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“Crimes de guerra” e “escudos do Hezbollah”. Capacetes azuis no Líbano no centro do novo embate entre Israel e ONU – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Out 19, 2024

“Sem qualquer provocação, o Hezbollah, uma organização terrorista reconhecida que controlou o Líbano e é um proxy iraniano, tem atacado cidades e vilas no norte de Israel e também outras partes do país”, denuncia Eytan Gilboa, do think tank Jerusalem Institute for Strategy and Security, ao Observador. O especialista israelita aponta o dedo depois à missão de manutenção de paz no Líbano: “Por mais de um ano, a ineficaz UNIFIL não fez nada para parar esta agressão que não foi provocada”.

As tensões com as Nações Unidas tornaram-se inevitáveis para Israel. Segundo alega Eytan Gilboa, durante as “incursões ao sul do Líbano”, as Forças de Defesa de Israel viram que os militantes do Hezbollah “estavam a usar postos da UNIFIL como esconderijos e locais para fazerem emboscadas”. O especialista israelita é categórico e declara que os capacetes azuis estão “a ajudar o Hezbollah a lutar contra Israel”: “Israel pediu várias vezes à ONU para que isto parasse e deslocasse as suas forças para a parte norte do Líbano, mas sem sucesso”.

Seguidamente, de acordo com Eytan Gilboa, a UNIFIL “não fez nada para prevenir as violações da resolução do Conselho de Segurança 1701 de 2006”, instituída após a Segunda Guerra do Líbano, e para impedir que o Hezbollah “construísse uma infraestrutura militar gigantesca”. Da ótica israelita, aquela missão da manutenção de paz é ineficaz e coloca em causa o direito que o país diz que tem em “defender-se” dos adversários. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Telavive, Israel Katz, destacou no X que o país até vê com bons olhos “as atividades da UNIFIL”, não deixando de ressalvar que a “organização terrorista do Hezbollah usa membros da UNIFIL como escudos humanos, disparando deliberadamente contra os soldados da IDF de localizações perto das posições da UNIFIL”. 

Por sua vez, a UNIFIL rejeita as acusações e assegura vai ficar nas mesmas posições. O porta-voz da força de manutenção de paz, Andrea Tenenti, indicou que havia uma “decisão unânime de ficar” — e de rejeitar o pedido de Benjamin Netanyahu de sair da região — uma vez que “é importante a bandeira da ONU voe alto nesta região e que seja capaz de reportar as situações ao Conselho de Segurança”. A decisão do secretário-geral foi no mesmo sentido: “Os membros da força da UNIFIL devem continuar a exercer o seu mandato”.

Numa entrevista ao El País, Andrea Tenenti atirou a Israel e declarou que não podia ser um “Estado-membro a ditar o destino de uma missão que a comunidade internacional quer [que fique] no Líbano”. “Se o Líbano nos dissesse para nós irmos embora, nós iríamos, porque estamos a pedido do governo libanês. Mas não estamos a pedido das autoridades israelitas. Isso é muito claro. A monitorização é muito importante, ainda que tenhamos uma capacidade muito limitada. Ainda temos 10 mil tropas em 50 partes da linha azul e dentro da área de operações”.

Confrontado com as críticas de Israel, Andrea Tenenti recorda que a UNIFIL não tem poderes suficientes para levar a cabo essas certas operações. “Há áreas a que não podemos aceder. A propriedade privada está fora do nosso alcance. O mandato não permite que as forças entrem em casas para registá-las. Estamos aqui para apoiar o exército libanês. Podemos definitivamente fazer uma parte, mas não tudo.”

Como missão de paz da ONU a UNIFIL tem de seguir três regras basilares: consentimento das partes, imparcialidade e o não uso da força, a não ser autodefesa ou em defesa do mandato. Mas pode recorrer ao “uso proporcional e gradual da força” para proteger civis. Isto significa que a sua atuação não pode imiscuir-se em certos assuntos, como aqueles que dizem apenas respeito ao governo libanês. “Desencadear mais violência não é papel da força de manutenção de paz”, realça Andrea Tenenti. Não existe, para além disso, contacto direto entre o Hezbollah e os capacetes azuis; o intermediário é o executivo de Beirute.





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