“Sem qualquer provocação, o Hezbollah, uma organização terrorista reconhecida que controlou o Líbano e é um proxy iraniano, tem atacado cidades e vilas no norte de Israel e também outras partes do país”, denuncia Eytan Gilboa, do think tank Jerusalem Institute for Strategy and Security, ao Observador. O especialista israelita aponta o dedo depois à missão de manutenção de paz no Líbano: “Por mais de um ano, a ineficaz UNIFIL não fez nada para parar esta agressão que não foi provocada”.
As tensões com as Nações Unidas tornaram-se inevitáveis para Israel. Segundo alega Eytan Gilboa, durante as “incursões ao sul do Líbano”, as Forças de Defesa de Israel viram que os militantes do Hezbollah “estavam a usar postos da UNIFIL como esconderijos e locais para fazerem emboscadas”. O especialista israelita é categórico e declara que os capacetes azuis estão “a ajudar o Hezbollah a lutar contra Israel”: “Israel pediu várias vezes à ONU para que isto parasse e deslocasse as suas forças para a parte norte do Líbano, mas sem sucesso”.
Seguidamente, de acordo com Eytan Gilboa, a UNIFIL “não fez nada para prevenir as violações da resolução do Conselho de Segurança 1701 de 2006”, instituída após a Segunda Guerra do Líbano, e para impedir que o Hezbollah “construísse uma infraestrutura militar gigantesca”. Da ótica israelita, aquela missão da manutenção de paz é ineficaz e coloca em causa o direito que o país diz que tem em “defender-se” dos adversários. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Telavive, Israel Katz, destacou no X que o país até vê com bons olhos “as atividades da UNIFIL”, não deixando de ressalvar que a “organização terrorista do Hezbollah usa membros da UNIFIL como escudos humanos, disparando deliberadamente contra os soldados da IDF de localizações perto das posições da UNIFIL”.
The State of Israel places great importance on the activities of @UNIFIL_ and has no intention of harming the organization or its personnel.
Furthermore, Israel views UNIFIL as playing an important role in the “day after” following the war against Hezbollah.
It is the Hezbollah…
— ישראל כ”ץ Israel Katz (@Israel_katz) October 16, 2024
Por sua vez, a UNIFIL rejeita as acusações e assegura vai ficar nas mesmas posições. O porta-voz da força de manutenção de paz, Andrea Tenenti, indicou que havia uma “decisão unânime de ficar” — e de rejeitar o pedido de Benjamin Netanyahu de sair da região — uma vez que “é importante a bandeira da ONU voe alto nesta região e que seja capaz de reportar as situações ao Conselho de Segurança”. A decisão do secretário-geral foi no mesmo sentido: “Os membros da força da UNIFIL devem continuar a exercer o seu mandato”.
Numa entrevista ao El País, Andrea Tenenti atirou a Israel e declarou que não podia ser um “Estado-membro a ditar o destino de uma missão que a comunidade internacional quer [que fique] no Líbano”. “Se o Líbano nos dissesse para nós irmos embora, nós iríamos, porque estamos a pedido do governo libanês. Mas não estamos a pedido das autoridades israelitas. Isso é muito claro. A monitorização é muito importante, ainda que tenhamos uma capacidade muito limitada. Ainda temos 10 mil tropas em 50 partes da linha azul e dentro da área de operações”.
Confrontado com as críticas de Israel, Andrea Tenenti recorda que a UNIFIL não tem poderes suficientes para levar a cabo essas certas operações. “Há áreas a que não podemos aceder. A propriedade privada está fora do nosso alcance. O mandato não permite que as forças entrem em casas para registá-las. Estamos aqui para apoiar o exército libanês. Podemos definitivamente fazer uma parte, mas não tudo.”
Como missão de paz da ONU a UNIFIL tem de seguir três regras basilares: consentimento das partes, imparcialidade e o não uso da força, a não ser autodefesa ou em defesa do mandato. Mas pode recorrer ao “uso proporcional e gradual da força” para proteger civis. Isto significa que a sua atuação não pode imiscuir-se em certos assuntos, como aqueles que dizem apenas respeito ao governo libanês. “Desencadear mais violência não é papel da força de manutenção de paz”, realça Andrea Tenenti. Não existe, para além disso, contacto direto entre o Hezbollah e os capacetes azuis; o intermediário é o executivo de Beirute.