Há uma mudança óbvia no Sporting desde que Rúben Amorim assumiu o comando técnico dos leões, tirando aqueles quatro meses de competição em 2019/20 que mais não era do que um balão de ensaio em forma de dez jogos para aquilo que seria a temporada seguinte: os anos podem correr melhor ou pior, os objetivos que existem podem ou não ser alcançados, mas os leões passaram a estar mais preparados para lutar por todos os títulos a nível nacional. No entanto, e entre cinco troféus incluindo dois Campeonatos (podiam ser seis, em caso de vitória na final da Taça de Portugal frente ao FC Porto), há outras viragens no plano desportivo no clube e a maior de todas entronca na planificação do mercado de transferências com outros timings.
O verão de 2019 ficou como exemplo para não mais repetir em termos internos. Depois de uma época com Marcel Keizer em que os leões ganharam a Taça da Liga e a Taça de Portugal na “ressaca” de todo o turbilhão gerado pela invasão da Academia e consequentes rescisões unilaterais de contrato, o mercado não correu bem desde início, a goleada sofrida frente ao Benfica na Supertaça adensou o cenário de dúvidas e a tripla contratação de Bolasie, Jesé e Fernando no último dia de mercado mais não foi do que um paliativo sem o mínimo efeito prático no rendimento da equipa (e que envolveu ordenados altos na altura). O neerlandês viria a deixar o comando técnico, Silas também não esteve muito tempo, Rúben Amorim chegou em março de 2020 antes da pandemia. Os erros foram assumidos e assimilados, o modus operandi mudou.
Nos últimos quatro anos, a abordagem do Sporting ao mercado mudou. Numa primeira instância, e perante alguns condicionamentos grandes que “estrangulavam” a possibilidade de ir buscar mais valias, o conjunto verde e branco foi tentando melhorar o plantel com nomes sobretudo portugueses ou do mercado nacional através de percentagens de passes; agora, não havendo tantos entraves na parte financeira mas dentro de um plano que é “limitado”, há margem para apostar mais em internacionais detetados pelo departamento de scouting à luz daquilo que Amorim quer numa equipa. Ponto comum entre as fases? Atuar de forma rápida, deixando algumas decisões para agosto mas tendo a base toda fechada num período inicial do defeso. Mais uma vez, foi isso que aconteceu em Alvalade, sabendo-se que é um ano “atípico” com Europeu.
Começando pelas saídas, a grande incógnita chama-se Viktor Gyökeres. Os responsáveis verde e brancos acreditam que é possível manter o avançado sueco por mais uma temporada, podendo até melhorar as atuais condições salariais pelo rendimento e importância que teve na equipa na época de estreia pelo Sporting, mas estão em paralelo cientes de que uma proposta de 100 milhões que consiga convencer o internacional pode alterar tudo. No mesmo plano encontra-se Gonçalo Inácio, jogador que tem mercado sobretudo na Premier, que goza de características pouco comuns pela idade e posição que ocupa e que também pode ver as condições contratuais melhoradas mas que está à mercê do mercado. Aliciante para ambos? A entrada direta na Liga dos Campeões, que terá na presente temporada um novo formato competitivo com 36 formações.
Ainda assim, a SAD do Sporting precisa realizar pelo menos uma venda. Nesse sentido, “o” negócio que podia fechar essa necessidade passava pela alienação de Ousmane Diomande, central contratado ao Mafra ainda em janeiro de 2023 por 7,5 milhões de euros mais cinco milhões de bónus por performance desportiva (com os leões a desembolsarem já mais de metade dessa verba durante um ano e meio). Apesar de só ter 20 anos e uma larga margem de progressão, os responsáveis entendem que, olhando para o que têm no plantel, esse era a saída que menos mossa poderia causar na espinha dorsal da equipa, procurando também aproveitar a vitória na Taça das Nações Africanas e o mercado que foi ganhando ao longo da primeira metade da época.
Outra possibilidade de saída com retorno financeiro pode ser Marcus Edwards. O inglês contratado ao V. Guimarães em 2022 por 7,5 milhões de euros por 50% do passe (sendo que entretanto o Sporting garantiu mais 15% quando vendeu Pedro Porro ao Tottenham) foi um elemento indiscutível na última temporada mas foi perdendo espaço no plantel com o crescimento de Francisco Trincão nas opções de Rúben Amorim, sendo que o próprio já terá admitido em termos internos a vontade de regressar a Inglaterra. Ainda nas saídas para a próxima temporada, além das já conhecidas de Antonio Adan e Luís Neto, estarão Koba Koindredi, que não teve a evolução esperada e sairá por empréstimo e Ricardo Esgaio (assim tenha uma proposta que seja interessante a título pessoal). O futuro de Paulinho e Rafael Pontelo não estão também certos, sendo que o avançado, ao contrário de Esgaio, tem espaço para permanecer no plantel verde e brancos para 2024/25.
Também a parte das contratações tem avançado, faltando depois definir os timings para anunciar ou fechar negócios. Zeno Debast, central internacional belga de 20 anos que atua no Anderlecht ao lado de um outro jogador que passou pela Primeira Liga (Jan Vertonghen, ex-defesa do Benfica), está “feito” e já se despediu de adeptos e companheiros numa transferência que deverá custar cerca de 18 milhões ao Sporting. Fotis Ioannidis será o próximo, neste caso num possível negócio que ainda está longe da conclusão: existe o interesse dos leões, existe também o interesse do jogador em transferir-se para Alvalade, falta acertar todos os valores da possível contratação do avançado internacional grego do Panathinaikos que não andará por valores muito afastados daqueles que serão investidos em Debast. Ambos estavam há muito identificados.
O próximo dossiê que será depois fechado será o do guarda-redes. Se numa primeira instância haveria uma indicação que apontava para um perfil mais próximo daquele que foi escolhido com Antonio Adán em 2020, numa escolha mais experiente e conhecedora de grandes palcos que não tinha essa necessidade de pensar numa perspetiva de longo prazo, agora tudo aponta para que o Sporting se vire para outro tipo de guardião que, segundo soube o Observador, está identificado e também a ser negociado. Neste particular, ligas como a italiana e a belga deixaram alguns guarda-redes identificados mas o melhor posicionado será um outro nome, internacional, que entrou no radar do scouting verde e branco no decorrer da última época.
Haverá ainda mais duas posições a reforçar e com verdadeiras opções que permitam a equipa dar mais um salto depois da evolução na temporada de 2023/24, estando assim ponderadas as chegadas de outro médio além de Mateus Fernandes (que esteve emprestado ao Estoril mas vai regressar a Alvalade) e de um outro extremo perante a saída de Edwards. Com uma garantia: além de querer introduzir mais nuances na forma de jogar do Sporting, nomeadamente um maior recurso a dois alas de características mais ofensivas com o que se envolve depois em termos de dinâmicas coletivas, Rúben Amorim pretende um grupo com maior número de soluções para assumir a titularidade, não só para salvaguardar o calendário nas fases mais densas como para poder mostrar mais argumentos nas provas internacionais, neste caso na Liga dos Campeões.