Enviada especial em Manchester, Inglaterra
Não há grande maneira de dar a volta à questão: quando todos estavam à espera de que o Manchester United de Ruben Amorim ganhasse, o Manchester United de Ruben Amorim empatou. Na estreia do treinador português na Premier League, os red devils não foram além de uma igualdade em casa do Ipswich Town — contudo, nos últimos dias, Amorim conseguiu conquistar uma simpatia junto da comunicação social que garante uma margem de erro acima da média.
No fundo, numa análise global, praticamente toda a comunicação social de Inglaterra concorda com uma ideia: o treinador português não teve tempo suficiente para implementar a revolução que quer encabeçar em Old Trafford. Na BBC, Jamie Redknapp lembrou que Ruben Amorim não tem “uma varinha mágica”. “Foi aquilo que eu esperava. Os jogadores que desiludiram ao longo do último ano não iam ser diferentes porque o Amorim apareceu. Vamos ver muitas mudanças ao longo dos próximos seis meses”, explicou o antigo internacional português.
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Uma linha de pensamento corroborada por Chris Sutton, também na BBC. “Com tudo aquilo que já vimos esta temporada, estávamos mesmo à espera de ver um Manchester United transformado? O Ruben Amorim quer mudar o estilo, mas os jogadores estiveram nas seleções. É impossível para ele carregar num interruptor”, defendeu. Já no jornal The Guardian, Barney Ronay escreveu um longo texto de opinião sobre o jogo, o treinador e o clube — e deixou a ideia de que a única coisa que não está errada no Manchester United é mesmo Ruben Amorim.
“Ele está a par da dimensão do trabalho. E a dimensão do trabalho é muito, muito grande. Mas não é uma questão de tamanho. É o tom, a textura, o espírito mortal desta equipa do Manchester United que precisa de ser digerido, a incoerência sem alegria. Uma equipa do Manchester United que é apenas energia presa e padrões quebrados, o equivalente futebolístico a uma molheira partida que é infelizmente passada de geração em geração”, indicou o jornalista britânico.
Excesso de entrevistas, a invasão de Ed Sheeran e as sensações “que não são boas”. “Eles tinham de pensar muito nas coisas”, diz Amorim
Mais à frente, elogiou a reação do treinador português ao golo marcado ao fim de segundos — ou a ausência de reação, diga-se. “Durante algum tempo, o United jogou bem, houve oportunidade para aproveitar essa qualidade vital, a energia de Amorim na linha técnica. Existiu uma aura desde o início, com um casaco grande, ténis brancos, calças justas, uma espécie de uniforme de realeza europeia do futebol. O pacote é bom. A jawline, o cabelo, a energia controlada dos movimentos”, acrescentou.
Por fim, na Sky Sports, é impossível abordar uma das opiniões mais respeitadas no universo do Manchester United: Roy Keane. O antigo capitão dos red devils, que entrevistou Ruben Amorim pouco depois do apito final, explicou que o clube não tem jogadores que possam ser “consistentes”. “É esse o grande problema. Esta equipa, nos últimos dois anos, tem sido sobre momentos”, começou por dizer o antigo internacional irlandês.
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“Com o golo no primeiro minuto pensámos ‘grande arranque, qualidade, algum ritmo, uma boa finalização do Marcus, a entrar nos espaços onde queremos que ele esteja’. Mas depois recuaram e só pensámos: ‘De que é que estão à espera?’. O Ipswich é uma equipa perto da zona de despromoção, vão atrás deles! Foi quase como se tivessem medo de ganhar o jogo. O treinador fez muitas mudanças na segunda parte e, para ser justo, claro que se percebeu que estava a tentar ganhar o jogo. Ainda está a tentar conhecer estes jogadores, mas falta-lhes confiança e crença”, atirou.
Mais à frente, Roy Keane continuou a atribuir toda a responsabilidade ao plantel. “Se acredito que este grupo de jogadores pode levar o Manchester United aos primeiros lugares? Ando a dizer há séculos que não, absolutamente. Não há provas disso. E hoje viu-se outra vez, um novo treinador, um novo ritmo, parece tudo muito positivo. Mas depois o jogo começa e é a mesma história de sempre, previsíveis e com enorme falta de qualidade”, terminou.