Ainda durante a apresentação do livro, Moedas afirmou que é movido pelos sonhos e que nunca teve medo de correr riscos — mas sem nunca fazer grandes planos sobre o futuro. “Quem me conhece pensa que não arrisco. A minha vida tem sido sempre o contrário: tomar enormes riscos. Não tive medo de sonhar. Os sonhos só se constroem passo a passo. O sonho é o dia a dia. O sonho é levantar-se de manhã, ver que o senhor Presidente da República tem um buraco à porta de casa e mandar tapar esse buraco”, brincou Moedas.
De seguida, Sebastião Bugalho perguntou então se estaria Carlos Moedas disposto a correr o risco de ser recandidato à Câmara Municipal de Lisboa. Moedas driblou a questão, mas deixou uma pista. “É uma pergunta completamente fora do contexto. Nunca fui aquilo que pensei que seria. Nunca imaginei ser comissário europeu. Quando comecei, não sabia se ia gostar de ser presidente da Câmara. Este livro mostra que estou a gostar muito.”
Ainda assim, foi Marcelo Rebelo de Sousa quem tentou descortinar o futuro de Carlos Moedas. O Presidente da República aceitou fazer uma breve intervenção na apresentação do livro do autarca, a quem dedicou rasgados elogios. “é um dos políticos mais sofisticados da cena nacional”. “Começou com uma ligação às raízes, transformou-se num estrangeirado e regressou às raízes. E funde [as duas dimensões], o que é muito raro na política portuguesa. É uma síntese muito rara entre estas duas linhagens.”
Marcelo disse ainda esperar “viver o suficiente” para ver até onde pode chegar o presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Fazendo a comparação com apresentação do livro de Manuel Alegre, onde se percebia que a meta do “poeta” era o “firmamento”, o Presidente da República assumiu não saber ainda qual era a verdadeira meta de Moedas. Mas diz ter encontrado uma pista na obra do autarca: o facto de prefácio ser assinado por Emmanuel Macron, Presidente de França.
“[Carlos Moedas] ainda está longe o firmamento, mas está relativamente próxima uma meta ainda que longínqua. E isso é c na escolha do prefaciador. Ficamos a saber”, despediu-se Marcelo, parecendo lançar Moedas para uma futura candidatura à Presidência da República
Não faltaram figuras de peso, como Aníbal Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa, mas também vários elementos do Governo, como António Leitão Amaro, Nuno Melo, Miguel Pinto Luz, Pedro Reis, Margarida Balseiro Lopes ou Ana Paula Martins, políticos como Manuela Ferreira Leite, Carmona Rodrigues ou Isaltino Morais, figuras da sociedade civil, como Rui Valério, patriarca de Lisboa, e das artes e do espetáculo, como Rui Massena, que protagonizou um momento musical, Tony Carreiras, Manuel Luís Goucha, Lili Caneças, Luís de Matos, André Sardet ou Luís Represas.
No livro, Moedas explica o seu percurso de Beja até à Comissão Europeia e como foi depois desafiado pela direção de Rui Rio a ser candidato do PSD à Câmara Municipal de Lisboa. Os bastidores dessa decisão, a campanha feita sem dinheiro e sem recursos, os ataques que diz ter sofrido por parte da bolha político-mediática e a descrença generalizada na sua capacidade de vencer aquelas eleições também são passados em revista ao longo das primeiras páginas do livro.
“No último dia de campanha eleitoral, Fernando Medina tinha conseguido todas as câmaras de televisão, que transmitiram a ação de campanha do PS em direto. Mas, quando eu chego para fazer a arruada, duas horas depois, só havia uma câmara e um jornalista da SIC, que me fez uma breve entrevista de dois minutos, e logo partiu. Descemos o Chiado sem qualquer visibilidade mediática. Aquilo doeu-me. Quando oiço ou leio algumas análises sobre as razões da nossa vitória, as quais alvitram que foi o incumbente a perder ou a abstenção a vencer, sei bem que não têm razão”, reflete.
“A verdade é que venci com as pessoas, apesar de tudo e de todos os vaticínios mediático-partidários. Não havia dinheiro, não havia presença dos média, não tinha comissão de honra como tal (tinha 40 nomes, enquanto Fernando Medina tinha o establishment todo). Ou seja, venci sem a bolha. Mas havia algo que tinha passado para as pessoas: o genuíno compromisso de que estava a fazer uma campanha com o objetivo de as servir e de contribuir para melhorar as suas vidas. E isso, que é muito, é algo politicamente decisivo e que tem faltado nos últimos embates eleitorais entre nós.”
A tensão com a troika, a mágoa na campanha contra Medina e a solidão durante a JMJ. O novo livro de Moedas