A apresentação de “Memórias Minhas” juntou amigos e companheiros de Alegre de décadas, incluindo no palco. A Guilherme d’Oliveira Martins coube recordar alguns episódios da vida de Alegre, das suas “memórias vivas e intensas” — incluindo o momento em que escreveu “Trova do vento que passa”, depois de ser “perseguido por dois pides” em Coimbra — às “recordações tocantes” ao lado de Mário Soares, incluindo os anos finais de vida deste, durante os quais ambos fizeram as pazes.
Isabel Soares também recordou a relação dos pais com Alegre e as visitas diárias a sua casa; a forma como ouviam clandestinamente a voz do socialista na rádio, a partir do seu exílio em Argel a “anunciar o que se passava neste país e mundo, sem medo e sem censura”; os agradecimentos que Alegre fazia a Soares — “o que seria da minha geração” sem a sua “atitude antifascista” –; a forma como o facto de Alegre ser um “excelente tribuno” ajudou nos grandes comícios durante o PREC; e por fim a “separação” entre os dois, quando decidiram candidatar-se à Presidência da República ao mesmo tempo (em 2006).
“Toda a família foi radicalmente contra a sua apresentação”, disse Isabel Soares sobre a decisão do pai, rematando: “Eu sempre defendi que foram ambos enganados” (e a sala riu-se). “Partilharam décadas de combates e cumplicidade. O que os uniu foi sempre mais importante do que os dividiu”. Como Alegre conta no livro, em 2013, quando Soares “adoeceu gravemente”, pôs o desentendimento de lado e, recordou Isabel Soares, “foi o primeiro a ligar com ternura e preocupação” — a amizade seria “retomada” e ainda organizaram a famosa conferência das esquerdas, na Aula Magna, juntos.
A Jaime Gama coube, segundo a análise do Presidente da República (que não resistiu a comentar rapidamente cada uma das intervenções), a intervenção mais “sofisticada” e cheia de ironia (“exagera a dizer que não é amado pela crítica, ele que tem tido tantos prémios e doutoramentos Honoris Causa”, atirou Gama).
“Com razão, [Alegre] pensa que contribuiu, e de maneira decisiva com a criação de uma cultura de resistência e de valores, para o 25 Abril. É um homem da História de Portugal“, disparou Gama, numa intervenção contra a “desconstrução da História” e com elogios a Alegre por “nunca se deixar dissolver na anti-História de Portugal” nem ceder na questão dos Descobrimentos.
Por Gama, Alegre foi retratado assim: “Um progressista, mas também um conservador de bom gosto“, que gosta de “tiro, pesca, caça, mulheres” e não deixa de “revelar essa contradição, resolvida ou não resolvida”. Um “radical”, mas que está sempre norteado pela “necessidade de uma reconciliação e de paz”. E um homem que conserva o “amor ao país, à pátria, e à língua e à poesia”. A sala pareceu concordar.