treinador “predestinado”
Dois milhões de euros depois e com contrato assinado por dois anos, Artur Jorge assumiu a equipa de Tiquinho Soares e Alex Telles e só teve a uma preocupação inicial: garantir que não seria mais um treinador para despedir. “Confesso que a primeira imagem que tinha sobre o futebol brasileiro, enquanto espectador, não era a melhor. Justamente pela quantidade massiva de trocas de treinadores. Muitos em cima de um ou dois resultados. Isso não mostra estabilidade do projeto, é uma tremenda prova de falta de confiança. Mas vim muito seguro do projeto que abracei. Sempre que conversei com o John Textor foi no sentido de olhar para tudo como um projeto, com princípio, meio e fim”, atirou.
Artur Jorge chegou a um clube que nunca tinha conquistado a Taça Libertadores e não era campeão há 29 anos, um clube ferido pela mágoa da temporada passada e dos 13 pontos de vantagem que chegou a ter para o Palmeiras e acabou por desperdiçar. Dias depois da glória continental, da conquista inesperada e improvável do maior troféu de clubes da América do Sul, levou o Botafogo ao primeiro lugar do Brasileirão e alcançou uma dobradinha inédita e histórica. Tudo enquanto continuou a ser o Artur de Braga que foi para o Rio.