A mesma fonte ligada à investigação confirma que aquela casa de Castanheira de Chã era propriedade de um homem de nacionalidade espanhola, conhecido de Fernando Ferreira, e tinha sido comprada há pouco mais de um ano. As pequenas obras ocupavam grande parte dos seus dias do fugitivo de Vale de Judeus, mas Fernando não mantinha propriamente uma vida de reclusão.
Eva (nome fictício) lembra-se de, por diversas vezes, ver o vizinho recém-chegado — que “andava de gorro escuro e fato de treino bege” — ir buscar o pão à carrinha de venda ambulante. E também de o ouvir dizer que, “qualquer coisa de que precisasse, era só bater à porta”.
A chegada inesperada de Fernando à Aldeia não parece ter levantado suspeitas. Nas ruas da aldeia, apenas um dos moradores terá sugerido: “É mesmo parecido com o fugitivo.” Eva diz que as palavras do marido, na festa do São Martinho, foram encaradas como uma brincadeira por ali. E assegura que “nunca ninguém pensou verdadeiramente que fosse o fugitivo, senão tinham telefonado logo para a Guarda”.
Na conferência de imprensa desta sexta-feira, apenas quatro horas depois da detenção, o diretor nacional da Polícia Judiciária destacou o trabalho “silencioso” e de “filigrana” que os inspetores foram fazendo ao longo dos últimos dois meses e meio para recapturar Fernando Ferreira (já depois de Fábio Loureiro, o outro português em fuga, ter sido apanhado em Marrocos). Depois de duas semanas de vigilância próxima, a Polícia Judiciária decidiu avançar.
O Observador sabe que o mandado de detenção em nome de Fernando Ferreira foi pedido três dias antes. Nessa última fase da investigação, conta fonte da PJ, os inspetores recolheram provas que não deixaram margem para dúvidas: o fugitivo de Vale de Judeus, o segundo português em fuga, estava armado.
Armas com silenciador, binóculos de visão noturna e bloqueador de sinal móvel. O material que a PJ recolheu na captura de Fernando Ferreira
Perto das sete da manhã desta sexta-feira, quando a Polícia Judiciária e o grupo de operações especiais da GNR finalmente arrombaram o portão verde, encontraram Fernando Ferreira sozinho. Dos cinco presos que escaparam da prisão de alta segurança, era indicado como um elemento que se juntou ao plano de fuga por mero acaso. Mas na casa em que passou as últimas duas semanas, em Trás os Montes, o fugitivo tinha consigo material que demonstrava um “elevado grau de preparação e de cuidado” e que as autoridades acreditam ter sido utilizado no dia da fuga, em conjunto com Fábio Loureiro, Rodolf Lohrmann, Mark Roscaleer e georgiano Shergili Farjiani: duas armas de 9mm com silenciador, munições, vários walkie-talkies, um aparelho para bloquear sinais de comunicações e ainda uns binóculos de visão noturna e de longo alcance.