– Há jogadores que não tenho dúvidas… Por exemplo, o João Pereira vai ser treinador…
– O João Pereira que está na Turquia…
– Sim, o que está na Turquia, vai ser treinador.
– Está a querer dar alguma notícia ou não?
– Não, só estou a dizer…
A entrevista de Frederico Varandas ao Canal 11 em maio de 2020 foi durante muito tempo recordada pela frase em que o presidente do Sporting dizia “sem dúvidas” que só Matheus Nunes seria suficiente para pagar o investimento que tinha sido feito em Ruben Amorim. No entanto, e recuperando tudo o que disse, houve muito mais traços quase de visionário nessa conversa. Outro exemplo: “Dos treinadores com quem trabalhei, Leonardo Jardim e Jorge Jesus estão lá em cima, no topo. Hoje, não tenho dúvidas que o atual treinador do Sporting só muito dificilmente não estará num dos melhores clubes europeus em três ou quatro anos. Pelos treinos, pela liderança, pela metodologia… Ruben Amorim não é só um treinador competente, é alguém que está completamente em sintonia com a nossa ideia em termos de formação”.
Tudo acabou por confirmar-se. E foi também nessa entrevista há quatro anos e meio que o líder do conjunto de Alvalade falou na possibilidade de João Pereira, que era lateral do Trabzonspor em final de carreira, ser um dia treinador. O antigo internacional ainda voltou ao Sporting para uma terceira passagem como jogador, sagrou-se campeão na última metade da época de 2020/21 e aceitou o desafio de Varandas em assumir um cargo técnico na formação. Começou como adjunto dos Sub-23, assumiu depois o comando principal da equipa, passou na presente época para a formação B numa ótica de subir ao conjunto principal no verão de 2025, que seria também o momento para a saída de Amorim. Tudo acabou por antecipar-se.
À mesma hora em que o treinador viajava com a sua equipa técnica para Manchester, onde teria o dia 1 ao serviço do United, Frederico Varandas voltava a passar a porta 10-A no Hall VIP de Alvalade para apresentar um treinador. A escolha do local, ainda para mais com o auditório Artur Agostinho ali ao lado, quis também ter essa simbologia de um recomeço dentro da continuidade. No entanto, o Frederico Varandas de 2024 era diferente do Frederico Varandas de 2020. Há mais de quatro anos e meio, o presidente leonino queria sobretudo defender a sua escolha, pedindo tempo para que os resultados surgissem de forma natural; agora, apelou apenas à confiança na escolha, mesmo tratando-se de um técnico sem jogos na Primeira Liga.
“Estamos aqui para apresentar João Pereira como novo treinador da equipa principal sete meses antes do planeado. Acaba por ser uma escolha natural mas que teve início há cerca de quatro anos. Conheço o João como jogador há mais de 14 anos, quando era diretor clínico, e sempre demonstrou liderança, caráter e um entendimento do jogo anormal para um jogador. São tudo características teóricas para ser treinador e tinha de o provar para ser treinador. Em 2021 convidámo-lo em janeiro para regressar ao Sporting como jogador e ao mesmo tempo lançámos-lhe o desafio de iniciar uma nova carreira. Começou como adjunto dos Sub-23, depois treinador principal dos Sub-23, depois treinador da equipa B. Nestes três anos e meio foi crescendo como treinador, foi constituindo a sua equipa técnica e convenceu a estrutura de futebol pela sua competência e liderança”, começou por referir o líder leonino na cerimónia de apresentação.
“Quase cinco anos depois estamos nesta sala com o mesmo sentimento. Não tenho muitas dúvidas que daqui a quatro ou cinco anos estará num dos clubes mais poderosos da Europa. Vai encontrar um grupo fabuloso, um capitão fabuloso, e um clube que o vai proteger e vai permitir-lhe crescer. O Sporting encontrou um treinador que vai continuar a fazer o clube crescer. Esta é uma nova/velha equipa técnica, que tem muito o dedo do João, da nossa unidade de performance e que acreditamos que vai dar continuidade ao processo de crescimento do clube”, destacou, antes de responder a algumas questões dos jornalistas presentes no espaço.
“Há uma grande distância entre características teóricas e depois resultar. O João tem caráter, competência e conhecimento do jogo. Agora, tem mais duas características para aceitar este desafio: coragem e muita confiança em si próprio. Graças a Deus que temos este legado mas quem vai aceitar este desafio não entra num clube mal ou que não tem nada a perder. Risco? Alto risco é decidir-nos por algo em que não acreditamos. O risco está exatamente no mesmo. Percebo a estupefação de termos pago dez milhões há cinco anos e agora apostamos num treinador com zero jogos na Primeira Liga. Estou tranquilo com isso, o Sporting e o João também estão tranquilos com isso”, prosseguiu Frederico Varandas sobre a nova aposta.
“A primeira coisa que lhe disse? Não me lembro bem, foi qualquer coisa do género ‘Se calhar vai ser um bocadinho mais cedo’. O contrato será até 2027, tem cláusula de rescisão que é alta. Quando fazemos um contrato, seja com treinador ou jogador, o Sporting tenta defender da melhor forma a sua parte. Nestes quatro anos, quando temos um treinador da qualidade de Ruben Amorim, temos de estar sempre preparados para o que aí vinha. Se deu opinião? No departamento de futebol é tudo simples, todos falamos a mesma linguagem e o Amorim sempre percebeu qual era o nosso projeto. Se há coisa que quer é ser campeão e que o Sporting continue a ganhar”, realçou, colocando mais uma vez o técnico como peça chave de todo o projeto desportivo. Por fim, e sobre mercado, uma frase… sintomática: “Saídas em janeiro? Não posso prometer nada… Se um clube pagar a cláusula e o jogador quiser ir, sai. Se eu acredito, não”.