A antiga líder do Bloco de Esquerda Catarina Martins, agora candidata do partido às eleições europeias, considera que o PSD tem vindo a seguir uma “estratégia de vitimização” desde as legislativas de março. “O governo está muito empenhado em tentar provar que tem obstáculos, mais do que está empenhado em criar soluções”, afirmou esta quinta-feira em entrevista à CNN.
“Nota-se na forma com não faz negociação, na forma como tenta encontrar culpados, até fora do arco da governação”, começou por dizer sobre os primeiros meses de governação do PSD. “Nota-se também agora no complemento Solidário para Idosos”, acrescentou, num dia em que o Governo aprovou o aumento do valor de referência para 600 euros já em junho. “O partido só anuncia a medida quando sabe que o Parlamento a vai aprovar”, criticou.
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“Decidiu avançar, em vez de ser forçado pelo Parlamento, porque enfim, a proposta do BE já lá estava, a do PS já lá estava com condições para ser aprovada e eu acho que talvez tenha pensado que estava na altura de ficar menos zangado com um parlamento que na verdade está a aprovar, sem o PSD, as próprias promessas que o PSD fez na campanha eleitoral”, avaliou.
Temos o PSD a dizer: ‘Que horror, a oposição é terrível, obriga-nos a aprovar as propostas que nós prometemos na campanha, mas pelos vistos não estávamos a pensar em cumprir.”
Sobre as votações do PS e do Chega no mesmo sentido, classificadas pelo Governo como “coligações negativas”, Catarina Martins defendeu que “as coligações são positivas quando servem os interesses do país”. Questionada sobre a hipótese de os socialistas usarem o Chega para atingir Governo, considerou que o partido é desse ponto de vista “bastante inútil”. “Pode ter uma posição hoje e outra no dia seguinte (…). Já se sabe que com aquele partido não se pode contar para nada.”
Durante a entrevista Catarina Martins também comentou as recentes palavras do Presidente da República sobre as reparações às ex-colónias. “Levantou um tema justo da forma errada”, sublinhou a bloquista, defendendo que é necessário discutir este tema com “serenidade”.
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A antiga líder do BE disse que “Portugal já fez reparações históricas”, exemplificando com o caso dos judeus sefarditas, e apontou que estas são uma “tendência” em toda a Europa. “Há tanta reparação para fazer até no próprio território nacional, para que toda a gente tenha condições de vida”, indicou, lembrando aqueles que vieram para Portugal durante o período de descolonização.
“Não acho que Portugal precise de uma reconciliação [com as ex-colónias]. Há problemas, desequilíbrios, desigualdades, que é preciso abordar e reagir sobre elas. Não acho mal que haja processos, como há noutros países da União Europeia, por exemplo, em que se juntam estudiosos da cultura, da arqueologia, da museologia de vários países. E tentam perceber quais são os objetos culturais que estão num país ou noutro e deviam estar nos seus países da origem”, referiu.
No panorama europeu, Catarina Martins alertou para um problema um grave problema de credibilidade da União Europeia. “Têm critérios diferentes para situações parecidas”, criticou ao ser questionado o que está a falhar na Europa e a levar ao afastamento de países africanos — esta quinta-feira foi noticiado um acordo militar entre São Tomé e Príncipe e a Rússia.
“É óbvio que a invasão da Ucrânia pela Rússia é inaceitável. E a União Europeia esteve bem quando o disse e quando impôs sanções à Rússia. Mas depois quando vemos o que está a acontecer com a Palestina e com a Faixa de Gaza, em que a União Europeia nunca impôs uma sanção a Israel”, apontou. Para Catarina Martins, à falta de credibilidade internacional, entra-se em situações em que “só vale o dinheiro”.
“Se a União Europeia não é o aliado com que se pode contar e que sabe de que lado está, então valores como direitos humanos ou o direito internacional deixam de valer. E tudo o que vale depois são acordos comerciais, financeiros, etc. E isso é errado“, vincou.
A propósito das eleições europeias, a candidata do BE disse estar “bastante confiante” num resultado positivo, apesar de admitir preocupações quanto a um possível crescimento da extrema-direita. “Caro que o resultado da extrema-direita em Portugal e no resto da europa preocupa toda a esquerda. Diria até mais do que a esquerda, qualquer pessoa que ache que os direitos humanos são uma coisa boa e que perceba que a política de virar uns contra os outros não traz nada de bom para ninguém”, afirmou. A bloquista reconheceu que o partido espera conseguir manter os dois deputados no Parlamento Europeu, mas acrescentou que o objetivo é ter o melhor resultado possível.