Há três características que, na ótica do meteorologista do IPMA, potenciaram este efeito mais devastador. O primeiro é a estacionariedade: “A depressão está a ser muito lenta. As linhas de instabilidade que são geradas pela depressão acabam por persistir muito tempo em determinadas zonas.” Ou seja, a precipitação acaba por estar muito concentrada num local especifico.
Outro fator que pode ter contribuído para agravar o problema é a temperatura do Mar Mediterrâneo, diz Bruno Café. Isto porque neste momento a temperatura da superfície do mar está entre um a dois graus acima da média para esta época do ano, segundo explicou José Miguel Viñas também ao El Mundo. “Não é uma anomalia tão significativa como outras épocas do ano, mas sem dúvida contribuiu para mais chuvas”, afirmou. A isso junta-se ainda a humidade elevada.
Ou seja, a DANA que se libertou da massa de ar frio polar, como um balão cheio de ar frio que estivesse a ser soprado em altitude pela superfície quente da Península Ibérica, desceu primeiro pela zona da Galiza/País Basco até ao Mediterrâneo, descarregou nas Baleares, voltou a ‘encher’ no quente Mediterrâneo e estacionou em cima da zona da Valência (e também Granada e Málaga) voltando a ‘abrir-se’ e a causar os estragos que se conhecem.
????????????️ | ÚLTIMA HORA: Las imágenes de satélite que muestran el antes y el después del paso de la DANA en Valencia, España. pic.twitter.com/DXMMPguIsG
— Alerta Mundial (@AlertaMundoNews) October 30, 2024
A má notícia é que já chegou. A boa é que não se prevê a mesma intensidade que em Espanha, diz o meteorologista Bruno Café. Num primeiro comunicado, publicado na terça-feira, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera já tinha avisado para a chegada do fenómeno. Avançava num primeiro comunicado que para este fim de semana prolongado (sexta-feira, dia 1, é feriado), uma região depressionária com expressão em altitude nos dias 2 e 3 iria alterar as condições de estabilidade do tempo.
Esta quarta-feira não só alterou as previsões com colocou vários distritos sob alerta amarelo para chuva intensa. O organismo indicava que a depressão iria afetar Portugal mais diretamente a partir desta tarde e até ao final de sexta-feira. Mas, de forma muito mais leve do que aconteceu em Espanha.
“À medida que a depressão se vai deslocando para oeste vão também diminuindo as condições que poderão dar origem a tempo muito severo”, explica o IPMA. “A situação severa que ocorreu em Espanha está relacionada com fatores locais, mas também com instabilidade elevada, forte conteúdo em vapor de água transportado do mar Mediterrâneo e estacionariedade das bandas de precipitação”, distinguia.
????#InfoIPMA: DANA é acrónimo de Depresión Aislada en Niveles Altos, ou depressão isolada em níveis elevados da troposfera. Utilizam-se também as expressões “Gota Fria”, “Cut Off”, o fenómeno que afeta Espanha e que condiciona o tempo até 2/11???? pic.twitter.com/0fBMfq4TcF
— IPMA (@ipma_pt) October 30, 2024
Para os próximos dias prevê-se “aguaceiros, por vezes fortes”, em especial nas regiões Centro e Sul do país. Doze distritos do continente vão estar esta quarta e quinta-feira sob aviso amarelo.
Nos distritos do Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém, Beja e Faro o aviso vai vigorar entre as 12h00 de hoje e as 00h00 de quinta-feira. Já Viseu, Guarda, Castelo Branco, Portalegre e Évora vão estar sob aviso amarelo entre as 12h00 de hoje e as 00:00 de quinta-feira e depois entre as 12h00 de quinta-feira e as 00h00 de sexta-feira.