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Conservar Portugal ou desafiar Portugal? – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Abr 14, 2024

Portugal são os três Fs, Futebol, Fado e Fátima… será só isso? Seria importante olhar para outros setores que também dão cartas e que deveriam servir de inspiração. Vamos falar de um setor que Salazar alimentou e promoveu e ainda lhe permitiu alimentar os cofres.

Já se desfaz o suspense: a indústria conserveira.

Precisamos de força anímica para nos reinventarmos de mais uma névoa de crise que começa a pairar no ar e acima de tudo de inspiração para contornar estes tempos desafiantes. Quando falamos no excedente que temos nos cofres, mais do que despesistas devemos ser investidores nas nossas potencialidades. Pensar no longo prazo. Estamos sempre a contentar-nos com umas décimas acima da média que rapidamente são engolidas pelos terramotos cíclicos das crises económico-financeiras.

Ora, se houve épocas desafiantes a nível mundial foram as épocas das grandes guerras, porém a nossa indústria conserveira capitalizou o melhor da época. Reinventando-se desde então, até aos dias de hoje.  Durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais a indústria conserveira portuguesa foi uma das principais responsáveis pela alimentação dos soldados de ambos os lados.

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Em 1853 o modelo hermético de lacração das latas foi uma revolução na arte de conservar comida, pois o frigorifico doméstico, só foi comercializado na década de 1910. Ou seja, durante 100 anos a conserva foi a tecnologia mais avançada.

Portugal, soube agarrar esta oportunidade, muito fruto da sua localização privilegiada em termos de biodiversidade marinha. Isso acontece por ser próximo do ponto de reprodução de peixes e frutos do mar que percorrem a corrente do Golfo. A esta oportunidade, aliou a tradição da vida do mar com os seus hábitos de consumo. Os portugueses consomem em média 61,5 kg de peixe por habitante, sendo o terceiro país no ranking mundial, dominando a arte de bem preparar peixe.

Um ponto curioso é que não somos os principais consumidores de conservas, há cem anos atrás, a exportação correspondia a 90% da produção. Há 10 anos, Portugal exportava em torno de 65% dos pescados em conserva.

A indústria de conservas em Portugal chegou a ter 400 fábricas a trabalhar simultaneamente. O auge da produção foi no período da Primeira Guerra Mundial, quando a exportação passou de 25.794 toneladas em 1913 para 40.838 toneladas em 1919. Quando os números começaram a diminuir os produtores identificaram um novo mercado que apreciava conservas de qualidade, com mais sofisticação e sabor. Nas décadas seguintes, mesmo mantendo a técnica artesanal de produção, procurou-se um fator distintivo promovendo a seletividade de ingredientes o que resultou em conservas premium.

Da pesca no mar à linha de produção, agora existem criteriosas condições para selecionar os pescados que serão enlatados. Criando novas receitas que além do azeite e do sal, agora levam com temperos especiais, um reinventar do setor.

Ora, o mercado globalizado veio para ficar, e é preciso os países reinventarem-se. Posicionarem-se nesta nova onda que vai surgindo e que levanta novas oportunidades que vão desde a sustentabilidade, à inteligência artificial. Tantos vetores novos, tanta oportunidade que precisamos de agarrar.  Acima de tudo precisamos de fazer acontecer, capitalizar, pôr as mãos na massa! Precisamos de fazer o mesmo que a indústria conserveira, agarrar oportunidades, contornar desafios e vencer num mercado desafiante onde se acredita que há vantagens comparativas se os países assumirem um grau de especialização, pois, acaba por conduzir a uma maior eficiência e a um aumento da qualidade dos produtos. Temos de posicionar Portugal, apontar a bússola e dar passos para seguir viagem e não ficar a morrer na praia.

Desafiar, e avançar para lá dos estudos e mais estudos. Decidir e seguir um rumo, pois já se sabe que o caminho se faz caminhando, não a ficar na beira da estrada à espera de boleia.



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