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“É fácil criar uma instituição cultural e esperar que aconteça magia, mas não funciona” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jul 4, 2024

O imponente edifício ondulante e metálico na margem do rio Nervión, em Bilbau, ainda não existia e Juan Ignacio Vidarte já trabalhava para que a obra de titânio de Frank Gehry se erguesse. Em 1992, liderou o consórcio que coordenou a construção do Museu Guggenheim Bilbao, um museu que redefiniu a identidade desta cidade basca, periférica no norte de Espanha, e criou um verdadeiro case study do poder do turismo cultural. Há quem lhe chame “efeito Bilbau” ou “efeito Guggenheim”.

Desde que o museu foi inaugurado, em outubro de 1997, que Juan Ignacio Vidarte é o seu diretor, um cargo que vai deixar dentro de meses, numa altura em que a instituição bate um recorde histórico de visitantes. Foram mais 1,3 milhões em 2023.

Em entrevista, Juan Ignacio Vidarte fala dos perigos inerentes à turistificação das cidades, da ambição falhada de mostrar Guernica no País Basco e do poder transformador da cultura: “este museu é uma prova disso”, atesta. Aborda, também, o destaque dado aos artistas portugueses — que não estão representados na coleção do Guggenheim Bilbau — nestas quase três décadas de museu. Em 2025, está prevista uma grande exposição dedicada à pintora Vieira da Silva. É apenas a segunda artista portuguesa a mostrar-se no museu basco, depois de Joana Vasconcelos, em 2018. A mostra de Vieira da Silva, Anatomy of Space, inaugura a 17 de outubro do próximo ano e prolonga-se até 22 de fevereiro de 2026.

Há 30 anos, quando surgiu a ideia de criar mais um museu Guggenheim, Bilbau não era Nova Iorque ou Veneza. Como descreve a cidade na época?
Era uma cidade muito diferente, que vivia tempos difíceis. Estava no meio de uma importante recessão económica devido ao declínio da economia ligada a indústria e à construção civil. Era um momento de convulsão social, havia muito desemprego, violência política. Era uma cidade que já tinha visto melhores dias. Era uma cidade ativa, não era uma cidade morta, mas que estava a passar por um momento muito duro, provavelmente a enfrentar uma crise de identidade e a tentar encontrar formas de mudar para garantir um futuro.

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O plano do governo basco de criar um museu pago pelo erário público num período de crise industrial não foi pacífico. Fazer um investimento avultado na arte, num museu, gerou contestação.
Claro.

A resistência foi ultrapassada ou ainda restam críticos?
Nessa altura a crítica tinha muitas camadas. Mais do que crítica, havia muito cepticismo. Muito disso desapareceu. Era uma ideia disruptiva na época, a de que a cultura podia não ser só um ativo em si, mas também um instrumento de transformação. A ideia de que a cultura e uma instituição cultural podia desempenhar um papel num processo de transformação foi criticada e era olhada com cepticismo porque não havia muitos exemplos de onde isso tivesse acontecido. A crítica ou o cepticismo com base nisso desapareceu. Hoje é claro que o museu desempenhou o papel para o qual foi imaginado, talvez até maior e mais rápido do que se pensava.

Mas não era a única crítica.
Sim, também havia críticas sobre o modelo de museu, e provavelmente essa continua a existir. Havia esta crítica ideológica ao museu. Na Europa os museus públicos não nascem de um acordo com uma instituição estrangeira (a Solomon R. Guggenheim Foundation), neste caso uma instituição sem fins lucrativos, em vez de uma instituição ou fundação pública.

Porquê fazer um museu com raízes em Bilbau, com uma conexão profunda com a vida cultural de Bilbau, mas que não é um museu nacional basco? Um museu que não se baseia no facto de o programa ou a coleção serem maioritariamente baseados em artistas bascos ou espanhóis, mas num museu cuja ambição era concentrar-se em oferecer uma experiência aos visitantes vindos de todo o mundo desta ligação entre a arte do século XX e XXI num contexto arquitetónico muito especial. Havia pessoas que não gostavam dessa ideia então e que podem não gostar dessa ideia agora. Talvez esses continuem a ser críticos. Mas, no geral, o museu, que na altura do seu nascimento era certamente um projeto muito controverso, agora é muito apoiado e aclamado.



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